go in peace

22 1 0
                                    

Com a morte vem a paz, mas a dor é o preço de quem vive...

— Nunca estaremos prontos para dizer adeus, nunca estaremos prontos para deixar ir, mas a única certeza que temos da vida é a morte. Meu pai nunca foi do tipo que não se preocupa com o amanhã, sua vida sempre foi um grande cronograma, tínhamos hora para tudo. Suas escolhas nuncam eram aleatórias, seus passos sempre muito firmes. Quando eu era criança, ele me ensinou o bem o mal, que existem herois e vilões, mas também que há uma diferença de quem está contando a história. Eu venho de uma longa linhagem de pessoas poderosas, o legado Hastings era sua vida, honre o nome da família, era o que ela dizia. Temo nunca superar sua morte, me culpo todos os dias por não ter aproveitado mais sua presença, mas é como eu disse, nunca estaremos prontos para dizer adeus. Meu pai era um homem forte e, pretendo ser metade do que ele foi um dia.

*

A morte é algo que te causa um dor tão insuportável, que faz suas mãos soarem, sua barriga dar um nó e, seu peito parecer que vai explodir. Você passa semanas, ou até meses com esse sentimento, toda vez que acorda depois de apenas duas horas de sono, você abre os olhos sonolento com os pensamentos ainda embaralhados, até que tudo volta de novo, e você se pega em um luto intermitente até que você acorda em uma manhã e percebe que cinco meses se passaram. Meses esses em que você sobreviveu no automático, com sorriso falsos dizendo "estou bem, obrigado", sendo que nenhuma das vezes foi de verdade, porque quando você perde alguém as pessoas esperam que você melhore, que realmente fique bem, elas não querem ouvir que você está mal, que nao sai do quarto a vários dias, que escuta a mesma música e, ler o mesmo livros; porque no fim ninguém realmente se importa.

Tenho a sensação de estar boiando, deitado olhando para o teto do meu quarto, sinto meu peito subir e descer lentamente. Procuro não pensar muito, deixo minha mente vagar pela imensidão dos meus pensamentos confusos. Tudo parece tão cinza agora, o clima frio não ajuda muito, a neve fina cai lá fora deixando tudo em um "branco paz" que chega a ser irritante. Me pego pensando o quanto é irritante ter que acordar toda manhã, especificamente essa manhã. Aniversários de morte; quem foi o gênio que decidiu que sua morte deveria ter aniversários? Não que alguém comemore, mas é estranho você acordar especificamente em um dia que alguém morreu.

Ainda disperso com esse pensamento, me levanto e vou até o banheiro, solto um longo suspiro encarando me reflexo, meus olhos odeiam o que vêem. Cabelos que precisam urgente de um corte, uma barba rala, porém grande o suficiente para parecer um mendigo. Estou definitivamente desfiando, e o pior é que não me importo. Os últimos meses foram difíceis não só para mim, meu pai mal sai do quarto. Uma vez por semana eu o vejo assaltando a geladeira, reabastecendo sua caverna do luto. Geralmente, trocamos olhares furtivos, nem eu e nem ele queremos falar sobre isso, pensar sobre isso e muito menos sentar e chorar juntos. No primeiro mês ele foi forte, estava decidido a superar, então se empenhou no trabalho, lançou seu novo livro de sucesso, mas como já sabemos era tudo mentira. Quando seu livro foi lançado ele percebeu que não tinha mais uma válvula de escape, escrever havia se tornado seu refúgio, então depois de um mês trabalhando sem parar seu castelo de cartas veio ao chão, junto com um bloqueio que não permitia mais que ele fugisse daquilo.

*
— Não quer mesmo que eu fique? — Perguntou Kate, deitada com os pés para cima na minha cama. Neguei com a cabeça antes de me jogar ao seu lado.

Como sempre, ela não me deixou sozinho nenhum minuto, mesmo depois de um surto em que mandei ela ir embora, quebrei meu telefone e xinguei meu pai. Kate apenas deu de ombros e me abraçou forte, tão forte que sentir meus ossos se retirarem. Naquele momento me sentir grato por tê-la ao meu lado.

Nosso segredo - Próxima faseOnde histórias criam vida. Descubra agora