Prefácio

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"Era uma vez uma menina flutuando no mar sozinha,
Numa boia grandona cheia de bolinhas,
Indo mais e mais para longe,
E a mamãe brincando de esconde-esconde."

Estou em queda livre. Fui empurrada lá de cima. Ele tenta me segurar, mas continuo caindo.

Caindo.

Caindo.

E ao mesmo tempo estou parada no mesmo lugar. Dentro do quarto, encarando o horror. Sentindo a mão no meu ombro, o tremor na voz dos meus irmãos. O grito.

O grito que atormenta o meu sono.

Braços em volta de mim. Palavras no meu ouvido, eu não escuto nada além do meu coração. Tumtum. Tumtum.

Quando a manhã chegou e tudo aparentemente estava resolvido, eu sabia que não estava. Porque o rosto da Julia não estava conformado. Porque a Cheryl não parava de chorar.

Porque o grito estará sempre na minha memória. E o cheiro metálico jamais deixará as minhas narinas.

Porque eu não paro de correr para longe, mais longe, até Washington ser um borrão na minha memória. Ele me abriga, e a cidade também. E quando ele vai embora, a cidade é tudo que tenho. E não estou disposta a perder mais nada. Porque se eu perder algo mais...

Vou continuar correndo para sempre.

Tá bom, tá bom, sei o que vocês devem estar pensando. "Prefácio depois que a história começou, Nanda? E ainda mais esse negócio confuso." Mas isso faz sentido eventualmente. Tive uma intromissão da Brianna no meio de uma aula há pouco e precisei escrever isso porque percebi que ficou meio no ar os traumas dela - e essa é uma espécie de introdução a eles. Claro, quem leu a Quando em Vegas já sabe que a Marnie é o cão, mas algo mais aconteceu. O que é, vocês descobrirão ao longo da história :)

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