Capítulo 4

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- E sua mãe? - Meu pai perguntou minutos depois que nos sentamos e começamos a conversar.

- A mesma. - Suspirei.

- Pâm... Mais algum dos namorados dela...

- Não. Não, pai. - Respondi antes que ele pudesse responder.

- Não precisa ficar com medo por causa da última vez. - Ele esticou sua mão por cima da mesa e segurou a minha.

- Pai... - Retribuí seu aperto. - Não sei quando virei te ver novamente. - Seu rosto tomou uma expressão de dor.

- Tudo bem. - Ele concordou. - É muito... Humilhante passar por aquela revista inicial. Entendo você, querida.

- Nao. Não por isso. - Me preparei para as próximas palavras. - Fui demitida.

- Você conseguirá outro emprego em breve, Pâm. - Ele acariciou meu rosto. - Não quero mais que se preocupe comigo.

- Não vou abandonar você aqui. - Respondi.

- Eu não quero que você viva o meu erro. Ah, Pâm... Você é tão jovem, tão linda... Eu quero que você viva, tanto quanto eu ou sua mãe vivemos.

- O erro não foi seu... - Meus olhos se enchiam de lágrimas enquanto ele acariciava meus cabelos.

- Foi sim. - Seu sorriso era triste e pela primeira vez eu vi as consequências daquela noite, refletindo em seus olhos. - Jamais deixe algum homem tocar em você sem sua permissão. E se isso acontecer, você sabe com quem contar...

- Eu vou viver... - Foi o que eu disse ao mesmo tempo que uma lágrima descia meu rosto.

Não vou mais sobreviver e esperar que o mundo me mate. Não vou mais esperar que as coisas na minha vida se acertem. Não quero mais esperar o perdão da minha mãe.

Eu estava me libertando daquelas amarras que tão nova me enjaularam. Meu pai estava preso aqui agora porque ele me deu asas.

E eu voaria. Tão alto. Tão livre.

๑๑

Um vento frio me assolava no final da tarde quando deixei meu pai. O lugar era como um deserto, nada nas proximidades além de mato, dali até um ponto de ônibus seguro levaria cerca de 30 minutos e eu teria que me apressar pra não anoitecer enquanto eu estivesse no caminho.

Meus cabelos estavam em um rabo de cavalo com algumas mexas soltas e a calça jeans apertava bem as minhas curvas, abracei meu corpo e respirei fundo antes de ar alguns passos.

O som de uma moto no entanto interrompeu meu trajeto. Meu coração pulava, minhas mãos suavam, o sol estava se pondo e não havia uma alma viva que pudesse me ajudar no entorno daquele lugar (exceto os guardas que já haviam se recolhido para a guarita no lado de dentro do presídio). Com desespero minhas pernas começaram a se mover rapidamente e logo eu estava correndo, no entanto o motoqueiro acelerou mais ainda e parou bem na minha frente me fazendo parar abruptamente.

- Você... - Suas palavras saíram abafadas e eu arregalei meus olhos confusa, então ele tirou seu capacete e foi aí que eu fraquejei mais ainda.

- Oh, merda... - Falei ainda encarando de volta.

- O que tu tá fazendo aqui? - Ret perguntou, o homem estava de tirar o fôlego com uma jaqueta de couro envolvendo seus braços e um perfume que confundia qualquer neurônio sensato que tivesse passado na minha cabeça naquele momento.

- Você quer mesmo que eu te responda? - Questionei apertando meus braços ainda mais forte ao meu redor. Ele me avaliava e em dado momento negou com a cabeça (provavelmente espantando seu próprio pensamento já que permanecemos um bom tempo em silêncio).

๑Sensations๑Onde histórias criam vida. Descubra agora