Você De Novo?

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White Lake City entardeceu pacata naquela segunda feira de abril. Somente o canto dos pássaros acompanhavam os passos de Serena debaixo daquele sol escaldante durante a caminhada de volta para casa.

Respirou aliviada ao finalmente fechar a porta e reconhecer naquelas paredes revestidas de azul gelo seu lar.

Se desfez de seus materiais cor de rosa sobre a primeira estante posicionada no corredor da porta pela qual entrara.

- Papai? Você tá em ca...

Calou-se imediatamente ao entrar na cozinha e rever aqueles fios compridos completamente desalinhados entre imprescindíveis tons de castanhos.

Não precisava enxergar os olhos escondidos debaixo da aba do boné preto para se recordar do descontentamento em ver aquele olhar.

Não pôde conter o incômodo que traçou em sua feição e, se tratando de Alana, não se importava em esconder seu desprazer.

- Filhinha.

A voz saiu abafada pelo pedaço de pão que estava preenchendo suas bochechas no momento em que Serena a encontrara. Alana tentou inibir a risada forçando seus dentes cortarem o alimento.

- O que você está fazendo aqui?

Normalmente Serena costumava ser uma pessoa sutil, sua clemência era o motivo de soar angelical corriqueiramente. Mas não era surpresa que a morena conseguia despertar um comportamento amargo nela desde quando Andrew ingressou em um segundo casamento com a mãe da Alana.

A relação não passou de cinco anos e ainda assim, após o divórcio, para Serena continuava sendo um tormento encontrá-la esporadicamente.

Alana tinha a pele bronzeada e os cabelos manchados pelo sol devido ao clima ensolarado incessante do campus universitário de Orange North.

Seu rosto vivia corado pela insolação, o que combinava gradativamente com o acerejado de seus lábios compridos e de pouca expessura. O queixo mais avantajado quebrava os traços airosos que desciam dos olhos para o nariz, mas caia como uma luva para o estilo mais grosseiro de Alana.

Roupas mais largas e despojadas além do habitual boné de aba curvada sobre a cabeça. A sombra lhe escondia os olhos grandes e castanhos sombreados por um quase imperceptível amarelo nas íris.

Para Serena era um alívio não precisar encará-los já que sempre se encontravam escondidos pela sombra do boné, normalmente eles se semicerravam junto a um sorriso de lábios fechados que lhe causava cólera.

Nem mesmo a covinha localizada apenas no canto direito da boca era capaz de amenizar o desconforto da menina de fios flavos.

Serena e Alana costumavam viver numa guerra fria sempre que cruzavam o caminho uma da outra, mesmo quando ainda costumavam dividir a mesma casa. Serena sempre mais ríspida e prepotente e Alana retribuía com o velho flauteio.

Depois do divórcio, Andrew passou a não se queixar mais pelas desavenças, pois sabia que elas estariam eternamente ligadas pelo laço que desenvolveu com Alana durante seu segundo casamento.

Por algumas vezes até se divertia com o descômodo que as duas eram capazes de criar prementemente a troco de nada.

O silêncio permaneceu entre as duas e Alana sentiu o pedaço de pão escorregar com dificuldade pela sua garganta devido ao tamanho protuberante, prendeu seus dedos ao redor do copo d'água e bebericou. O organismo clamava por ajuda para engolir sua gula.

- Perdão, você está esperando uma resposta?

- Normalmente quando faço uma pergunta, sim, estou esperando uma resposta. - Serena franziu a testa e cruzou seus finos braços alvos debaixo de seus seios medianos.

- Vim visitar você. - Alana sorriu passando a língua sobre os dentes, ocupou sua boca com outro gole d'água e estalou os lábios - Sentiu saudade? - Suas mãos envolviam o copo enquanto os olhos envolviam Serena.

- Nem no meu pior pesadelo! - Uma risada satírica abandonou a boca de Serena antes de presenciar os lábios de Alana se fecharem naquele sorriso soberbo - Bom, se veio ver o meu - Destacou a última palavra com a voz tenaz e Alana prendeu o riso para não cuspir o líquido em sua boca. - pai, aparentemente ele não está. Pode ir e voltar outra hora. - Estendeu o torso por cima do balcão que ficava localizado no centro da cozinha e mordiscou um pedaço do sanduíche antes de colocá-lo de volta sobre o prato.

- Achei que você só comia salada.

Alana adorava travar aquela desavença interminável com Serena pois sempre conseguia vence-la pela neurastenia.

E novamente o semblante contorcido de Serena alimentava seu sorriso enfartado.

- Agradeço seu convite mas vou esperá-lo bem - soltou seu dedo indicador do copo e girou-o em direção a saída da cozinha que guiava diretamente para a sala de televisão - ali. - Levantou-se detidamente, ajeitou o boné e murmurou ao passar por Serena - Te vejo por aí, barbie.

Serena tentou conter a ira mas seus pulmões lhe denunciaram quando expeliram a insatisfação através de uma bufada. Pôde ver, mesmo de costas, o sorriso ridente nos lábios de Alana.

Bateu o pé buliçosamente, abriu a porta da geladeira buscando o suco de laranja rotineiro e subiu em passos largos até seu quarto, ignorando a presença daquela mulher de cabelos castanhos ao traspassar pela sala e tomar as escadas.

O Verão Em White Lake CityOnde histórias criam vida. Descubra agora