capítulo quatro

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─ Aí amiga, tô feliz que pelo menos uma de nós está num relacionamento legal. ─ Valéria falou, se apoiando na pia do banheiro, de braços cruzados.

─ Primeiro, eu não estou em um relacionamento. ─ Alícia falou, enquanto lavava o rosto. ─ E segundo, como estão as coisas com o Davi?

─ Não vai, né ─ a outra entregou uma toalha de papel para Alícia secar o rosto. ─ Eu acho que ele é gay, ou alguma coisa assim.

─ Amiga, ele não é gay ─ a skatista revirou os olhos.

─ Mas nossa, faz tempo que ele não me beija...

─ Mas isso não significa que ele seja gay. Eu sei, meus pais são gays.

─ Mas então o que seria? ─ Valéria perguntou frustrada. ─ Eu acho que ele não me ama mais.

A porta de uma cabine do banheiro se abriu, revelando Maria Joaquina. A menina deu um sorriso amarelo para as outras, e foi lavar as mãos. Valéria encarava ela, enquanto Alícia sentia que Majo não ia se aguentar e falar algo, porque com certeza ela ouvira a conversa.

─ Se você quer descobrir se ele é gay e se ainda te ama, você tem que tentar fazer aquilo com ele. ─ Maria Joaquina falou, agora retocando seu batom.

Aquilo? ─ Alícia perguntou, inocentemente.

─ Sim, aquilo. ─ Maria se virou para as duas, sorrindo. ─ Se precisar de ajuda, me manda mensagem.

E saiu do banheiro, juntamente com o seu ar de superioridade. Alícia ficou preocupada quando percebeu que Valéria estava realmente considerando dar um passo a mais no seu relacionamento.

─ Você não vai fazer isso, né?

─ Claro que não.

As duas foram para a sala, mas Alícia não sentiu muita firmeza nas palavras da amiga. E ela não conseguiu parar de notar no olhar da outra para Davi durante a aula. Com certeza ela estava ponderando sobre, mas Alícia sabia que aquele assunto não era sobre ela, então tentaria ao máximo não se meter.

***

─ Você ainda gosta dela? ─ Alícia se sentou ao lado de Cirilo.

O menino a encarou, confuso. Era verdade que ele estava observando Maria Joaquina durante o intervalo, mas será que todo mundo percebeu? Ele rapidamente recuperou sua postura e disse que não.

─ Mas ela me convidou hoje para ir para a casa dela.

─ E você vai? ─ Alícia estava curiosa.

Depois de todos os anos em que Cirilo foi humilhado e feito de capacho por Maria Joaquina, eles deram uma chance ao romance e começaram a namorar no nono ano, porém terminaram no mesmo ano. A menina havia dito que tinha mudado mas ainda continuava mesquinha. E agora, dois anos depois, e várias sessões de terapia, ela poderia realmente ter mudado. Uma coisa não mudou durante esses dois anos: ela continuava completamente apaixonada por Cirilo. E como Alícia dizia para ele: "O jogo virou, não é mesmo?"

─ Acho que vou ─ ele deu de ombros. ─ Não sei.

─ Você vai ficar com ela? ─ A menina perguntou, incrédula. ─ Você sabe que ela não é flor que se cheire, né?

─ Alícia... ─ Cirilo revirou os olhos. Ele ia responder, mas algo chamou sua atenção. ─ Acho que você não deve se preocupar comigo e Majo agora.

Ele apontou para duas pessoas que estavam rindo e se divertindo juntos no pátio da escola: Paulo e Margarida. Alícia espremeu os olhos para enxergar melhor, tentando entender o que eles estavam fazendo juntos, aparentemente estavam só conversando.

faz de conta ➵ paulíciaOnde histórias criam vida. Descubra agora