• onze •

42 11 2
                                    

Alecsander sabia que a comida favorita de Antoine era risoto, porque contrastava muito bem com o vinho branco favorito dele, que ele mesmo produzia. Ele falava quatro idiomas e lia muitos livros. Adorava trabalhos manuais e marcenaria era o principal dele. Também amava plantar. Era um homem calmo e simples.

A medida que convivia com Alina passou a conhecer mais e mais seu irmão. E eram momentos quase doces. Alina contava não apenas para ele, mas para todos da família Darkling com quem passou a conviver sempre. As idas a Escocia se tornaram constantes.

Alina não sabe exatamente como aconteceu, mas um dia quando ele estava olhando a chuva que caia nas montanhas forte e em grande quantidade concentrado, ela percebeu que havia se apaixonado. Desde do dia em que se reencontraram, ele nunca mais havia se aproximado dela. Eles apenas conversavam e riam. Alec falava sobre a terapia e sobre o que estava fazendo no escritório. Eles até mesmo conversavam sobre os romances de Alec.

Ela sempre o respondia atentamente e continuava observando mesmo quando ele virava o rosto para fazer outra coisa. Ela havia percebido que ele e Antoine eram diferentes demais, embora fossem extremamente parecidos. Alecsander era mais incisivo e menos inseguro que Antoine. Era determinado e prático. Sorria apenas para as pessoas mais próximas e sempre arrumava o cabelo com a mão esquerda. Era bondoso com todo e embora não fosse tão abertamente gentil, era educado ao extremo. Também escondia muito bem seus sentimentos e não demonstrava insegurança na frente de ninguém.

Ela estava ali. No palácio dos Darkling o observando ver a chuva cair. E ela percebeu que estava completamente apaixonada por Alecsander. Apenas por ele ser quem é.

- Ele ainda não percebeu? – Alina Starkov ouviu a voz do pai de Alecsander ao lado dela. Ela se virou e ele observando o rosto de dúvida dela continuou – Devia dizer para ele. Você trouxe algumas coisas para está família e trouxe muito mais para ele. Devia contar para ele. Ele precisa ser feliz e achar que merece isso.

Então ele saiu e a deixou lá. Ela queria dizer algo. Mas não podia. Não podia estragar o laço que se formava entre eles.

Mas havia algo nela que implorava para ela dizer algo. Algo que o fizesse ter alguma reação. Mas ela não podia ele se magoar novamente.

- Presa no mundo dos sonhos, estranha? – a voz de Alec entrou nos ouvidos de Alina. Ele já havia a convidado mais de 10 vezes para vir a Escocia. Nos últimos dez meses, ela contou todas as histórias possíveis sobre Antoine para ele e a família e trouxe um conforto imenso.

Mas Alec não conseguia parar de pensar nela. E embora fosse ótimo em fingir. Seu corpo estava o condenando pouco a pouco. Ele a queria por perto. E se para isso fosse necessário tê-la como a grande amiga que ela estava se tornando, ele conseguia aceitar isso.

- Não, estava ouvindo a chuva. – Alina respondeu observando a pequena mecha dos cabelos pretos dele no meio da testa, então em um movimento involuntário a tirou e colocou no lugar entre os outros fios e sua mão pousou no rosto dele ajeitando o restante dos fios. Por um segundo Alina viu os olhos dele se fecharem com seu toque. Ele sentiu seu coração acelera. Mas quando ele se afastou tão rapidamente quanto seus olhos se fecharam ela despertou para a realidade. Alec se afastou e foi dormir.

Um mês depois, Alina reencontrou no pub do happy hour. Ele havia desaparecido depois do evento na casa da Escocia.

- Achei que tivesse desaparecido do mapa. – Alina disse quando parou ao lado dele no balcão do bar. Ele sorriu e se virou abraçando uma jovem de uns 20 anos e susurrando algo no ouvido dela antes de se virar para Alina.

- Olá, estranha, estava trabalhando muito. – Alec disse. Ele já havia bebido um pouco naquela noite então não conseguia não sorrir para ela. Desde da noite em que ela apenas ajeitou uma mecha de cabelo dele, ele não conseguia dormir direito.

