Brianna

Meu maravilhoso sono na minha cama em casa é sagrado. Significa que estou de folga e descansando, e depois de aproveitar a noite de folga ontem para ir a um clube, é ainda mais sagrado. Só que meu celular não para de tocar, interrompendo o que não deveria ser interrompido. Coloco o aparelho na orelha, sem abrir os olhos e clico para atender com a minha memória sobre onde está o botão.

— Não me faça chamar a Lady Gaga para cantar Telephone para você, Harvey. Pare de me ligar, eu deixei minha cabeça e minha piedade na pista de dança ontem, você não quer lidar comigo hoje.

— Como você sabe que sou eu? Mudei de número.

— É domingo. Quem mais encheria meu saco em um domingo de manhã?

— Eh, você está de mau humor. Está acompanhada?

— Não, Harvey, não estou acompanhada. Não trago estranhos para a minha casa, eu assisto o Discovery ID, tá? Sei melhor que isso. O que você quer?

— Mmm, meu aniversário foi na terça-feira, só que nós dois estávamos trabalhando em cantos opostos da cidade e não deu para fazermos nada e o resto da semana também foi cheio. Como sou seu único amigo na cidade, pensei em vir hoje para comemorar com você, já que não me atendia ontem.

— Se você é meu único amigo, estou muito grata por não ter inimigos na cidade. Eu já teria ido pelos ares.

— Abre a porta logo, está chovendo e estou com frio.

— Espera. Você está aqui? No meu prédio? — apartamento 219, não é o seu?, ele pergunta. — Harvey, você não pode vir aqui sem me avisar. A vizinha que morava ao lado apontaria um rifle para a sua cara sem pensar duas vezes. Era totalmente cega e parcialmente surda, e tinha um sexto sentido excelente. E o dono do prédio, ele tem uma coisa por mim, e acho que está envolvido com umas coisas meio perigosas. — abro a porta e encerro a ligação. — É arriscado não me avisar que está vindo, para dizer o mínimo.

Ele parece meio assustado.

— E você consegue dormir aqui sabendo dessas coisas?

— A vizinha não está mais neste plano, o vizinho não traz os assuntos dele para cá, pelo menos que eu saiba, mas não sei como reagiria. O que você tem aí? — tento sentir o cheiro do que está na caixa que ele está carregando.

— O café da manhã. O que você quer dizer com "não está mais neste plano"? Que plano é este? Você está envolvida em coisas perigosas também?

— Plano astral, Harvey. Ela foi para o céu, bateu as botas, segurou na mão de Deus e foi, entende? Mas sim, estou envolvida com coisas bem perigosas, como a privação de sono e o trabalho aos domingos. Ouvi dizer que pessoas começam a perder a razão a partir disso.

Ele me ignora, e eu abro a sacola que ele trouxe, ele senta no meu sofá e não tenho tempo de avisar que está molhado por culpa da infiltração no teto. Ele levanta imediatamente.

— Não estou aqui para você trabalhar. — ele diz, e eu não consigo responder, com a boca cheia de uma torta que foi a mãe dele quem fez, tenho certeza. — Vim para comemorar com você.

Engulo a torta antes de falar.

— Certo. Comer torta e sentar no chão para ver o filme que estiver passando na televisão, é o que eu vou fazer. Você tem certeza que quer participar disso? Sua celebração poderia ser mais animada que isso.

— E será. Vamos sair. Termine de comer e se troque.

Não questiono, pelo menos não até estarmos indo rumo ao destino desconhecido.

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