As pálpebras carregadas pela maquiagem marcante destacou as vistas caramelizadas e concentradas sobre o reflexo do espelho. Carquilhou ao redor dos olhos exprobrando os cílios postiços, considerou-os extravagantes mas necessários se tratando do comportamento desinteressado de Franklin naquelas últimas semanas.
Semanas essas que, por ventura, foram tão longas quanto a ausência de Alana. Outra vez.
Existia uma neblina que emergia daqueles olhos castanhos sempre que eles cruzavam a mente de Serena, quiçá fosse a maneira como as sobrancelhas desalinhadas da ex irmã se curvavam quando o olhar incisivo lhe fitava despretensiosamente. E sem pudor.
O apedeutismo dos pensamentos nublados deixava-a inquieta.
Admirou as curvas do próprio corpo do vestido de cetim vermelho, gostava do contraste que irradiava contra a epiderme branca, tanto quanto a neve de Muscow Creek. Seus olhos arregalaram e os passos curtos correram até a porta quando a campainha alardeou por entre as vastas paredes da residência Thompson.
- Olá, querida. - Franklin tomou as mãos miúdas de Serena contra seus lábios antes de a rodopiar - Você está deslumbrante, como sempre.
- Obrigada, Franklin.
Encolheu o ombro ao sorrir enquanto seus dedos se desvencilhavam da mão tenra que antes a segurava. Buscou o olhar curioso de Harris que se escondia dentre o refego da pele ao redor, apesar de inquieto, as vistas de anil lhe causaram calafrio quando o cheiro amargo espicaçou o nariz milimetricamente esmerado de Serena.
- Eu sinto cheiro de queimado.
Os passos desordenados da loira correram por entre os corredores de paredes áridas e compridas antes que Franklin pudesse concluir. Espalmando as mãos delicadas contra as quinas ásperas encontrou a cozinha e uma imensidão de fumaça escura como o breu daquela noite. Suspirou desgostosa ao encontrar o rocambole tostado e soltou a bandeja sobre o fogão, expelindo através dos dedos miúdos sua frustração.
- Como queimou?! Não era só tirar do plástico e colocar no forno? - Exclamou contra si mesma, sem perceber que se fez ser audível.
- Eu achei que você tinha feito.
- Ah não, querido Frank. Eu não cozinho.
A naturalidade com que Serena respondeu lhe fez prender os lábios tentando esconder o sorriso súbito. Mas falhou miseravelmente.
Desviou o olhar apertado pela face franzida e encontrou os ornamentos do jardim cintilando contra a luz das estrelas, que iluminavam a passarela de pedras cinzentas por onde caminhou ao lado de Serena.
Franklin era de fato dos garotos em Conrad Bleu Liberty High, sua atenção contornava a luz que reluzia contra as folhas verdes, podadas de acordo como se fossem uma bela sinfonia. Era o brilho da lua que refletia sobre a mansão Thompson, criando uma sincronização luminária com os fios de luminescência que envolviam os troncos das árvores.
Enquanto seus passos percorriam paralelamente à beira de mármore da piscina, Serena admirava os detalhes minuciosos do colete beige que cobria a camisa de linho preta de Harris. O par de Magnannis em seus pés aparamentavam a calça social rente as pernas finas.
Franklin Harris lhe lembrava um daqueles modelos de suas revistas, ou talvez fosse o príncipe que resgatou a princesa de seu livro favorito. Aquele que seus pais liam toda noite quando ainda tinha medo de dormir sozinha. Por isso se deleitava sempre que o ouvia falar sobre arte, remotamente concitava o sentimento mais puro e aconchegante: o de casa.
- Serena? - Seus lábios denunciaram o sorriso - Você está sempre no mundo da lua, não é?
Serena arcou tanto as bochechas que não pôde se conter e mordeu a ponta da língua, seu rosto afogueou indesejadamente.
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O Verão Em White Lake City
RomanceSerena Thompson é uma típica cheerleader superficial, rica e socialmente bem sucedida no colégio Conrad Bleu Liberty High em White Lake City. Mas naquele verão de 1995, Serena descobriu que tentar controlar o destino poderia acabar eventualmente mu...