Era fim de tarde e eu estava distraída em minhas atividades, quando escuto meu celular tocar. Era uma chamada de vídeo da minha mãe. Ela apenas me perguntou se eu estava bem, ou se precisava de alguma coisa. Depois da ligação termino meus afazeres e ligo a televisão para passar o tempo.
O canal que abriu estava transmitindo o jornal. Continuei assistindo na esperança de que teria alguma notícia boa, talvez: "especialistas descobrem uma vacina que pode combater o Shent" ou "os hospitais estão esvaziando cada vez mais, o comércio e institutos de ensino estão voltando aos poucos, será esse o final do Shent-39?"
Mas, na realidade, não havia nada.
Até quando essa será a realidade do mundo? Onde os jornais só transmitem tragédias, onde não podemos mais sair de casa sem máscara e um frasco de álcool em gel no bolso, onde não podemos mais encontrar aqueles que amamos...
Desliguei a TV e decidi levar Bob, meu cachorro, para dar uma volta, assim eu sairia um pouco de casa...
Vou para a gaveta à procura de mais uma camiseta bem maior que o meu tamanho para usar. Esse sempre foi meu estilo, roupas folgadas, mas estilosas, também conhecidas como oversized. Para a minha infelicidade, estavam todas na máquina de lavar, já que eu deixei a roupa suja acumular. O jeito foi usar uma blusa que eu havia comprado no início do ano. A blusa estava muito apertada, o que é estranho, já que cabia perfeitamente no início da pandemia.
Fico de frente do longo espelho do meu quarto e percebo mudanças drásticas no meu corpo, desde a última vez que eu o reparei.
Eu nunca prestei muita atenção no meu corpo. Antes da pandemia sempre me elogiavam por ele, e eu o amava do jeito que era.
Mas agora, eu vejo como ele mudou.
Com a quarentena, eu mal me movimento, muito menos me exercito, sem contar com meu "apetite" exagerado, provavelmente por conta de minha ansiedade.
Mesmo estando bem quente aqui, em Aléia, coloco um moletom e saio com Bob.
Caminho com ele pelo meu bairro, a maioria dos estabelecimentos estavam fechados e as ruas com poucas pessoas. Sempre que eu passava por garotas - aparentemente da minha idade - eu percebia que elas se diferenciavam muito de mim. Aqui, a maioria das pessoas levam muito a sério os "padrões", e agora, com certeza não me encaixo neles. O clima estava muito quente, e não tive opção além de tirar o moletom que eu usava, expondo o que eu queria esconder. A blusa que eu usava marcava bem os "quilinhos" que eu havia ganhado. As pessoas que passavam por mim, me analisavam e olhavam com uma feição nada agradável.
Agora, se inicia mais uma fase da minha vida: A baixa autoestima, a comparação constante, a visão distorcida da minha própria imagem, a luta contra o reflexo que via no espelho.
Fui para casa o mais rápido que pude, tirei as peças que usava e as coloquei na máquina para lavar. Coloquei um vestido bem velho e folgado, e me atirei na cama. Decidi entrar nas minhas redes sociais, já que fazia um tempo que eu não navegava por lá. Vi minhas colegas da faculdade postando fotos com seus "corpinhos perfeitos", o que fez com que eu me comparasse ainda mais. Saí do aplicativo para o meu próprio bem.
"Oii" - uma notificação de Jimin aparece na parte superior da tela do meu celular.
— Oi. - Respondo.
— Como você está? - Ele pergunta.
— Estou bem, na medida do possível.
— Hmm, isso não me pareceu bom... - Jimin responde, desconfiado.
— Eu estou bem.
— Você está livre hoje à tarde?
— Sim... Por quê? - Questiono.
— O que acha de fazer uma chamada de vídeo?
— Agora? - Pergunto já arrumando meus cabelos e enxugando algumas lágrimas que eu havia derramado há um tempo.
— Quando você puder.
— Ok, vou só me arrumar.
— Eu também vou.
Devo admitir que estou um pouco nervosa. Seria a primeira vez que eu veria Jimin de uma vez por todas, e ele me veria também. Por um lado, agora eu ficaria mais aliviada e perderia o meu medo de falar com alguém que não conheço, pela internet.
Corro para o banheiro passando uma escova nos meus cabelos que estavam totalmente bagunçados. Arrumo minha franja e lavo o meu rosto pra tentar amenizar a aparência cansada que ele passava. Não havia muito o que fazer, era hora de vê-lo.
— Quando você quiser. - Envio para Jimin indicando que já estava pronta.
Eu roía minhas unhas em sinal de nervosismo. Ele visualiza minha mensagem e não responde nada. Repentinamente meu celular começa a vibrar, ele estava me ligando.
Meu coração começa a palpitar e sinto um frio na barriga. Ok, vamos acabar logo com isso.
Atender
Aperto no botão verde atendendo a ligação. A tela da chamada se estende, e agora eu via Jimin. O observei por um tempo e acho que ele fez o mesmo comigo.
— Bom, agora você já sabe como eu sou! - Jimin exclama trazendo à tona sua voz, a qual eu já havia escutado antes.
Jimin tem olhos com traços marcantes e sensíveis, os mesmos viraram dois "risquinhos" quando o garoto sorriu simpaticamente ao me ver na tela do celular, o que eu achei adorável. Sua boca é carnuda e rosada, nela estava estampado um sorriso, lindo, por sinal, que transmitia empolgação. Assim como eu vi nas fotos que ele tinha me mandado, seus cabelos são loiros com a raiz escura, o que me fez desconfiar que não era sua cor natural.
— É, agora você também sabe como eu sou. Atendi suas expectativas? - Pergunto com um sorriso tímido.
— Você as ultrapassou. - Ele responde me fazendo corar, ele riu quando percebeu.
Para meu alívio, não nos faltou assunto durante toda a chamada. Mesmo nos falando muito por mensagens, ainda tínhamos muito o que conversar. Logo, já fazia quase duas horas que estávamos em ligação, eu nem percebi o tempo passando.
Jimin é uma pessoa incrível.
Pode parecer impulsivo da minha parte falar assim o conhecendo por pouco tempo, mas ele é diferente.
Ele é diferente do tipo de meninos que estou acostumada a conhecer.
— Meu Deus! Já é quase noite, estamos nos falando por tanto tempo assim? - Jimin exclama.
Olho o horário e percebo que já era fim de tarde.
— Verdade! Nem percebi o tempo passar, eu gostei muito de falar com você, Jimin.
— Também gostei muito de conversar com você e te conhecer melhor, Marinna. Eu vou ter que desligar agora, podemos fazer isso mais vezes?
— Claro! Eu adoraria.
Eu com certeza faria isso mais vezes. Conversar com ele fez com que eu me desligasse do mundo, o que é bom, pelo menos nesse período da minha vida.
Eu apenas esqueci de tudo o que me angustiava e chateava.
E hoje, eu percebi que Jimin não é mais um estranho pra mim.
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Olá! Tudo bom com vocês? Espero que sim.
Perdoem a demora em atualizar, minha rotina anda meio conturbada, mas vou tentar continuar com as postagens semanais.
Vocês viram o feat dos meninos com o ColdPlay? Perfeito, né?
Enfim, obrigada pelo apoio de todos vocês, até a próxima! <3
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VIRTUAL - PARK JIMIN
FanfictionO ano era 2040, e o mundo se encontrava infectado por um vírus desconhecido. Agora, tudo está parado, todos estão isolados, as ruas estão vazias e os estabelecimentos fechados. Sabe quando sente-se solitário e exausto da intensa e repetitiva rotina...