Capítulo X

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Alicia Gusman

Eu passei os últimos dois dias conversando muito com o Mário, eu e ele estávamos criando um plano para fazer a Marcelina perdoar o garoto. Assim, arranjei uma maneira de tirar o Paulo da minha cabeça, pelo menos enquanto eu estava acordada.

Já faz uma semana que ando sonhando todos os dias sonhando com ele e, sinceramente, não estou aguentando mais!

Ontem teve a segunda prova do acampamento, que foi só uma corrida pelas trilhas na mata. Na equipe laranja, Adriano foi o integrante escolhido, enquanto na roxa, foi o Cirilo. Infelizmente, a laranja ganhou e eu não aguentava mais eles esfregando sua vitória na nossa cara.

Pois bem, nesse exato momento eu estou ajudando o Mário a organizar uma surpresa para a Marcelina. Resolvemos colher algumas rosas brancas e dispor suas pétalas em uma trilha que guia até a clareira no meio da floresta. Ali estamos organizando um piquenique para os dois pombinhos, consegui até arranjar um vinho e duas taças para eles!

Quando terminamos era quase 18:00 e Mário me olha com um misto de animação, medo e ansiedade.

— Será que vai dar certo? — Ele pergunta, enquanto voltávamos ao acampamento.

— Eu tenho certeza absoluta que vai! — Eu digo, lançando um pequeno sorriso ao meu amigo. — Não esquece de estar lá as 19:00. Vou dar um jeito de levar a Marcelina até a clareira no máximo as 19:15, ok?

— Perfeito! — Ele fala esperançoso. — Obrigada pela ajuda, Alicia.

— Não tem por que agradecer, Mário. — Eu digo e nós nos separamos.

Entro no dormitório feminino e encontro a Marcelina com um olhar cabisbaixo.

— Aconteceu alguma coisa, amiga? — Eu pergunto e ela me ignora. — Marcelina?

— Agora você vem toda minha amiguinha, né? — Ela diz, me olhando com raiva. — Mas ficou os dois últimos dias coladinha com o garoto que eu gosto. Ótima amiga você!

— Ai Marcelina, deixa de drama! Você sabe muito bem que eu e o Mário somos apenas amigos. — Eu digo e ela me olha ainda mais furiosa.

— AMIGOS NÃO FICAM 24 HORAS POR DIA GRUDADOS, ALICIA! — Ela grita, fazendo com que eu a olhasse espantada. Eu não posso estragar a surpresa e contar pra ela o porquê de eu ter ficado tão perto do garoto.

— MARCELINA, EU NÃO GOSTO DELE DESSA MANEIRA! TU SABE DISSO, PARA DE ENLOUQUECER. — Eu grito de volta e ela parece cada vez mais brava.

— VOCÊ É UMA VADIA MESMO! PRIMEIRO TAVA TODA TODA COM O MEU IRMÃO, QUANDO PERCEBEU QUE ELE NÃO TE QUER, PULOU DIRETO PRO GAROTO QUE EU GOSTO! — Ela gritou ainda mais alto e eu a olhei magoada.

— Vai colocar a porra de uma roupa descente, Marcelina. — Eu falo, tentando fingir que o que ela disse não me abalou. A garota me encara confusa. — Eu quero te levar a um lugar. Você tem 30 minutos para se arrumar.

— Eu não quero ir a lugar nenhum com você, sua talarica traidora! — Ela diz e eu a olho sentida. Marcelina percebe a minha expressão de chateação e resolve fazer o que eu pedi. A garota pega um vestido azul marinho na mala e entra no banheiro, batendo a porta com força.

Saí do dormitório rápido, ignorando o sentimento de mágoa que rondava pelo meu peito. Será que é isso mesmo que a Marcelina pensa de mim? Que eu sou uma vadia, talarica e traidora? E ainda, será que o Paulo não gosta de mim mesmo?

