Capítulo III

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Camilla

Olho no relógio e são exatamente 13:44, se não apertar o passo chegarei muito atrasada. Me perdi na hora, pois acabei cochilando na mesa da cozinha. Aff, odeio quando isso acontece comigo, mas ao menos estou mais descansada.

Fiz um almoço rápido, tomei banho, comi um pouco, me arrumei e saí em seguida. Estou indo para o hotel, mas não estou me sentindo muito bem, um pressentimento esquisito, coisa que não gosto nem um pouco de sentir. Esbarro em um homem que parece estar perdido no mundo da lua enquanto atravessa a rua, peço desculpas e ele me olha de cara feia como se a culpa fosse somente minha. Vai entender esse povo?

Chego no hotel e a primeira pessoa que vejo é o Afonso. Ele me olha da cabeça aos pés e balança a cabeça em negação, será que é por eu estar de chinelo? Está um calor absurdo lá fora, ele quer o que? Que venha de salto alto?
Me troco rapidamente e vou para o restaurante substituir Savannah, a bartender que atende de duas da manhã às duas da tarde. Eu sei, é um horário infeliz, mas necessitamos trabalhar e não é o emprego que tem que se adaptar a nós, não é mesmo?

Hoje estava completamente sem paciência, estava me segurando para não me estourar com ninguém, estava de um jeito que se me olhar no espelho poderia me irritar com a minha própria imagem. Isso deve ser TPM. Levo a primeira cantada do dia de um cliente bem saidinho, Savannah já tinha me dito que ele estava ali bebendo desde as dez da manhã, então por certo já deveria estar mais pra lá do que pra cá.

— A mocinha não está a fim de me fazer um agradinho? — ele sorri cheio das piores intenções e eu apenas o ignoro. — Não está me ouvindo, garota? — ele avança por cima do balcão e segura em meu pulso com muita força.

— Me solta, o senhor está me machucando! — falo entredentes, tentando não chamar atenção.

— Então responda a minha pergunta! — fala soltando o meu pulso e eu passo a mão para aliviar o aperto.

— Caso não tenha reparado, estamos em um hotel e não um puteiro, onde o senhor simplesmente escolhe e se serve! — ele apenas me sorri amarelo e pede mais uma dose de tequila. — Acho que o senhor já bebeu o suficiente por...

— E QUEM VOCÊ PENSA QUE É PARA MEDIR O QUANTO EU POSSO OU NÃO BEBER? — ele grita tão alto que me assusta.

— Senhor...

— O que está acontecendo Camilla? — Afonso se aproxima.

— ACONTECE QUE A SUA FUNCIONÁRIA CAMILLA NÃO QUER ME SERVIR MAIS UMA DOSE DE TEQUILA E A VADIAZINHA ACHA QUE PODE MANDAR NO QUE EU POSSO OU NÃO CONSUMIR COM O MEU DINHEIRO! — ele continua a gritar, deixando a sua embriaguez ainda mais aparente.

— Fique calmo senhor. Venha comigo, vou lhe servir mais duas doses de tequila, por conta do hotel!

— Não quero ser servido por essa vadia! — ele ainda me insulta antes de se afastar.

Respiro fundo e estou orgulhosa de mim mesma por ter conseguido manter a calma. Tomo um copo de água e tento esboçar o meu melhor sorriso diante de toda aquela situação. Vejo Afonso retornar para perto do balcão, ele chama um dos meninos e pede que ele fique em meu lugar, me chamando em seguida para acompanhá-lo.

— Você está maluca, Camilla? Bebeu, está doida? Como você fala para um cliente que ele não pode mais beber e com o dinheiro dele?

— Eu achei que ele já estava muito bêbado...

— Você é paga para servir, não para achar nada! — respiro fundo. — Sabe, você é a única que causa problemas, a única que reclama de mão boba e eu já estou de saco cheio disso!

Love UnfamousOnde histórias criam vida. Descubra agora