Capítulo XVIII

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Alicia Gusman

E se passou uma semana. Uma semana terrível que só tive momentos de paz em meio as borboletas do jardim. Uma semana sem exercícios, sem adrenalina e, basicamente, sem felicidade.

Mas uma coisa que essa semana semana teve, foi estresse: aquela garota não me deixava em paz.

Clarice aparentemente criou uma fantasia em sua cabeça de que Paulo era apaixonado por ela e que eu, a vilã da história, o enfeiticei para esquecer da garota, fazendo-o ter olhos apenas pra mim. Se eu fosse uma bruxa e pudesse enfeitiçar qualquer um, por que escolheria o Paulo Guerra ao invés de ressuscitar o Kurt Cobain?

Resumindo, a garota enlouqueceu e não parava de me encher o saco! Até ameaças eu recebi.

Mas hoje é finalmente sábado e eu poderei tirar minha bota ortopédica. Estranhamente, Clarice conversou comigo de maneira simpática e me pediu para ir à enfermaria as 14:30 em ponto, a pedidos da velha... quer dizer, enfermeira titular.

Eu estava ansiosa e não ter saído do dormitório não estava ajudando, mas eu estou tão nervosa que não sei o quão bem me faria conversar com qualquer pessoa que seja.

E se meu pé não estivesse curado? E se eu não conseguisse mais andar? E se eu nunca mais pudesse praticar nenhum esporte?

Os questionamentos rodavam a minha cabeça e quando deu 14:23 eu não consegui mais aguentar, indo o mais rápido que consegui até a enfermaria.

Abro a porta do lugar em um baque e arregalo os olhos. Paulo estava lá. Com Clarice.

Quando abri a porta os dois se separaram repentinamente e eu não sabia o que sentia: ódio ou decepção. Acho que um misto dos dois.

— Alicia... Amor... E-eu posso explicar! — Paulo fala e eu engulo os lágrimas, evitando o seu olhar.

— Você pode chamar a porra da enfermeira e tirar essa merda do meu pé, Clarice? Ou nem pra isso você serve? — Eu digo e ela vai correndo até a sala da enfermeira.

— Alicia, me escuta, por favor! — Paulo fala se aproximando de mim. Eu me afasto, ainda evitando encará-lo.

— Para de fingir se importar, Paulo. Fica com a garota, não tem problema! Só não fala mais comigo, ok? Só me deixa em paz. — Eu digo com a voz entrecortada. Nunca imaginei que me sentiria assim em relação a Paulo Guerra. Sempre soube que ele era um babaca, mas achava que não chegava nesse nível. Me enganei.

— Mas Alicia! Me deixa explic... — Ele foi interrompido pela enfermeira e pelo projeto de aborto que entraram na sala.

A mulher mais velha analisa o meu pé e FINALMENTE anuncia sua melhora, mas me passa algumas recomendações. Caso dores e inchaço voltassem, eu deveria voltar aqui.

Saio correndo pela porta e me sinto livre. O vento batendo no meu rosto era o que eu tanto sentia falta e o que eu tanto precisava.

Corri até a floresta, tentando evitar as lágrimas que caiam pelo meu rosto.

A liberdade foi devolvida a mim, mas o meu namorado foi arrancado.

Corro até uma clareira afastada, uma que ninguém além da minha família conhecia. E era ali que ficava o túmulo do meu pai.

Eu sento em um pequeno banco que ali se encontrava, colocando as mãos na testa e não conseguindo mais conter as lágrimas.

— Porque ele fez isso comigo, pai? Porque, depois de tudo que a gente passou, ele fez isso comigo? — Eu pergunto aos prantos, não esperando resposta alguma.

A clareira era linda, florida e estava sempre repleta de pequenos insetos como borboletas e joaninhas, o que era pertinente por que eram os animais favoritos de meu pai.

Fazem três anos que meu pai morreu em um acidente de avião. Sempre se fala que a chance de um avião cair é uma em um milhão, mas quando eles caem, levam muita coisa junto.

— Ele dizia que gostava tanto de mim, pai! Como eu pude ser tão burra? Eu me sentia tão segura no abraço dele! Quase tão segura quanto eu me sentia no seu abraço.

E assim eu permaneço por horas e horas, chorando no túmulo do meu pai pela perda do meu ficante, por que nem pedido de namoro eu recebi dele.

Anoiteceu e os vagalumes começaram a aparecer na clareira. Eles voavam iluminando a região e sua beleza era tanta que consegui parar de chorar. Alguns pousaram aos meu redor e iluminaram as lindas flores que se encontravam ali.

Eu estava dividida entre voltar ao acampamento ou permanecer ali pela noite. Quando meu pai recém tinha falecido, eu fazia isso quando ficava muito triste. Me escondia na clareira até que anoitecesse e eu ficava com preguiça de voltar, então dormia por ali mesmo, por isso, eu tinha escondido uma mochila com uma barraca ali.

Armo a barraca e faço uma fogueira para me esquentar. Eu estava com um pouco de fome, mas ela não me incomodava mais do que os meus pensamentos.

— Eu queria tanto que você ainda estivesse vivo, pai! Queria tanto o seu abraço de novo.

E é aí que eu pego no sono: encarando o céu estrelado através do teto transparente da barraca com os olhos inchados de tanto chorar.

— Sempre se escondendo aqui né, minha neta adorada! — Acordo com a voz do meu avô, que tinha colocado a cabeça para dentro da barraca.

Já era dia, mas eu não fazia ideia de que horas eram.

— Ficaram preocupados, você não apareceu pro almoço e as garotas falaram que você não esteve no vestiário a noite. — Ele diz e eu arregalo os olhos, surpresa por já ter passado do meio dia.

— Que horas são?

— Três da tarde. — Ele diz, me surpreendendo mais ainda. — Imaginei que você estava aqui e consegui acalmar os ânimos para você ter o tempo que precisava. Aquele seu namoradinho, Paulo, era o mais preocupado de todos!

— Não quero mais saber desse cara. — Eu digo brava e meu avô faz sinal de rendição, surpreendido pela minha grosseria repentina.

— Então aquele malandrinho é o responsável pela tristeza da minha neta? Ele vai ver só! — Meu avô brinca, arrancando um pequeno sorriso do meu rosto. — Agora vamos voltar para o acampamento, Alicia, antes que chamem a polícia!

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Eai, gurizada? O que será que realmente aconteceu naquela enfermaria? Também estão decepcionados com o Paulo?
Obrigada por todas as leituras e por estarem acompanhando a história! Espero que estejam gostando!

Com carinho, R.

Maybe it's love - Paulicia Onde histórias criam vida. Descubra agora