Brianna

Uma noite insone é algo com que estou acostumada, mas uma noite insone porque outra pessoa não consegue dormir é algo que pouco me acontece, principalmente sendo essa pessoa o Harvey. O celular que ele deixou na sala acordou a nós dois quando tocou à uma da manhã, e ele veio no meu quarto avisar que precisava ir até Salisbury buscar a mãe porque a irmã tinha sido levada para o hospital de ambulância com a madrasta dele de acompanhante, já que ela é médica e a mãe preferiu ir depois, e assim que ele voltou, próximo das três, eu estava esperando no sofá, querendo notícias da menina. Quando ele não conseguiu voltar a dormir, fiz companhia a ele.

Assim que o horário para visitas chegou, ele foi para lá e eu fiquei esperando por notícias. Uma hora atrás ele me mandou mensagens dizendo que tudo estava bem agora e que, se eu quisesse, poderia ir lá se estivesse de máscara. Curiosa como sou e considerando que ele nunca me chamou antes, troquei de roupa rápido e peguei o ônibus para o hospital. Me aproximo do quarto que ele mandou o número, e quase anuncio a minha chegada batendo na porta, mas escuto ele falando e paro no lugar.

— Sim, ela é bonita, já te falei isso oitocentas vezes, Ser. Minha opinião não muda assim, não sei por que você pergunta toda vez. — ele resmunga.

— Porque você não vê o brilho nos seus olhos quando fala dela, eu vejo. Ela te faz bem, Harvey. Você pode ser orgulhoso e não admitir isso, mas eu não estou aqui para mentir. Ela te deixa feliz, mesmo com todo o sofrimento que estou te causando, você está animado. Gosto de ver isso, você merece isso.

Bato à porta antes que ele responda, não querendo ouvir o que ele não sabe que estou escutando.

— É ela, pelo amor de Deus, não vá contar a história da bicicleta.

Ele abre a porta para mim e finalmente vejo a menina pela primeira vez e... é uma mulher. Não é uma menina, é uma mulher. Acho que o Harvey mencionou isso alguma vez, mas o meu choque mostra que não registrei a informação. Entrei aqui esperando encontrar uma criança ou uma adolescente, e quem está sorrindo largo para mim é uma mulher adulta.

— Bri, essa é a famosa Seraphine. Ser, conheça a Brianna, minha assistente. — o Harvey nos apresenta.

— Você esqueceu de mencionar para ela que sou um ser humano, não um cachorro. Onde já se viu, Harvey, você só fala de mim e dos seus cachorros e não avisa que não somos da mesma espécie. — ela brinca com o irmão.

Saio do meu estupor e reencontro a minha educação, indo até ela e pegando a mão estendida.

— É um prazer te conhecer. Na verdade, estou assustada porque do jeito que o Harvey fala de você, pensei que era muito mais nova. Pensei em uma criança de uns quatro ou cinco anos. — confesso, e ela olha para o irmão.

— O que você anda falando de mim, Harold?

— É mais o jeito dele de falar, ele faz parecer que a irmãzinha é um bebê ainda. — vou em defesa dele, porque ele jamais disse nada que pudesse ofendê-la, e pensando agora, acho que me avisou alguma vez.

Não que minha cabeça atabalhoada tenha registrado a informação corretamente.

— Bem, tenho vinte anos, não sou um bebê. Posso precisar de ajuda nos dias ruins, mas não sou um, tenha certeza disso. E você não me disse que ela era tão bonita e tinha tanto bom gosto para perucas.

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