Arejando Novos Ares

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O barulho da porta sendo abalroada não pareceu despertar a atenção de alguém, apesar do reflexo das luzes que cruzavam as grandes janelas de vidro indicarem que a casa dos Thompsons estava acordada.

Mas o alcance dos feixes de luz foram suficientes para captar a escuridão dos olhos de Alana Baker. As vistas franzidas contornaram a sombra parada em frente à grande porta branca.

O som de seus passos miseravelmente sorrateiros trouxeram o interesse da imensidão azul naquele olhar indagado.

- Posso ajudar? - As mãos buscavam pela chave dentro do bolso enquanto os olhos fitavam Franklin da cabeça aos pés.

- Estou aqui para levar Serena à festa do McRight.

A jovialidade de Alana desapareceu entre as carquilhas que lhe tomaram a face de imediato, não pôde desviar as vistas do sorriso triunfante nos lábios de Harris nem mesmo quando Rosa abriu a porta.

Os passos lentos porta a dentro impediram que suas pernas se machucassem quando colidiram contra a cadeira de estofado cinza.

- Andou bebendo?

- Deixou a Serena sair para uma festa? - Andrew voltou a erguer os olhos sem aparente interesse em fazê-lo - Com esse cara? Quem é esse cara?

Alana recompôs os ombros eretos após esfregar o rosto disfarçadamente quando a sinfonia de sussurros reverberou entre os homens de terno e gravata sentados à mesa.

- Você está atrasada. - Agarrou uma pilha de papéis com as mãos rugosas e despencou-a próximo a Alana enquanto a mesma ajeitava-se sobre o assento.

Andrew notou a inquietação nos dedos da filha, mas manteve suas vistas presas contra os papéis em mãos.

- Você está maravilhosa.

A morena virou-se imediatamente buscando a efígie franzina que descia as escadas com destreza. Era como se os pequenos pés revestidos pelo salto branco flutuassem sobre o piso.

Esfregou as pálpebras vertiginosamente quando sentiu-se ludibriada pela imagem de um anjo. Entretanto, não era difícil que sua mente se equivocasse diante aquela pele clara e os fios dourados dentro do vestido branco rente ao corpo.

- Muito obrigada! - O sorriso tomava a pequena face levemente maquiada - Pronto?

Andrew estava concentrado demais nos papéis que segurava entre os dedos grossos, o suficiente para não se interessar pelo dessossego que vinha da cadeira de Alana.

- Você não vai deixar ela sair vestida assim... Ou vai?

As pupilas de cor jaspe se ergueram cansadas mas a dobra no canto das vistas difundiram sua curiosidade.

- Serena, venha aqui. - Andrew expeliu de maneira rude, atraindo os passos ligeiros da filha - Que roupa é essa?

- É prada, papai. Gostou? - Serena ignorou o semblante contrafeito do pai enquanto suas mãos alisavam o tecido sobre o corpo.

- Prada não fabrica vestidos maiores? - Ergueu a cabeça após ajeitar os óculos sobre o nariz.

Nem mesmo a risada doce da filha lhe tirou a rigidez da face. Serena esperou em silêncio com um sorriso lascivo, na esperança de que a expressão de Andrew se abrisse.

Mas não aconteceu.

- Vá trocar de roupa. - Ordenou.

- Oh, papai - Gargalhou outra vez - ainda falta meu casaco, não estou pronta.

- Então vá pegar o seu casaco.

A loira acenou com a cabeça antes de seus pés serelepes levarem seu corpo escada a cima. Enquanto isso as vistas de Andrew Thompson titubearam entre o papel em suas mãos e a figura resfolegada do rapaz próximo aos degraus do cômodo ao lado.

- Você, - Franklin estava inerte com os olhos presos no relógio dourado do pulso direito quando a voz robusta do homem grisalho lhe despertou - venha aqui.

Sem hesitar, Harris caminhou em passos largos até estar absolvido pela atmosfera intimidadora do senhor Thompson. A expressão incerta no rosto alimentava a satisfação de Alana.

- Está bêbado?

- Não, senhor.

- Vai beber hoje? - O olhar invasivo percorreu Franklin com repreensão.

- Não, senhor.

Apesar das pernas bambas, Harris segurou sua postura ereta e manteve a voz constante. Mas o brilho estarrecido das íris azuis não passou despercebido pela morena.

- Veja bem, rapaz - Andrew ajeitou-se sobre a cadeira com demora antes que seu pigarro ecoasse pelo silêncio preso entre aquelas paredes compridas  - essa mesa está cheia de advogados que me ajudariam a esconder seu corpo sem hesitar caso fosse necessário. Acha que eu não te mataria se acontecesse algo com minha filha?

O semblante confiante de Franklin deu espaço para uma cor pálida, apesar de sua pele extremamente alva era possível notar a diferença quando seus lábios apinhados se tornaram brancos. Acenar a cabeça lhe foi o único movimento possível enquanto a gravidade parecia empalhar seu corpo.

- Estamos conversados.

Dez minutos. Levou apenas dez minutos para que Serena Thompson descesse as escadas com pressa, seus passos não foram submergidos pela atmosfera maciça que encobria a sala de jantar. Seus braços miúdos entrelaçaram ao redor de Franklin o puxando porta à fora afim de que o casaco transparente não captasse a atenção de seu pai.

- Você viu isso? - Alana inspirou o ar impacientemente tentando quebrar a taciturnidade daquele ambiente - Eu não confio naquele moleque, não me diga que você sim.

Aguardou uma resposta do homem grisalho mas não ouviu um ruído se quer.

- Você precisa que eu ajude nesses papéis hoje?

Por mais que sentisse estar em um monólogo, suas vistas captaram o menor sinal vindo dos dedos de Andrew antes que levantasse da cadeira bruscamente.

Enquanto ele indagou-se silenciosamente quantos passos existiam entre a sala de jantar e a porta, podia jurar que fizera aquele trajeto dentro de vinte e quatro. Mas Alana o fez em onze.

Alceou o olhar cansado em direção ao resquício de fragrância deixado para trás pela filha de cabelos castanhos e sorriu.

O Verão Em White Lake CityOnde histórias criam vida. Descubra agora