• sete •

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26 anos atrás

- Alec, segure na mão da mamãe, ok? – disse a mãe  em um dia ensolarado.

- Mãe, mãe, ele sumiu.  – disse um garotinho enquanto via as nuvens cobrirem o céu e tudo ficar nublado e triste.

Agora

– Alec, Alec, acorda! – Josephine estava sentada ao lado da cama do irmão enquanto ele gritava de forma aterrorizante mais uma noite.

Alec abriu os olhos e viu a irmã ali. Ela fazia aquele papel a muitos anos. Quando ele foi para faculdade Nikolai passou a fazer. Acordar Alec dos pesadelos terríveis que o consumiam.

- Desculpa, Josie. – Alec respondeu se sentando na cama enquanto enxugava o suor da testa. – Eu não queria te acordar.

- Está tudo bem. – Josie abraçou o irmão como sempre costumava fazer após os episódios. Eram as únicas vezes que Alec parecia vulnerável. Ele jamais transparecia dor ou qualquer outra coisa.

- Eu estou bem! – Alec disse a observando. – Eu vou ficar bem. – Ele enfatizou tranquilo.

- Precisa voltar ao médico Alecsander. – Josie disse o encarando. – Você sabe que precisa. Essa dor está te consumindo.

- Fazem mais de 20 anos, qual é? Eu estou bem. – Alec respondeu. Mas nada estava bem. Fazia 26 anos que ele procurava respostas, respostas para o que podia ter acontecido naquele dia. Algo que justificasse aquela dor.

- James não vai voltar, Alec. – Josie o encarou. – Você pode se culpar e viver uma miséria de vida emocionalmente, porque, mesmo assim, ele não vai voltar.

Josie viu as lágrimas escorrerem pelos olhos dele. Alecsander apenas chorava por aquilo. Ele nunca chorou por outro motivo. Nunca houve qualquer coisa que o fizesse ficar abalado, mas James Dakling fazia. Josie o abraçou e ele adormeceu nos braços da irmã como já havia feito tantas vezes na infância. Josie sabia que além dela, apenas Nikolai o havia visto assim.

Na manhã seguinte, ela foi para o escritório e o deixou dormindo.

- Nik, posso falar com você? – Josie disse ao se aproximar da porta do escritório dele. Nikolai era um dos melhores.

- O que houve? – Nikolai assentindo e ela entrou na sala. – Onde está Alec?

- Alec e os pesadelos. Deixei ele dormindo. – Josie respondeu pegando a xícara de café oferecida por Nikolai.

- Ele parou com os remédios? – Nikolai perguntou. Alec tomava remedios para dormir. Eles eram prescritos pelo médico dele, caso contrário ele nunca dormia. Mas apenas os familiares e Nikolai sabiam disso.

- Acredito que sim. – Josie suspirou, ela queria que ele se abrisse para o mundo. Ele merecia, ele havia passado por tanta coisa e nada era justo. - Ele gritava muito essa noite, Nikolai. Muito mais que normal.

- Eu vou até a casa de vocês, ok? – Nikolai se levantou enquanto Josephine assentiu.

- E aí, bonitão? Como você está?– Nikolai disse quando Alec atendeu a porta segurando uma xícara de café.

- Não acredito que ela contou para você! – Alec bufou sério.

- Somos melhores amigos, quem melhor que eu para te animar? – Nikolai sorriu para ele.

- Qualquer um? – Alec respondeu mal humorado.

- Alec, você está bem? – Nikolai o encarou serio e ele sabia que precisava dizer algo.

- Não, não estou. – Alec respondeu tomando um gole do café. – Mas não podemos fazer nada a respeito disso.

Nikolai mexeu a cabeça discordando com Alec. Ele podia tomar os remédios e fica bem. Sem todas as memórias traumáticas voltando no sono que deveria ser tranquilo.

- Não vai trazer ele de volta vivendo uma vida horrorosa. – Nikolai afirmou para ele. Alec precisava viver e não apenas trabalhar e respirar para sobreviver.

- Ninguém vai trazer ele de volta, mesmo que eu viva uma vida linda. – Alec disse sem encarar o loiro ao sofá.

- Não faça isso com você mesmo. Você não teve culpa. – Nikolai disse chegando mais perto da mesa.

Ele observou quando Alec levantou os olhos marejados para ele.

- Eu estou me esquecendo. Os remédios me fazem esquecer. – disse Alec.

- É normal, Alec. Os remédios te fazem suprimir situações estressantes e traumáticas. – Alec apenas o observou.– Não vai se esquecer de tudo, mas é normal algumas memórias falharem, faz muito tempo. Você tem fotos e..

Alec não o deixou terminar.

- Eu não quero fotos, eu quero ouvir as nossas vozes rindo e brincando. Eu quero me lembrar do meu gêmeo rindo e feliz e não do som aterrorizante daquela queda.

Nikolai o abraçou forte enquanto Alecsander soluçava em seu ombro.

- Você precisa tomar os remédios, Alec. – disse ele encarando o amigo de uma vida.

Após Alecsander Darkling tomar os remédios, Nikolai o cobriu como una criança com todo carinho e cuidado. Ele e Alec eram irmãos e sempre seria assim.

- Alec, eu estou aqui. Josi está aqui. Seus pais. Nós te amamos e queremos os melhor pra você.

- Alina. – Nikolai ouviu Alec murmurar e sorriu. Claro que a atriz havia mexido com o coração do homem de gelo. Isso estava claro.

- Alec, vamos brincar! – Nikolai ouviu o amigo dizer e sorriu. Ele sabia. Ele sabia de tudo que envolvia a família Darkling. Eles eram uma boa família que assim como toda as outras escondiam segredos.

Nikolai descobriu tudo ainda muito jovem quando frequentava o castelo e depois juntou peças e peças. Até montar um grande quebra cabeça que terminava com Antoine colhendo uvas em um vinhedo no sul da França. Aquela última imagem, Nikolai queria esquecer. Ele queria esquecer que quando mais se aproximou de encontrar algo que curaria seu amigo encontrou dores maiores.

A vida era assim, muitas coisas tiradas de pessoas que não mereciam. Muitas coisas jamais esclarecidas. Nada fazia sentido.

- Alec. – Nikolai despertou dos pensamentos ao ouvir o amigo murmurar mais uma vez enquanto dormia.

- Está tudo bem, James. – Nikolai disse próximo a ele. – Alec está aqui.






Luzes da Cidade: Alina e AlecsanderOnde histórias criam vida. Descubra agora