- Okay, eu já entendi que você deixou cair por aqui mas eu não estou encontrando. – digo pela milésima vez para Marie.
- Você ao menos está se esforçando? Tenho absoluta certeza de que o deixei ai. – ela diz brava ao telefone.
Minha irmã e Harry vieram ao Ice National (um estúdio de gelo), para ter um encontro romântico e Marie deixou o celular cair dentre as arquibancadas. Segundo eles era essencial manter a chama acesa, ainda que os dois estivessem sempre em pé de guerra. No meu interior eu desejava algo assim, sabe, alguém para discutir de volta e depois se reconciliar com algum ato romântico. Eles até eram fofos, não que eu os deixasse saber o que pensava a respeito – os dois se tornariam ainda mais insuportáveis.
Me abaixo por entre a escadaria, iluminando o local escuro com a lanterna do celular. E não encontro nada. Parece perda de tempo. "Por favor encontre, minha vida toda está nesse celular." – foi exatamente o que Marie disse antes de desligar a ligação na minha cara. Ela sempre foi folgada e descuidada, e agora eu tinha que procurar o smartphone enquanto a bonita transava no nosso hotel. Isso era muita folga. E se eu fingisse que não consegui encontrar? Meus pensamentos me dão uma alternativa (uma completamente sem escrúpulos, mas ainda assim boa). E sou boa em mentir, ao menos deveria ser já que meu trabalho é sempre sobre eu fingir ser outra pessoa. Digo que não encontrei e que estava muito escuro para ver qualquer coisa, ela encheria meu saco mas aceitaria numa boa. Estou contando com isso.
Assim que me viro para ir embora um apagão deixa o estúdio em um completo breu. O lugar já estava escuro, mas de repente não conseguia mais ver o que tinha ao meu redor. Meu coração dispara violentamente. E se for o James? Quer dizer os advogados dele estavam tentando um habeas corpus com direito a fiança. E eu até havia me adiantado com uma medida protetiva contra ele. Mas o medo me consumia ao ponto de deixar minhas pernas bambas. Tinha armado contra ele e o mesmo jurou voltar atrás de mim – e então muitos e se começaram a vagar minha mente. Pego meu celular, sem ao menos enxergar nada além da tela, e disco o número da minha irmã. Ela atende segundos depois rindo.
- O que foi? Você conseguiu achar? – ela pergunta do outro lado da linha.
- Ele está aqui. – minha voz sai mais tremula do que gostaria.
- Ele quem? – ela pergunta.
- O James. - digo quase chorando. – Ele veio atrás de mim.
E então o telefone fica mudo.
Tento voltar a liga-lo mas a bateria não colabora. Uma luz se acende na sala do outro lado do estúdio (a sala de patinação). A luz não é tão forte mas chama minha atenção. Sinto meu estomago revirar e uma náusea me consumir, me vejo desesperada para sair daqui. Um barulho logo atrás de mim me faz correr em direção ao único ponto claro do lugar. Minha respiração pesa e não consigo olhar para trás e encarar meu perseguidor – se é que havia um. Tinha tantas paranoias rondando meus pensamentos que nem me sentia dona deles. Depois de James só havia o terror que ele deixou.
Quando chego na porta da sala, fecho imediatamente a porta atrás de mim (se ele estivesse aqui não daria chances para ele me pegar). Quando me viro logo vejo pequenas luzes iluminarias penduradas por toda extensão da pista de patinação, bem no meio dela há uma mesa decorada com girassóis e dois lugares para sentar. Uma vela bem no meio dava um toque especial no ambiente. Era lindo. Isso não podia ser trabalho de McPherson, ele nunca seria romântico assim. Nem mesmo com tratamento de choque.
Ao fundo avisto Thomas. Ele está sorrindo. Seu corpo está completamente esplêndido em uma blusa branca social e uma calça vinho, seus cabelos estavam perfeitamente alinhados – como se fosse dia de tapete vermelho. Em suas mãos Holland carrega uma garrafa de vinho tinto. Seus olhos brilhavam para mim, e parecia um convite para eu me aproximar. E eu fiz. Sem questionar muito ou ouvir os pensamentos alarmantes que vinham em uma onda de emoções.
- O que é tudo isso? – pergunto ao ficar poucos metros do rapaz.
- Isso querida, é um jantar romântico. – ele vem até mim ficando apenas centímetros de distância. – Acho que nunca tivemos um.
- Você fez tudo isso sozinho?
- Não, todos ajudaram. - ele reponde colocando vinho na taça. – Você sabe que sou péssimo com decoração. E depois sua irmã te atraiu até aqui.
- Então foi tudo armação? – finjo estar chateada.
- Uma armação do bem. – ele se defende. – Além de que você sabe que quer.
Ele se aproxima, passando seus dedos pelo meu cabelo loiro. Sua respiração é suave e seu cheiro é viciante. De repente um música começa a tocar nos auto falantes do lugar. Uma música lenta que não consigo descobrir qual é. Não enquanto encaro esses olhos castanhos. Não enquanto ele está tão próximo assim. Eu me rendo a ele. Suas mãos seguram minha cintura num toque leve e calmo, me apoio em seus ombros e aconchego minha cabeça nele. Era o encaixe perfeito. Eu e ele.
- Então você pagou o cara do som? – digo sussurrando. Mesmo estando só nós dois ali, desejava que isso pertencesse somente a nós.
- Não foi tão difícil, Harrison conhecia o cara. – ele sussurra também. – Mas por você tudo vale a pena.
- Achei que você não era do tipo conquistador. – zombo. Ele me encara, quase me deixando sem fôlego. Fico presa em seu olhar. Se eu pudesse parar o mundo agora, eu o faria.
- Eu quero você. - ele diz. A frase em alto e bom som soava como um hino. Ele me queria, assim como eu. Mas havia tanto medo dentro de mim. Havia muitas memórias. Me sentia medrosa.
- E se eu não estiver pronta? – pergunto, com medo da resposta.
- Tudo bem, temos todo o tempo do mundo. – ele sorri. – Você ainda vai ser minha, Martina Camilo.