Coração Que Chove

Capítulo 1

Manhã de 14 de maio.

Angústia. É o que sinto nesse momento.

Eu corro cada vez mais depressa sem conseguir ver nada à minha frente, pois meus olhos estão embaçados demais. Não sinto minhas pernas e não consigo parar, apenas sinto meu corpo avançando como se o sofrimento não tivesse fim.

Isso caindo dos meus olhos são...lágrimas?!

Em um instante, me vejo numa floresta escura, cheia de árvores raquíticas que se curvam em forma de mãos monstruosas querendo me pegar. Entro em desespero e minha visão se embaça novamente pelas minhas lágrimas.

Por não conseguir parar, caio direto em um abismo profundo e escuro. Não vejo nada e não escuto nada, embora eu saiba que estou gritando.

Quando eu finalmente paro, me vejo submersa em uma quantidade absurda de água e não consigo mais respirar. Estou presa às minhas próprias lágrimas. Elas me enforcam e se prendem ao meu corpo, de fora pra dentro.

Ainda debaixo da água salgada, vejo um corpo ativo logo acima de mim. Ele me pega pelos braços, me tirando da salinidade e da minha angústia. Todo o meu sofrimento some e sinto a vida voltando para mim. Olho para ele e não vejo seu rosto, mas o agarro como se minha vida dependesse dele.

Antes que eu consiga desvendar o corpo, o som acústico do meu despertador me acorda, me trazendo de volta para a realidade. Abro os olhos, sentindo meu coração acelerado e o corpo quente, suado. Sento na cama e as lágrimas caem dos meus olhos como se eu tivesse perdido o controle sobre eles. Meu peito dói, minha cabeça dói, meu corpo inteiro dói. Meu choro é baixo, quieto, silencioso.

Assim como no sonho, minhas lágrimas me consomem.

Respiro fundo e levanto para me arrumar antes que alguém suba e me veja nesse estado. Entro no banho mergulhando de cabeça na água quente e, buscando relaxar, lavo meus cabelos.

Deixo as minhas lágrimas se unirem às gotas quentes do chuveiro e, como sempre, as lembranças caminham até mim, uma de cada vez.

Elas socam o meu coração como se ele fosse um verdadeiro saco de pancada.