Brianna

— Supercola! — grito de animação ao encontrar o produto na prateleira do supermercado.

— Não, a revanche é minha, você não pode fazer uma revanche para algo que você causou. — o Harvey diz nos meus fones de ouvido. Pego e coloco no carrinho mesmo assim.

— Eu não estava falando com você. E não vou gastar uma cola tão cara com você de novo, é para os meus alunos.

— Você é professora de matemática, não de artes, Brianna.

— Matemática não tem que ser só números, quero demonstrar para eles o que eles estão criando com os cálculos. Estou formando seres humanos, não criando robôs.

— Você vai passar mais quantas horas comprando cola? Tem um monte de trabalho para fazer aqui, se você esqueceu.

Pego um aromatizante para carros, mas só de passar perto do meu nariz me dá dor de cabeça. O Harvey fala.

— Você sabe que é alérgica, por que continua pegando esse negócio? Para de enrolar e vem logo.

— Meu horário é às oito, são sete e cinquenta. Você não manda em mim por mais dez minutos.

— Você vai ganhar o salário de uma hora para ficar aqui por dez minutos e está reclamando?

— Sim. — resmungo.

— Você é chata demais.

— E você não me deixa pedir demissão, então lide com isso.

Ele fica calado porque sabe que estou certa. Como sei que desligar na cara dele vai fazer com que ele me ligue de novo, termino de pegar as minhas coisas e vou para o caixa. Ele sabe o que estou fazendo, porque diz:

— Como sei que você odeia que eu ligue de novo, o Stanton está pedindo para você comprar um lanche para ele.

— Me coloca no viva-voz. — peço, porque o filho da puta do empresário novo tem que ouvir de mim. — Não trabalho para você, Stanton, trabalho com você. Me tira do viva-voz. Você quer alguma coisa? Talvez um pouco de carinho para com a sua relações públicas muito atarefada?

— Compre alguma coisa para você comer de tarde, você está comendo só o café da manhã, vai acabar passando mal.

— Quem te disse que eu estou comendo só o café da manhã? — pergunto ofendida. Estou mesmo, mas odeio fofoca.

Por isso trabalho para evitar elas. Sobre outras pessoas, mas é válido.

— Você só deixa copos na lavadora, e não tem nenhuma compra de comida no cartão corporativo que você acabou de usar. — pego o dito cartão com a moça do caixa — E mesmo que comprasse com o seu dinheiro, não tem nenhuma embalagem de nada no lixo. Achou mesmo que eu não ia perceber?

Do que sei da vida pessoal do Harvey, ele é formado em medicina, filho de um médico com uma química, passa pelo menos uma semana das férias dele no hospital do pai trabalhando e, claro, é um pé no meu saco.

— Como uma barrinha de cereal e guardo a embalagem no bolso. Pode ver na minha jaqueta aí, bolso direito.

— Brianna, se você for parar no hospital, quem vai ficar com a cabeça na direção de um processo vindo da sua irmã sou eu, não você.

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