- Percebi. – Alina respondeu olhando a garota e Alec sentiu a irritação na voz dela. Ele sabia o que ela sentia. Por que ele também se sentia assim, mas era culpado demais por sentir culpa de querer a mulher do irmão dele. Do irmão de quem já havia ficado com o nome.

Alec virou mais uma dose de whisky e realmente sentiu que precisava parar de beber quando a viu beber duas doses de vodka e se virar para o balcão.

- Está chateada com algo? – Alec estava bêbado o suficiente para ter esse tipo de coragem. Ela não o encarou e nem o respondeu então ele foi dançar com a garota que o esperava sorrindo.

Alina observou a cena de Alecsander dançar com a jovem. Ela era bonita demais e jovem demais e não tinha bagagem e com certeza não era cunhada dele.

Então resolveu ir embora. Mal ia dormir com Josephine. Então, quando a campainha tocou ela estranhou. Ela estava de pijama com um moletom.

Quando ela abriu a porta do apartamento e o viu com o blazer no ombro e a mão no batente da porta de cabeça baixa não acreditou.

- Alec? – Ela viu ele erguer o olhar para ela e sorrir. Ele estava bêbado. Os cabelos bagunçados e o olhar profundo. – O que você quer?

Ele continuou olhando fixamente para ela.

- Se eu te disse isso, não vou conseguir olhar para você amanhã. – Alec respondeu.

Ela deu passagem e ele se sentou no sofá. Ela olhou para a porta e disse em tom de deboche.

- Esqueceu a creche no bar? – Alec riu alto.

- Está com ciúmes? – ele respondeu sem sorrir. Ela apenas o olhou. – Está com ciúmes de mim ou de Antoine? – Em defesa de Alec aquelas palavras o importunavam quando ele estava sóbrio também.

Alina o olhou séria. Ela imaginava que ele tinha esse pensamento e talvez por isso a afastasse tanto. Ela não queria estragar o que eles tinham naquele momento. Só de imaginar perdê-lo uma dor invadia seu peito.

- Vamos parar por aqui. Você precisa dormir. Vem, vou te levar para o quarto de hóspedes.

Alec não protestou. Ele iria conseguir aquela resposta. Ele precisava conseguir.

Quando abriu os olhos sabia que não estava em casa. Ele foi até a cozinha e a viu lendo.

- Eu sinto muito, Alina. Eu nem sei o que dizer. – Ele disse colocando a mão no rosto levemente corado. – Não quero ser o tipo de amigo que invade a casa do outro quando está bêbado.

- Está tudo bem, Alec. Pode vir sempre que beber. – Alina sorriu apontando para o café no balcão da ilha. Ele foi pegou uma xícara e se sentou ao lado dela.

- Está muito brava comigo? – ele perguntou sorrindo para ela.

- Não, por que estaria?

- Pelo sumiço e pela creche. – ele disse fazendo aspas com a mão. Ela bufou. Ele se lembrava. Será que ele se lembrava da pergunta ela pensou, mas ele disse rapidamente. – Não precisa ter ciúme de mim. Eu não sou ele, eu só me pareço com ele. – Alina bufou séria, ele realmente achava que ela não o via, que ela via somente Antoine quando olhava para ele.

- Eu sei que você não é ele. Eu sei disso há muito tempo. – Ela disse se virando para ele.  Ele estava surpreso e tenso. Ela percebeu pelos ombros dele. – Bom, é melhor essa conversa parar por aqui. Antes que você suma novamente.

Alec a encarou sério.

- Está dizendo que eu estou fugindo?

- Está não está? – Alina respondeu olhando para ele. – O que eu disse na noite em que eu te contei tudo era verdade.

Alec estava chocado. Ele se lembrava dela dizer. " Sou sua."

- Não posso fazer isso. Por mais que eu queira. – Alec disse se levantando. – Já sou horrível demais, não posso ser mais ruim ainda.

- Alec. – Alina disse enquanto observava ele ir até a porta. – Não vai embora, nós podemos ser amigos. Podemos fazer isso.

Alec parou na porta e se virou para olhá-la.

- Se eu tivesse sido o James a vida toda. Eu te beijaria agora. Mas não posso mudar o passado.

E ele saiu. E Alina sentiu um vazio.

Luzes da Cidade: Alina e AlecsanderOnde histórias criam vida. Descubra agora