Capítulo 1

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PÂMELA DUARTE

Som alto. Batida envolvente. Corpos dançando como nunca.

Como eu senti falta disso.

Os bailes do Complexo eram os melhores da região, melhor seleção de músicas principalmente.

No dia seguinte eu teria que eventualmente voltar ao inferno que era minha vida. Mas aqui eu era apenas mais uma mulher atrás de diversão. Apenas mais uma.

Fui empurrada para trás bruscamente enquanto observava o causador da ação.

- Acorda. Eles vão passar. - Priscila gritou por sob o som alto e enquanto as pessoas se animavam um grupo de homens tatuados e sem camisa começaram a entrar pelo caminho que todos fizeram. Todos com pelo menos um fuzil na mão ou no ombro, alguns com saquinhos de pó jogando para a multidão ao redor, outros com dinheiro, havia de todo tipo.

- Eii! - Alguém me puxou bruscamente pela segunda vez, levantei o rosto irritada pronta pra devolver a grosseria a Priscila, porém encontrei um rosto desconhecido segurando meu braço. - Tu é nova por aqui? - O moreno com um piercing na sobrancelha gritou em meu ouvido.

- Não. - Gritei em resposta entendendo os olhares que ele lançava por meu corpo. Eu não era tecnicamente nova naquele lugar. Mas também não me considerava frequentadora assídua.

Como explicar que as complicações da minha vida me fizeram parar de frequentar qualquer tipo de festa?

- Tô amarradão nessa tua boca. - Ele lambeu os lábios e me puxou junto para si encarando meu lábios.

- Mas eu não tô no clima. - Tentei me esquivar já ficando nervosa com a situação.

- Qual foi gata, tua parceira tá coladinha no meu parça, alí. — Virei meu rosto e encarei a cena de Priscila quase engolindo o amigo dele. As pessoas a essa altura já estavam envolvidas em mais dança, drogas, bebidas e os traficantes já haviam subido para o camarote. - Que tal a gente se divertir um bocado? - Ele tentou encontrar meus lábios com os seus novamente e eu me esquivei.

- Me solta! - Pedi lançando-lhe o olhar mais ameaçador que conseguia.

- Vai se fazê de difícil é? - Ele me deu uma sacudida e eu suspirei perdendo a paciência e empurrando ele em cima de um casal que dançavam de forma sensual a batida de funk que tocava. - QUAL FOI MALUCA? - Ouvi ele gritar ainda do chão.

- O que tu fez, Pâmela? - Priscila voltou a gritar no meu ouvido.

- Eu acho melhor a gente vazar. - O amigo dele correu pra ajudá-lo a levantar e Priscila começou a me arrastar dali depressa.

Quando saímos da rua principal, o som já estava mais abafado e já era possível andar sem esbarrar nas pessoas.

- Mas que merda aconteceu lá? - Priscila perguntou ofegante. Olhei pra trás preocupada e continuei a caminhar.

- Ele não aceitou o meu "não", isso que aconteceu. - Respondi sem paciência. - Ele parecia traficante, temos que chegar no pé do morro antes que ele mande os cachorrinhos dele fechar a entrada. - Falei um pouco aflita tentando me equilibrar nos saltos alto.

- Pâmela acorda. Depois do esculacho que tu deu no muleque lá embaixo, acha que ele vai ter coragem de vir atrás de tu? - Ela parou segurando um copo de cerveja e apontando pra mim com o indicador. - E ele não é o dono do morro pra mandar fechar as saídas, ele é só um soldado. - Ela revirou os olhos enquanto tentava descer o morro do mesmo jeito que eu.

- Como você sabe? Aliás qualquer um daqueles que subiu com um fuzil poderia ser o dono. - Revirei os olhos.

- O dono é o último que entra naquele "desfile" - Fez aspas com os dedos. - Eu tô de olho naquele homem gostoso tem é meses. Tô esperando só a fiel dele dar mole, ela piscar eu tô sentando. - Priscila estava visivelmente alterada, tanto que deu algumas reboladas e risadas sarcásticas enquanto falava.

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