Brianna

— Estes mitos ainda vão acabar com a humanidade, pai. Produto de limpeza com água tônica de quinino? Quem inventou que essa bomba funciona para a merda que for?

O Harvey anda de um lado para o outro, frustrado com a ligação do pai. Enquanto ele discute medicina, eu jogo meu joguinho de busca por objetos no celular, esperando pela resposta do time para um trabalho do Harvey com a liga e esperando a diretora da escola mandar o quadro de horários deste mês para ver se preciso trabalhar lá algum dia.

— Brianna, confira minha agenda de dezembro e me confirme as datas que estarei em Nova York e quando volto para Boston.

Confiro, informo ele e ele me pede para inverter as datas. Mudo na agenda e digito um e-mail para o hotel e espero ele decidir de verdade. Da última vez que ele me pediu para mudar as datas, enviei o e-mail, meio minuto depois ele precisou mudar para a data original e o hotel mandou uma resposta tão pouco educada que o Harvey fez questão de avaliar com uma estrela em todos os sites de hotéis. Lavou a minha alma, mas não quero repetir a dose.

— Inverta de novo. Não, espera. — ele ouve alguma coisa. — Sim, inverta de novo. As pessoas enlouqueceram de vez, pai. Estamos nos anos dois mil e dez e ainda acreditam em qualquer um que fala qualquer coisa? Eu passei seis anos na faculdade estudando para vir alguém que não sabe nem que antibióticos não são antivirais e simplesmente dizer para tomarem uma mistura maluca? Peça para essa pessoa fazer uma cirurgia então.

Ele vai para o quarto e eu passo de fase no joguinho. Recebo um e-mail que me faz precisar parar com o joguinho por hora, porém. O relações públicas da Nara acha melhor adiar o próximo encontro com o Harvey porque ela tem um comercial de cabelo para gravar. Só confirmo com um "ok" e continuo com o meu joguinho. Antes que eu consiga passar de fase novamente, o Harvey cai ao meu lado no sofá.

— Eu te pago para ficar jogando joguinhos?

— Você me paga para fazer o meu trabalho. Não tenho nada para fazer neste minuto, então eu jogo pra me distrair até a próxima coisa aparecer.

— Você ficaria louca trabalhando em um hospital, o tempo livre que temos dá pra comer, dormir e conversar um pouco.

— Provavelmente. O que você quer comer à tarde? — fecho o joguinho após perder e abro a lista da nutricionista dele.

— O que tem para mim aí?

Cito a lista toda de opções para café da tarde e ele faz uma careta para o meu computador.

— A Nara quer fazer uma trilha em uma montanha? Não gosta de frio, ela esqueceu disso?

— Eu perguntei para o assistente dela, ele disse que ela ouviu falar que é muito saudável. Admiro a força de vontade dela.

Ele me olha.

— É muito saudável, apesar dos pesares, e você vai junto.

— Vou pedir folga neste dia. Acho que eu não só vou para o céu direto se ousar subir uma montanha, como Deus leva o meu corpo junto, de tanta dó.

— Atividades físicas fazem bem. Eu estarei lá, caso você precise de atendimento. Não é uma discussão, eu preciso estar lá, a Nara me falou que precisa falar comigo urgente no nosso próximo encontro, e não posso sair sem você. Vamos devagar, se você precisar nós voltaremos.

Sabendo que ele não vai desistir, aceito com um aceno de mão. Ele beija a minha bochecha, que eu limpo imediatamente.

— Não aja como se eu nunca tivesse beijado outras partes suas, Brianna. — ele brinca, com o fundo de verdade me cutucando.

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