capítulo dois

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Alícia esperava ansiosa pela resposta de Cirilo. No período da tarde, os dois combinaram de se encontrar para tomar sorvete e depois irem para a pista de skate encontrarem com o resto dos meninos. Ela havia contado o plano que elaborou para o menino. Ele parecia estar processando as ideias em sua cabeça.

Muitos poderiam considerar a amizade de Alícia e de Cirilo improvável, outros acreditavam que até existiam sentimentos envolvidos. Mas a verdade é que durante os anos eles foram se aproximando, e encontram um no outro uma amizade sensacional. Eles eram melhores amigos, e confidentes também.

─ Tá... ─ Cirilo parecia um pouco assustado. ─ Deixa eu ver se entendi. Para ser a rainha do baile, você quer fingir um namoro com o Paulo!?

─ Isso ─  a menina sorriu enquanto brincava com a pazinha de sorvete.

Para ser sincera, ela se achava genial. Alícia tinha ficado bem chateada com a conversa que teve com as outras meninas no período da manhã, e por este motivo ficou planejando algo que fizesse Maria Joaquina engolir suas palavras. E as palavras que mais ficaram na mente de Alícia foram as de Valéria, "O Paulo está totalmente caidinho por você. Só você não vê.", e se Valéria estava shippando os dois, certamente o resto da turma também.

─ E como você vai convencer ele a fazer isso?

Ela encarou Cirilo surpresa. Não havia pensado nisso, com certeza Paulo não aceitaria de bom grado se ela somente pedisse. Ela precisava pensar em algo para dar em troca. E naquele momento, parecia que todos os seus neurônios tinham fritado.

─ Eu não sei. ─ Alícia afundou a cabeça na mesa.

─ Eu tenho uma ideia... ─ Cirilo sorriu. ─ Mas você vai ficar me devendo uma.

─ Qual é a ideia?

─ Você vai ver.

***

Andar de skate era como uma terapia para Alícia. Ela simplesmente se desligava do mundo, prestando atenção somente no barulho das rodinhas que já estavam desgastadas e sentindo o seu cabelo contra o vento. Então ela demorou pra perceber que os meninos já não estavam mais acompanhando ela.

Ela parou e procurou por eles, vendo que estavam em uma rodinha. Cirilo parecia estar conduzindo a conversa, enquanto Jaime, Kokimoto e Paulo prestavam bastante atenção. Quando ela foi se juntar a eles, a roda de conversa se dispersou. Cirilo sorria vitorioso para ela. Agora quando prestava atenção em Cirilo, ela percebia que ele cresceu, que se tornou um garoto muito bonito, e com o dobro de coração que tinha quando era pequeno.

─ Eu já cuidei de tudo, agora ele vai ter um motivo para ir.

***

─ Alícia! ─ Valéria puxou o braço da menina, os cruzando. ─ Vem comigo, é uma emergência!

Alícia estava confusa, havia acabado de chegar na escola. Levou um susto quando a outra menina apareceu, tirando-a de seus pensamentos sobre o plano de Cirilo. O menino não revelou em momento algum o que tinha feito ou sequer mencionado sobre o que foi a conversa com os outros, e isso estava matando Alícia de curiosidade.

─ Pra onde você tá me levando?

─ Pro banheiro, ué ─ a outra respondeu como se fosse algo óbvio.

Quando elas chegaram no banheiro, Alícia conseguiu ouvir um choro, baixinho, mas preocupante. Valéria falou em um sussurro "É a Carmen". Alícia bateu na porta da cabine e chamou pela outra menina. A porta abriu lentamente, revelando uma Carmen com os olhos vermelhos, secando as lágrimas. Carmen estava muito bonita, usava um óculos com armação rosa e agora prendia seus cabelos com presilhas.

─ Car, o que aconteceu? ─ Alícia perguntou pegando na mão de sua amiga.

─ Eu não quero falar muito sobre... ─ Ela respondeu, tirando a mão da outra da sua.

─ Foi o Paulo, não foi? ─ Valéria se permitiu entrar na cabine, assustando Carmen. ─ Se foi ele eu dou um jeito nele.

─ Foi ─ ela admitiu, soltando um suspiro. ─ Mas não só ele. Os meninos chegaram na aula falando sobre uma aposta no baile. Quando eu perguntei, eles me explicaram que cada um da sala devia dar 50 reais, que seria uma espécie de prêmio para o rei e para a rainha do baile.

Então esse era o plano de Cirilo. Alícia agora se amontoava junto com Valéria dentro da cabine, ouvindo Carmen: "E a Maria Joaquina se intrometeu, como sempre, dizendo que eu não precisava participar se eu não conseguisse pagar. E o Paulo disse que eu precisava participar, porque se eu não participasse e fosse eleita rainha eu não ia receber o dinheiro. E a Maria Joaquina começou com o discurso dela de que só ela tem capacidade de ser rainha... e enfim."

─ Esses dois são muito babacas! ─ Valéria bufou.

─ E você quer participar, Carmen? ─ Alícia perguntou.

─ Sim, eu quero, mas eu não tenho condição nenhuma de participar. Eu não gosto muito de falar sobre isso, mas meus pais não estão nas melhores condições. Nós melhoramos muito, vocês sabem. Mas mesmo assim, não tenho como dar 50 reais para algo que eu nem tenho certeza de que vou conseguir ganhar de volta...

─ Não se preocupe ─ a skatista falou, limpando uma lágrima que desceu da bochecha da outra. ─ Eu pago para você.

─ E onde vai arranjar dinheiro? ─ Valéria perguntou, cruzando os braços. ─ Tu não tá metida com droga não, né?

─ Claro que não! ─ Alícia deu uma gargalhada. ─ Nem todo mundo que tem dinheiro fica se mostrando igual a Maria Joaquina, sabia?

Depois que Carmen lavou seu rosto, as três andaram para a sala. Alícia recebeu uma mensagem de Cirilo: "Agora você só precisa convencer ele". E a menina estava impressionada, ela não sabia que Cirilo conseguiria bolar um plano assim em tão pouco tempo. Mas agora para ela havia sobrado a parte mais difícil: convencer Paulo Guerra a ser seu par no baile.

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