Sento em um banco entre os quartos das meninas e dos meninos, olhando para minhas mãos. Respiro fundo e consigo me acalmar, impedindo o desespero de tomar conta de mim.

Sinto o banco estremecer ao meu lado e vejo Paulo se sentando. Ele parecia abalado de certa forma.

— Oi. — Ele diz simplesmente.

— Oi. — Eu respondo na mesma entonação.

— Alicia, eu não estou com muita paciência hoje. — Ele começa e eu franzo a testa. — Então fala a porra da verdade e não me enrola, ok?

— A verdade sobre o que, Paulo? — Eu pergunto, ainda confusa.

— Você além de estar sendo uma filha da puta, vai querer se pagar de desentendida então? — Ele fala, com um sorrisinho de escárnio no rosto. — A garotinha inocente está grudadinha com Mário Ayala, que por coincidência é meu amigo e namoradinho da minha irmã! Mas a garotinha inocente não sabe o que anda fazendo de errado, né? Afinal, qual o problema de dar em cima de todos os garotos do acampamento, até os que não estão solteiros!

— Vai se foder, Paulo. Você além de não saber de porra nenhuma que tá falando, ainda é um puta de um babaca. — Eu digo, tentando não parecer abalada com o que ele disse. — Parabéns, Paulinho, você acaba de receber o prêmio de ser humano mais escroto do mundo!

Eu levanto do banco e vou andando em direção ao dormitório feminino, já que Marcelina deveria estar quase pronta. Escuto Paulo gritar meu nome algumas vezes mas ignoro, não estou com cabeça para isso agora.

— Pronta? — Eu pergunto, abrindo a porta do quarto. Ela se olhava no espelho vestindo um vestido azul todo rendado e uma sandália com pedrinhas brilhantes. — Uau, você está linda!

— Vamos logo, Alicia. — Ela diz, ainda parecendo brava comigo. Eu assinto com a cabeça e a guio até a trilha de pétalas feita por mim e pelo Mário. Marcelina muda de expressão, parecendo surpresa. — Isso... isso são pétalas de rosas brancas?

— São sim. — Eu respondo e continuamos andando em silêncio até a clareira. Quando chegamos, Marcelina vê Mário e arregala os olhos. Ele vestia uma blusa social branca e uma calça preta, fazendo com que ele parecesse outra pessoa, já que sempre estava usando roupas esfarrapadas.

— Oi, minha princesa! — Mário diz, pegando a mão de Marcelina, que parecia chocada. O garoto acena com a cabeça para mim e eu aceno de volta.

Deixo os dois em seu encontro e as palavras ditas por Marcelina e Paulo voltam a minha cabeça enquanto voltava para o acampamento.

"Primeiro tava toda toda com o meu irmão, quando percebeu que ele não te quer, pulou direto pro garoto que eu gosto!"

"Afinal, qual o problema de dar em cima de todos os garotos do acampamento, até os que não estão solteiros!"

"Sua talarica traidora!"

"Você além de estar sendo uma filha da puta, vai querer se pagar de desentendida então?"

Essas palavras que me doeram tanto não me deixavam em paz, o que me fez pular a janta e ir direto ao dormitório para pensar.

Será que essa é a impressão das pessoas sobre mim? Bem que Nicholas me chamou de puta mesmo, talvez ele estivesse certo. Talvez eu realmente fosse uma puta que não merecesse nada além de desprezo.

Eu permaneço inerte deitada no meu beliche, absorta nos meus pensamentos, quando escuto a porta se abrindo. Eu continuo na mesma posição, imaginando que era alguma das meninas que tinha esquecido alguma coisa.

— Alicia? — Eu estremeço ao ouvir a voz grave de Paulo.

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E então? Será que eles se resolverão
ou a briga vai continuar?
Espero que estejam gostando da
história! Obrigada por terem
lido até aqui!

Com carinho, R.

Maybe it's love - Paulicia Onde histórias criam vida. Descubra agora