capítulo sete

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Eleonora havia chegado há dois dias e já estava irritando Alícia. A menina se apossou do banheiro, faltando uma hora para Alícia estar na escola. Ela havia acordado e quando foi tomar seu banho, que tomava religiosamente todo dia antes de tomar seu café da manhã, a porta estava trancada e ela só conseguiu ouvir Eleonora berrando uma música do Harry Styles enquanto a água do chuveiro caía. Alícia foi pisando forte até a mesa do café da manhã, assustando seus pais.

─ Vai tomar café antes do banho? ─ Anderson perguntou inocentemente.

─ Como se eu tivesse opção ─ a menina rosnou, raivosa. ─ Aquela parasita está no banheiro.

─ Ei! ─ Roberto a censurou. ─ Não chame sua prima assim.

─ Desculpa ─ ela revirou os olhos. ─ Mas é que acabei de acordar.

─ Um pão doce sempre te anima! ─ Anderson ofereceu a bandeja com pães doces, enquanto bebericava seu café.

Alícia realmente adorava pão doce, então comeu a massa e tomou seu café da manhã. Faltando 30 minutos para a aula começar, ela ouviu os passos de Eleonora descendo as escadas. E seu queixo caiu quando viu que a menina usava um de seus uniformes escolares. Alícia bufou e perguntou o porquê dela estar vestida assim.

─ Ela vai ficar indo para aula na sua escola enquanto está por aqui ─ respondeu seu pai, Roberto, olhando por cima do livro que lia.

Alícia pestanejou, encarando Eleonora por um tempo, e correu para as escadas. Ela não conseguia explicar, mas Nora a atormentava de um jeito irracional, e era totalmente absurdo o fato de seus pais não se importarem com isso. Quando se certificou de que o barulho da água era alto, ela soltou um berro debaixo do chuveiro.

***

─ Quem é ela? ─ Maria Joaquina perguntou, olhando para Eleonora de baixo para cima. ─ Ela é bonitinha.

─ Obrigada ─ a outra menina agradeceu, colocando seus longos cabelos castanhos escuros por trás dos ombros.

─ É minha prima. ─ Alícia falou. ─ Eleonora, ela mora na Irlanda mas está visitando aqui.

Wow! ─ Bibi exclamou! ─ Really!?

E a ruiva puxou Nora, entrelaçando seus cotovelos e começou a conversar em inglês com ela enquanto caminhava pela sala. Majo encarou a situação, arqueando uma sobrancelha. Ela se virou para Alícia.

─ Às vezes a Bibi é tão estranha.

─ Às vezes? ─ Alícia perguntou, ironicamente. Elas riram e Alícia sentia que algo estava faltando. ─ Onde está Valéria?

─ Não sei ─ ela pensou por um tempo. ─ Ela não veio ontem para a aula, e pensando bem não vi uma mensagem dela no grupo das meninas.

─ Vou mandar uma mensagem.

No momento em que Alícia falou isso, foi como mágica. Seu celular apitou, recebendo uma mensagem de Ricardo, o pai de Valéria.

Oi, Alícia. Desculpa incomodar, mas eu estava pensando se você e as meninas podem vir aqui em casa depois da aula para conversar com a Valéria. Ela não saiu da cama. Agradeço.

E assim como Ricardo Ferreira havia pedido, Alícia se juntou com Carmen, Maria Joaquina, Laura e Eleonora foram até a casa de Valéria. Carmen e Laura carregavam sacolas de papelão com comidas diversas. Marcelina não pôde ir por conta de um almoço de família ou algo assim, enquanto Bibi estava brigada com seus pais, então preferiu não arriscar um castigo. Ao chegarem na casa, Alícia começou a procurar entre as pedras que decoravam uma espécie de jardim.

─ Endoidou de vez? ─ Maria Joaquina perguntou.

Alícia revirou os olhos. Quando encontrou a chave escondida, ela sorriu convencida para Majo, que demonstrou estar surpresa. Elas adentraram na casa, logo correndo escada acima. A porta do quarto de Valéria estava trancada, então Maria Joaquina deu algumas batidas com o nó dos dedos. As meninas ouviram uma movimentação dentro do cômodo, mas ao contrário do esperado, Valéria não atendeu a porta.

─ Valéria? ─ Laura chamou. ─ Somos nós, suas amigas.

─ Vão embora! ─ A voz abafada berrou.

─ Não vamos ─ agora foi a vez de Carmen se manifestar. Ela andou até a porta e a tocou. ─ Abre, Val. Nós temos coisas para conversar.

Um argh furioso e arrastado, foi seguido dos passos da menina e por fim a porta do quarto foi aberta. O quarto estava totalmente escuro, com a luz apagada e as cortinas fechadas. Valéria rapidamente correu de volta para a cama, enquanto escondia-se dentro das cobertas.

─ O que vocês querem? ─ Murmurou baixinho.

─ Nossa amiga de volta! ─ Laura exclamou.

Valéria agora estava completamente escondida debaixo das cobertas. Alícia se aproximou, sentou-se na beira da cama e passando a mão no que ela achava ser a cabeça de Valéria, quase como num toque maternal.

─ Por que você tá tocando no meu peito? ─ A menina perguntou.

Alícia retirou a mão, constrangida, enquanto as outras meninas riram. Maria Joaquina foi até o lado da cama e arrancou as cobertas de cima de Valéria, enquanto Carmen e Eleonora abriram as cortinas do quarto, deixando a luz solar invadir o mesmo. Valéria escondeu o rosto e os olhos com as mãos.

─ Ei, vampira, estamos preocupadas com você. ─ Majo tentou tirar as mãos do rosto da garota, que tentou resistir mas acabou por ceder. ─ Por que você está assim?

─ Porque eu passei o maior vexame de todos.

─ Dúvido que tenha sido pior do que eu passei ─ a voz de Eleonora espantou algumas das meninas, principalmente Alícia, que direcionou um olhar feio para a prima.

─ Isso não é uma competição de vexames ─ a skatista disparou, enquanto cruzava os braços.

─ Não. ─ Valéria saiu debaixo das cobertas. ─ Deixe ela contar, quem sabe isso pode me animar...

E então Eleonora se propôs a contar histórias vergonhosas para animar Valéria, e todas as meninas se animaram a fazer o mesmo. Alícia acabou cedendo e ficou feliz quando passaram a tarde em uma roda no chão do quarto comendo, contando histórias e fofocando. Quando a tarde acabou, Valéria estava muito mais feliz e animada com a vida, pelo visto ela tinha esquecido de Davi e finalmente entendeu que não precisa de um namorado para sair da cama.

No caminho de volta para casa, Eleonora se sentou ao lado de Alícia no carro, no banco traseiro. No momento em que se encostou no revestimento do assento, Nora caiu no sono. Sua prima então, a cobriu com uma jaqueta. Talvez ela estivesse com sono por causa de jet lag ou algo do tipo. Enquanto Eleonora dormia, Alícia se pegou observando e sorrindo. Eleonora Gusman não era um pé no saco, afinal de contas.

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