Capítulo 9

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Não sei ao certo quantos minutos fiquei encolhida naquela posição, pressionando os ouvidos e os olhos.

As cenas se repetiam doendo cada vez mais. Um estrondo me fez pular mas eu continuei alí.

Alguém me pegou colo enquanto eu tentava sumir em minha própria existência. Os braços me seguravam com força contra si e eu temi abrir os olhos e ver meu pai... Com o olhar culpado e temeroso.

- Pai... - Minha voz era quase um gemido enquanto a água fria me inundava. Minha cabeça parecia que ia explodir.

Despertei quase imediatamente. Meus olhos fitaram primeiro a tatuagem no pescoço e na hora eu soube quem era.

- Você... - Sussurrei enquanto ele desligava a água e me carregava até a cama. - M-mas... E a invasão? O que você tá fazendo aqui?

- Já terminou. - Ele respondeu enquanto pegava uma toalha e me entregava. Encarei a janela e vi o sol nascer, não foram minutos que passei encolhida chorando, foram horas. - Quero saber porque foguete me passou um rádio desesperado com teus gritos. - Ele perguntou enquanto eu me secava.

Engoli em seco.

- Só quero esquecer. - Me levantei ficando de costas pra ele.

- Tu ficou desesperada foi com os tiros?

- Eu só quero esquecer. - Me virei travando o maxilar irritada.

- Morena eu tô tentando te ajudar pô, mas tu que não tá ajudando.

- Eu não preciso de ajuda. - Respondi amarga.

- Tu sabe que isso vai acontecer mais vezes, né? - Ele perguntou. Eu não sabia se ele se referia ao meu surto ou... - A invasão. Não era os tiras ontem, era uma facção de um morro rival.

- Puta que pariu. - Ri sem humor. - Vocês não tem paz por aqui?

- Os moradores sim, mas isso custa a minha própria. - Ele se aproximou e segurou meu rosto como se ele se importasse comigo. - Eu sou feliz assim.

- Ser chefe tem seu preço afinal. - Minha cara não era nada agradável quando me recordei da noite passada quando quase nos beijamos e momentos depois ele pareceu preocupado com outra. - Bem, eu tenho uma casa pra alugar agora. - Me desvencilhei de seu toque e caminhei até a mala de roupas procurando por uma roupa.

- O que tá pegando? - Ele se aproximou ficando de frente para a mala enquanto eu remexia em busca de uma roupa confortável para o clima quente da cidade.

Eu fingia que meu surto não tinha acontecido, assim como nosso quase beijo, como nossa provocação e como minha frustração vendo-o se importar com outra mulher.

- Nada. - Dei de ombros pegando um short curto e uma blusa menor ainda.

- Não pô, ontem tu me deu maior moral lá na boca e hoje tu finge que não aconteceu nada. - Sua voz era alta e eu levantei meu rosto encarando-o.

- Ontem eu estava alterada por causa da bebida.

- A bebida entra a verdade sai. - Ele respondeu como se fosse vitorioso e eu travei o maxilar irritada.

- Não se sinta vitorioso, eu teria beijado você ou qualquer outro durante o caminho. - Sua expressão se fechou e eu acreditei por um segundo que ele surtaria.

- Vagabunda! - Ele xingou.

- Só porque eu agi como você? - Ironizei sorrindo e me levantando, eu estava recuperada da noite conturbada, pelo menos temporariamente.

- Pô, tu é uma filha da puta mesmo! - Ele parecia alterado.

- Bem, eu poderia ficar aqui o resto do dia vendo você me xingar de tudo que você acha que sou, mas não vejo a hora de morar na minha própria casa, então, tenho que me apressar. - Ele tinha uma expressão dura no rosto quando entrei no banheiro e me troquei.

๑Sensations๑Onde histórias criam vida. Descubra agora