• dezesseis •

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- Alina. – Malyen chamava a amiga que remexia uma xícara de chá na sua frente.

Eles estavam na França. Na pequena vinícola de Antoine e agora de Alina.

- Alina. – Mal repetiu e ela despertou. – Você precisa contar para ele. Tá me ouvindo? – Malyen já tinha tido essa conversa mil vezes. Na verdade, muitas vezes nos últimos sete meses.

- Ele não quer isso, ele não quer ter um filho. – Alina respondeu fria. Quando Antoine morreu, Malyen viu Alina completamente arrasada. O luto foi profundo. Mas, naquele momento, Malyen tinha certeza, Alecsander era o amor da vida de Alina. Antoine foi um amor profundo e bonito. Mas nos meses em que Alina e Alecsander estiveram juntos, Malyen viu a amiga brilhar apenar de tudo.

- Mas essa criança tem um pai. – Malyen disse sério. – E isso pode ajudar Alec.

Alec não foi para o fundo do poço novamente. Exceto por datas comemorativas ele não bebia. Ele fazia a terapia. Ele assumiu uma identidade que não era dele por acreditar que podia trazer o irmão de volta e fazer as pessoas o amarem. Um profundo problema de autoestima. Ele assumiu a responsabilidade do sequestro do irmão. Era duro demais.

Alec tinha bons e maus momentos. Ele tinha uma escuridão profunda dentro dele. Josephine dizia que com Alina ele quase brilhava. Era como se ela fizesse com que ele começasse a ser mais leve.

- Malyen, eu te amo, mas se você insistir nisso eu não vou aceitar mais as suas visitas. – Alina foi enfática e Malyen encerrou a conversa.

Alina trabalhou até os cinco meses de gravidez. Até quando o pessoal conseguiu disfarçar gravidez. Ela assumiria em breve. Mas não queria lidar com aquilo naquele momento.

Malyen acompanhou Alina em alguns exames. Ela não o deixava entrar nas consultas. Enquanto ele aguardava na sala de espera viu a amiga sair sorrindo da consulta acariciando a barriga que já estava grande para os sete meses.

– Tudo bem? – ele perguntou e ela assentiu.

A noite eles estavam tomando chão na varanda da casa e ela o olhou. Ele olhava as estrelas. Era fácil amar Malyen, ela pensou. Parecia certo. Se ela nunca tivesse conhecido Antoine, ela teria se apaixonado lentamente por Malyen. Ela lembrava como ele a olhava. O olhar dele mudou apenas depois que ele conheceu Josephine. Naquele momento, ele passou a amar Alina como una irmã.

- Mal..– Alina o olhou. – Obrigada por estar aqui. Obrigada por esconder nosso segredo. – Ela disse acariciando a barriga, Malyen sorriu e acariciou a barriga dela segurando a mão dela.– Obrigada por sempre estar aqui por mim.

Malyen sorriu. Foi o que pôde fazer. Ele amou Alina mais que a própria vida e ainda amava só que agora de um forma diferente. Ela jamais o correspondeu como ele gostaria.

Os amigos permaneceram ali em paz sem saber que uma foto tirada daquele momento traria algumas tempestades.

Malyen acordou tranquilo antes de ver as 49 ligações perdidas de Josephine e as mensagens de amigos e parentes. Tudo parecia um pouco confuso. Mas logo que chegou na sala e viu o rosto encharcado de Alina percebeu que algo grave havia acontecido.

A foto foi divulgada e em menos de uma hora todo o mundo sabia que a queridinha atriz Alina Starkov estava grávida. E quem era cogitado para ser o pai? Sim, seu melhor amigo casado com nada mais nada menos que a herdeira do império Darkling. Se parecia um caos era porque era exatamente o que era um caos. E ficou pior ainda quando sem avisar Josephine chegou na França.

- Você podia ter me contado – Josephine disse abraçando Alina que nada disse.

Ela não contou. Simplesmente porque não queria que ninguém soubesse. Não ainda. Ela esperava que eles nascessem em paz.

- Josie. – Malyen chamou quando ela saiu da casa para respirar sem ao menos o olhar. Ele foi atrás dela e Alina suspirou. Tinha trazido mais caos e agora para o relacionamento alheio. Quanto tempo ele demoraria? Alina pensou. Talvez ele nem viesse. Ele nunca quis aquilo. Alina iria cuidar da família dela. Sem ele.

- Por que você mentiu para mim? – Os olhos de Josephine estavam molhados.

- Alina pediu. – Malyen foi sincero. Era isso e ponto.

- Você mentiu para mim. – Josephine repetiu.

- E evitei que você mentisse para o seu irmão. – Ele retrucou.

- Isso não é uma justificativa válida. – Josephine disse séria com os braços cruzados.

- Eu te amo, Josie. Te amo tanto que até dói. E doeu mentir para você, mas Alina passou por coisas demais para ser traída por mim. – Malyen disse a encarando.

- E preferiu me trair, trair a minha confiança? – Josephine indagou.

- Se não consegue entender isso, é porque não entende quem eu sou.

- Eu sei, Mal. Eu sei. Eles passaram por coisas demais. – Josephine o abraçou e ele apenas beijou os cabelos da mulher que havia dado mais sentido a vida dele.

Seis horas. Alecsander estava no escritório de Londres. Havia seis horas desde que ele viu a foto de Alina e Malyen.

Ela estava grávida. Aquela informação girava a cabeça dele. E era dele. Ele sentia.

Ele podia tomar várias decisões. E podia tomar uma garrafa de vodka e pagar uma pensão exorbitante e fazer um favor para todos, inclusive para a criança de nunca conviver com ele.

Ele foi despertado pelo pai que abria a porta e o tirava de um longo transe.

- Josephine ligou. – o homem que o havia criado o encarava esperando ele tomar decisões grandiosas e nobres.

- É meu. Eu sei. – Alex não o encarou de volta.

- E o que pretende fazer? – o pai perguntou se sentando frente a frente com Alec.

Ele tinha sido um bom pai. Na medida do possível. Apesar de todos os problemas de Alec. Ele considerava o pai um grande pai. Não era culpa dele.

- Eu não sei. – Alec tentou parecer o mais indiferente possível.

- Não faça isso, Alec. Você não é assim. – O pai o olhou de forma doce.

- Acho que nós dois sabemos que eu tenho um grande distúrbio de personalidade. – Alec respondeu com certa ironia.

- Não deixe isso definir o restante da sua vida. Não fique a sombra de Antoine. Não fique na escuridão de Alecsander. Não deixe que um erro de adultos. Que o nosso erro defina a sua vida.

James Darkling, o pai de James e Alecsander. O pai de Antoine e Alecsander dizia isso com lágrimas nos olhos. Alec apenas observava.

- Vocês eram crianças. Alec se perdeu por culpa nossa. Não sua. Não faça isso com você, não viva nessa escuridão.

E dizendo isso, James beijou o filho e saiu. Alec pensou em seu nome, James. Idêntico ao pai.

E respirou fundo fechando os olhos.

Decisões que modificam a vida.

Alec tinha caminhos a tomar.

Luzes da Cidade: Alina e AlecsanderOnde histórias criam vida. Descubra agora