Capítulo V

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Alicia Gusman

—...e uma joelhada no saco foi tudo que precisou pra ele sair de perto de mim. — Eu disse, enquanto contava o ocorrido para Valéria, Carmen e Marcelina.

— Meu Deus, amiga! Eu sinto muito, deve ter sido péssimo. — A Valéria disse e me abraçou, logo as outras garotas se juntaram ao abraço.

— Você quer contar ao seu avô? — A Carmen pergunta, acariciando meu braço após termos desfeito o abraço. Nego com a cabeça veementemente. Como eu contaria isso olhando nos olhos do meu avô?

— Mas amiga... A gente não pode deixar isso sair impune! — Marcelina falou com a voz suave.

— Eu sei, mas... Eu tenho v-vergonha. — Eu digo, olhando para baixo, com a voz trêmula e os olhos marejados.

— A gente pode contar pra você, Ally! — Valéria fala, tentando apoiar a ideia.

— E-eu... eu não sei. — Eu digo e as garotas começam a falar que é importante e necessário. Que eu não tinha culpa de nada e o garoto devia pagar pelo que fez. Até que elas me convenceram. — Ok, vamos lá! Mas vocês falam, pode ser?

— Falar é a minha especialidade! — Valéria diz em tom de piada, fazendo o clima ficar mais leve.

Saímos do dormitório feminino e andamos por um tempo em direção a sala da diretoria do acampamento, mas encontramos meu primo mexendo no celular no caminho.

— O-oi, Alan! — Eu disse, tentando parece normal. — Voc-cê sabe se o vô tá na sala d-dele?

— Não, ele está na fogueira junto com alguns campistas. — Alan fala, mas quando tira os olhos do celular me encara preocupado. — Você tá branca! Tá tudo bem? Aconteceu alguma coisa?

— D-depois eu t-te conto! — Eu falo, enquanto as garotas me guiavam em direção a fogueira.

Andamos até lá e felizmente o filho da puta do Nicholas não estava ali. Mas o Paulo estava. Ele me olhou de canto de olho e consegui ver o momento em que a mágoa em seus olhos virou preocupação ao perceber o meu estado de choque. Ele começou a se levantar.

Eu, Carmen e Valéria fomos em direção ao meu avô, enquanto Marcelina chamava a Professora Helena. Quando as duas chegaram, nos afastamos um pouco da fogueira e as garotas contaram o ocorrido para os dois.

— Isso é inadmissível! Esse garoto precisa ser expulso do acampamento imediatamente. — A professora Helena disse, depois de me abraçar apertado. Eu nunca tinha visto ela tão furiosa.

— Eu concordo com a senhorita! Vai ficar tudo bem, minha neta favorita. — Meu avô disse e me deu um abraço de urso, indo em direção ao dormitório masculino, onde provavelmente o Nicholas estava.

— Ahn... Alicia, tá tudo bem? — Paulo pergunta, aparecendo do nada.

— Eu... eu não quero falar com você agora, Paulo. Principalmente sobre isso. — Ele me olhou parecendo chateado, mas assentiu com a cabeça.

— Você pode me falar se tá tudo bem contigo? Por favor. — Ele súplica, fazendo meus olhos marejarem. As garotas tinham se afastado, então estávamos apenas nós dois ali.

— Eu... eu tô ótima! — Eu digo, tentando me recompor, mas o Paulo acaricia a minha bochecha me fazendo desabar.

Eu abraço ele como se precisasse disso. Ele abraça de volta e, pela primeira vez desde que meu pai partiu, me senti segura. Eu chorei no seu ombro e ele acariciou a minha cabeça, até que os soluços diminuíram o choro sessou.

Não sei quanto tempo ficamos ali, mas a fogueira ainda estava acesa, porém sem nenhum campista ao redor. Sentamos em um tronco de árvore cortado e apreciamos a beleza do fogo. Ficamos em silêncio por um tempo.

Paulo Guerra

Eu não fazia ideia do que havia acontecido, mas parecia indelicado demais perguntar. Será que a culpa era minha? Será que eu fui tão invasivo a ponto de fazer Alicia Gusman, a garota mais forte desse mundo, ter uma crise de choro?

Os pensamentos começaram a me atormentar e nem mesmo a visão das lindas estrelas estava me acalmando. A possibilidade de tê-la feito chorar estava me destruindo.

— Alicia, me desculpe! Eu não queria ter sido tão invasivo... Eu estava errado, não posso fazer essas coisas. Não queria ter te abalado tanto assim. Me desculpa, por favor! — Eu disse tudo rápido, com uma nota de desespero na voz. E então a Alicia riu.

A garota estava chorando até agora e então começou a rir. Na verdade ela não estava rindo, estava gargalhando!

— Você é a pessoa mais bipolar desse mundo. — Eu constatei quando sua crise de risos acabou.

— Eu não estou mal por sua culpa, seu idiota! — Ela disse, me fazendo respirar aliviado. — Mas apenas comentando, você foi sim um babaca, abusivo e invasivo. Se fizer isso de novo, eu quebro o seu nariz.

— Já aprendi minha lição com o tapa na cara, obrigada. E com aquele selinho ridículo. — Eu falei e ela olhou para baixo, parecendo abalada. — Não vai me dizer que outro personagem incrível morreu, né? — Eu falo, tentando amenizar o clima, o que funciona e ela olha pra mim com um sorrisinho no rosto.

— Infelizmente não foi só isso, Paulo. — Ela fala, encostando sua cabeça em meu ombro. Coloco uma mão em seus cabelos e começo a fazer cafuné.

— Você não precisa me contar se não quiser, lindinha. — Eu disse e, pela primeira vez, não havia ironia no apelido.

— O Nicholas... — Ela começou a contar a história. Tudo que eu senti dentro de mim foi raiva, muita raiva.

— EU VOU ACABAR COM ESSE MOLEQUE!— Eu levantei gritando, fazendo Alicia levantar também e colocar suas mãos em meus ombros, me acalmando um pouco.

— Calma, Paulo. Por favor, não faz nada. A Professora Helena e o meu avô já estão resolvendo a situação. — Ela diz e eu a encaro.

Ela passou por um momento traumático a menos de uma hora atrás por culpa minha. Se eu não tivesse feito aquilo no dormitório, ela não teria tido que beijar o Nicholas para provar seu ponto e nada disso teria acontecido. Eu sou um idiota.

Mas mesmo assim, mesmo depois de tudo isso ter acontecido, ela estava aqui fora só comigo, me contando tudo. Meus olhos começaram a marejar e antes que ela pudesse perceber, eu a abracei.

Abracei Alicia Gusman mais forte do que eu havia abraçado qualquer pessoa na minha vida.

E foi nessa hora que eu percebi o quão fodido eu estava.

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E agora? Será que a vida
vai virar um conto de fadas ou
outros problemas surgirão?
Espero que estejam gostando
da história!

Com carinho, R.

Maybe it's love - Paulicia Onde histórias criam vida. Descubra agora