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— Você tem certeza? E os seus pais?

— Eu dou um jeito - disse para o garoto - E então? Topa?

— É claro! Dia 1º, certo?

— Certo. 

Desliguei e coloquei o celular de lado. Eu só posso estar louca, quem sugere esse tipo de coisa?

"Não é loucura, eu vou tomar cuidado, vai dar tudo certo." - disse a mim mesma, me convencendo que o que havia feito não foi uma má ideia.

×

31 de dezembro.

Senti o cheiro maravilhoso da comida que minha mãe preparava especialmente para o Ano Novo. Mesmo sendo mínimas, ainda havia esperanças que no ano de 2041, tudo vai voltar ao normal.

Não pude evitar, já criei mil e uma expectativas: A pandemia irá acabar, posso tentar arrumar um emprego de meio período e juntar meu salário para morar em um pequeno apartamento sozinha, irei para a faculdade presencialmente. Esse ano vai ser perfeito!

Ao menos, é o que eu espero...

— Marinna, levante dessa cama e vá ajudar sua mãe. - disse meu pai, entrando no meu quarto repentinamente.

Revirei meus olhos juntando minhas quase nulas forças para ajudar minha mãe. Estava levemente animada porque ando fazendo dietas restritivas desde que meus pais retornaram e perdi um pouco de peso, e hoje, eu poderia abrir uma exceção. Afinal, é Ano Novo.

Enquanto lavava a louça, pensava ansiosamente no que havia combinado com Jimin. É muito arriscado, não faço ideia de como tive coragem de pensar nisso. Com vou conseguir esconder dos meus pais? Eu estava com medo, mas ao mesmo tempo meu coração palpitava, ansiando por aquele momento.

Passei a tarde na cozinha com minha mãe, terminamos o jantar exaustas. Tomei um banho e me arrumei. Não estava tão elaborada, não via razão para me "paparicar" para passar uma noite com meus pais. Nos sentamos na mesa às 22:40. Percebi que meus pais se olhavam com raiva, ás vezes bufando ou soltando sorrisos sarcásticos. Não diziam uma palavra.

— Por favor, pelo menos hoje, não falem de finanças, não discutam, não sejam rudes. Apenas comam, nem que seja apenas por hoje - disse para eles, antes que começassem a brigar. Eles se olharam e concordaram.

A mesa continuou em silêncio. Estava tudo tão desconfortável. Tudo o que eu queria naquela hora era passar mais uma data comemorativa com Jimin, a ceia de Natal tinha sido tão divertida...

— Como foi em Forver? Nunca me contaram o que fizeram lá... - falei para quebrar o silêncio, já que eles não se davam ao trabalho de conversar como uma família normal.

— Tinha como fazer algo? Com esse vírus á solta? - meu pai respondeu, recebendo uma olhada repreendedora e assustadora da minha mãe. ‐ Ok, não serei rude.

— Antes da pandemia visitamos alguns locais, quando seu pai tinha tempo livre. Vimos vários lugares que frequentávamos com você, quando era apenas uma garotinha - minha mãe comentou antes de levar mais comida à boca.

Sorri minimamente.

— Como estão os estudos? - ela prosseguiu.

— Bem, estou mantendo notas boas. Mas está bem difícil achar motivação para estudar online, também é cansativo.

— Cansativo, como? Está estudando em casa, quer mais "moleza" que isso? - meu pai falou, acho que quis ser engraçado, mas não funcionou bem.

— Pelo amor de Deus, não consegue abrir sua boca pra falar algo bom? Não vê que sua filha está cansada? É só olhar o estado dela, está acabada! - minha mãe falou, batendo na mesa.

Fiquei feliz por minha mãe ter me defendido, afinal, estudar não é fácil mesmo. Mas, é claro, ela tinha que meter minha aparência nisso.

"É só olhar o estado dela, está acabada!"

Meu pai suspirou. Temi que ele respondesse minha mãe em alto tom, batendo na mesa ainda mais forte, mas ele se calou. Respirei fundo, em alívio, mas também chateada com o clima pesado que se instalou ali.

Olhava para o relógio a cada minuto, só queria que desse 00:00 para que eu pudesse ir para meu quarto ficar sozinha, ou conversar com ele.

— Já são 23:50, é bom irmos para a TV, se quisermos ver os fogos. - disse meu pai.

Geralmente, no último dia do ano, eu ia para as margens do Rio Youth - o principal Rio de Aléia e grande atração turística - e assistia o show de fogos de artifício pessoalmente. Eu gostava da sensação da brisa em meu rosto, das famílias reunidas, dos casais começando um novo ano com beijos doces e calorosos. A sensação de poder recomeçar.

Mas agora, só veria meras explosões brilhosas e coloridas pela limitada tela da televisão.

Eu e meus pais nos sentamos no sofá da sala. Eu entre eles dois, só faltou eu morrer com aquele clima pesado e desconfortável. Perto da contagem regressiva, escrevi uma mensagem curta para enviar a Jimin meia-noite em ponto. Sim, eu sou esse tipo de melhor amiga.

— Com quem está conversando? - perguntou minha mãe.

Senti um arrepio por todo o corpo. Ela não pode saber que tenho um amigo virtual.

— Ah, é só um colega de classe.

Ela voltou a olhar para a TV, suspirei.

10...

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5...

Adeus, 2040. Até nunca mais.

4...

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2...

1.

Feliz Ano Novo.

2041, será meu ano, eu posso sentir.

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FELIZ 2022!!

Estou meio atrasada, eu sei. Mas desejo a todos vocês um ótimo ano cheio de conquistas e sorrisos. O capítulo está meio simples, mas espero que tenham gostado. Um beijo e até a próxima <3

VIRTUAL - PARK JIMINOnde histórias criam vida. Descubra agora