capítulo três

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Paulo bufou, ele estava esperando sua mãe para buscá-lo na escola. Já que a Marcelina havia faltado, o menino se apoiava em uma árvore na frente do prédio da Escola Mundial enquanto ouvia uma música em seus fones de ouvido. Uma mão tocou o ombro do menino, que quase caiu devido ao susto.

─ O que você quer? ─ Perguntou ríspido, tirando um lado do fone.

─ Podemos conversar? ─ Alícia sorriu, gentil.

─ Não ─ ele colocou o fone novamente.

A menina revirou os olhos, o cutucando novamente. Ele fingiu que não estava sentindo, para poder ignorá-la. Paulo não tinha nada contra Alícia, somente a achava um pouco chatinha. Não era alguém que ele gostaria de ser amigo. Um tapa foi desferido em sua nuca, derrubando o fone.

─ MULHER? ─ Gritou furioso. ─ O que você quer, porra?

─ Eu quero conversar, ─ ela cruzou os braços. ─ Como eu já disse, seu idiota.

─ Tá, fala logo. ─ Estava impaciente, enquanto juntava os fones. ─ Desembucha.

─ Então...

Na hora que a menina ia começar a falar, o celular de Paulo tocou. Sem hesitar, ele atendeu, deixando Alícia com cara de tacho. Ao terminar, a ligação ele revirou os olhos para a menina.

─ Olha, eu tenho que ir para casa a pé. Então, se você quer falar comigo, vem atrás.

─ Tá.

***

─ Eu concordo ─ ele falou, sério.

Eles estavam perto da casa de Paulo, quando Alícia terminou de contar seu plano. Ela encarava confusa ele, não acreditava que conseguiria tão facilmente. Ele realmente concordou em ser seu par pro baile.

─ Mas como vai ser a divisão do dinheiro?

─ Metade para cada, ué.

Ele pareceu pensativo enquanto andava até sua casa. Alícia ia em seu encalço, esperando uma resposta um pouco mais concreta. A menina estava com seu skate debaixo do braço. Quando chegaram na casa do menino, pararam em frente.

─ Tá, eu aceito ─ falava com certeza agora. ─ Mas temos que fingir que estamos namorando?

─ Não necessariamente... ─ Ela pensava em voz alta. ─ Podemos só fingir que estamos ficando ou algo do tipo...?

─ Você não pensou nisso direito?

─ Não... ─ Alícia encarou o chão.

─ Que bom que você escolheu o maior e melhor planejador da escola.

─ E o menos convencido, né?

Eles selaram o acordo com um aperto de mão, e Alícia foi embora em cima de seu skate, com um sorriso bobo no rosto. Mal imaginava que da janela de casa, Marcelina tirava uma foto dos dois juntos e mandava para Valéria.

***

─ Filha, ─ o pai de Alícia a chamou. ─ Vem aqui, falar no telefone com seus tios.

Ela concordou, indo para o telefone, conversando e jogando papo fora. Seus tios moravam na Irlanda por mais ou menos uns 10 anos, e sempre tentavam convencer ela e seus pais a irem para lá. Eles já foram visitar umas cinco vezes, mas os outros prometiam que morar lá era uma experiência totalmente diferente. E para ser sincera, Alícia não sentia a menor vontade de mudar de cidade, país e muito menos de continente.

Quando terminou a conversa, seus pais estavam sentados à mesa. Anderson e Roberto eram os pais mais atenciosos do mundo. E Alícia os amava, ela era filha única e podia desfrutar do melhor do carinho de ambos. Ela sentou na mesa com eles, confusa.

─ O que foi?

─ Sua prima vai vir passar um tempo aqui... ─ Anderson passou a mão pelos seus cabelos grisalhos.

─ Um tempo? Quanto exatamente?

─ Daqui a duas semanas, ela vai passar três semanas aqui. ─ Roberto falou cruzando as mãos. ─ Sei que vocês não têm a melhor das relações, mas por favor, vamos recebê-la bem.

Alícia não gostava muito de sua prima. Eleonora era muito exibida e esnobe, o que deixava Alícia totalmente irritada. Bonecas, vestidos e maquiagens eram coisas de que ela se gabava. E nunca parava pra ouvir Alícia. Mas bom, ela poderia ter mudado, fazia tempo que não conversavam.

─ Mas por que ela vai vir? ─ A menina cruzou os braços. ─ A Irlanda não é mil maravilhas?

─ Então... ─ Roberto se continha para não demonstrar animação. ─ Sua tia Sara e seu tio Fred vão para um retiro de fertilidade, eles estão tentando engravidar há algum tempo e não estão conseguindo.

─ Dizem que esse retiro faz mágicas nesse quesito. Então talvez você ganhe um novo priminho, ou priminha. ─ Complementou Anderson.

─ Essa foi a história mais esquisita e bizarra que eu já ouvi em muito tempo. ─ A menina bufou. ─ Mas tudo bem, prometo me comportar com Eleonora.

Depois dessa conversa, eles jantaram macarrão ao molho branco, preparado por Roberto, que era o dono e chef do restaurante mais bem criticado da cidade. Alícia foi para o seu quarto após terminar de comer, se deparando com várias notificações de mensagens vindas de Valéria.

"COMO ASSIM? EU DISSE QUE VOCÊ E O PAULO TINHAM QUÍMICA."

Alícia estava confusa, abrindo a conversa. Aparentemente alguém tinha pensado que estava em uma série adolescente e tirou uma foto dela e de Paulo. E agora o grupo das meninas da escola estava surtando, querendo saber de todos os detalhes, se eles haviam se beijado, se estavam namorando e tudo o mais. Um sorriso tomou conta do rosto de Alícia. O plano já estava dando certo antes mesmo de ter sido colocado em prática.

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