Verdades Incertas

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O fim do dia chegou sorrateiramente, o sol havia se posto e as estrelas iluminavam o céu escuro. Normalmente as horas remanchavam-se quando Serena estava ansiosa, mas naquele domingo o tempo parecia ter passado depressa.

Apesar de Andrew nem sempre poder estar perto da filha, nos poucos momentos que seu trabalho lhe permitia tal feito gostava de mima-la.

Por essa razão, levou-a ao seu restaurante favorito desde criança, onde costumavam ir com Rachel. A noite estava agradável, nem mesmo houve desentendimentos entre Alana e Serena como era de praxe.

Com a mesma fugacidade que a lua trouxe o cair da noite, o jantar também estava findado. Entre risadas e conversas descontraídas encontraram o caminho de volta para casa.

Já era tarde da noite, mas o sono ainda não havia sondado a mente de Serena; que após banhar-se, vestiu um conjunto curto de seda e destinou-se à sala de televisão escadas abaixo.

- Eu não acredito que eles passam notícia a essa hora da noite! - Serena resmungou após sentar-se no sofá.

Alana a fitou descomposta pela surpresa em vê-la ainda acordada. O mogno de seu olhar percorreu os detalhes da seda daquela blusa de alça fina antes de se prenderem nas coxas esquadrinhadas pelo short de tamanho reduzido.

O sorriso em seus lábios pelo comentário de Serena se esvaneceu lentamente enquanto sua garganta seca perscrutava por uma gota de saliva.

- Cadê o controle? Quero assistir Cartoon Network.

A morena inspirou o ar com dificuldade, suas mãos buscaram consternadamente pelo controle ao seu redor; entregando-o desajeitadamente nas mãos macias de Serena.

E aquele foi o único adjetivo que conseguiu pensar ao tocar sua pele tão clara.

Endireitou-se sobre o assento e pigarreou, mantendo as costas eretas vagamente encostadas contra o tecido do sofá.

Era como se, naquele momento, houvesse desaprendido subitamente como se comportar ao redor da loira. O que lhe causava nervosismo pela insipiência da sensação em questão.

Ainda que seus corpos estivessem distantes, já que cada uma ocupava uma extremidade do sofá, era como se a ardência que emanava da presença de Serena a queimasse indiscretamente.

- Eu não sei como você consegue passar tanto tempo assistindo jornal.

A voz alentadora de Serena despertou Alana de seus conflitos internos, que ainda mantinha os olhos na televisão.

- E eu não sei como você consegue passar tanto tempo assistindo desenho. - Serena sorriu de suas palavras e Alana a olhou pelo canto do olho - Não está um pouco velha para isso?

- O que disse?

As mãos miúdas de Serena estapearam o ombro da morena, que encolheu-o em reflexo enquanto ria minuciosamente  pelo horário tardio.

- Sabe... - A pausa de Serena captou a atenção de Alana - Eu gostei de termos ido todos juntos hoje.

Aquelas íris escuras não costumavam ser frígidas, entretanto, pela primeira vez se encontravam inexpressivas.

Alana não sabia o que responder e a ausência de palavras coincidentemente lhe desarraigava o ar também.

Seus dentes cintilaram apesar da curvatura lânguida dos lábios e ainda que tentasse arduamente não entregar sua fraqueza, seus olhos desviaram dos de Serena.

Mas Serena estava inerte demais em seus pensamentos para processar o que aquelas reações incomuns representavam de fato.

- O que quer me perguntar? - Alana parecia convicta dentro de sua suposição.

O Verão Em White Lake CityOnde histórias criam vida. Descubra agora