Capítulo 12

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— Uma amiga me convidou para a igreja dela amanhã à tarde. — Solto no meio do almoço. Eu estava sentindo uma mistura de ansiedade e medo por estar indo a um lugar desconhecido. Contudo, eu não podia ignorar o entusiasmo que tomou conta do meu coração. Apenas senti que deveria ir.

Minha tia e minha avó se entreolham, aparentemente impressionadas. Não esperavam por isso.

— Isso é muito legal, meu amor. Foi a Marina? — Tia Sarah questiona. Minha avó me olha atentamente.

— Não. — Nego, colocando uma garfada de macarrão na boca e mastigando. — O nome dela é Ester, a conheci essa semana. — Tento soar desinteressada. A última coisa que quero é ser pressionada.

— Você quer ir? — Minha avó pergunta com os olhos bem abertos, olhando cada atitude minha. Sei que ela tem se preocupado muito comigo. Depois do ocorrido em seu quarto, ela tentou retomar o assunto algumas vezes e o contornei em todas elas. Eu só não queria ficar falando sobre Deus.

— Quero. — Respondo, olhando para o prato.

Um silêncio de alguns segundos se faz presente na mesa. Pude ver de soslaio as duas sorrindo discretamente uma pra outra.

— Sentirei um prazer imenso em te levar. Me passe o endereço mais tarde. — Tia Sarah diz, me entregando um guardanapo para limpar minha boca suja de molho.

Sorrio para ela e agradeço.


Encosto minha cabeça na cama e olho para o relógio em cima do móvel. Meu relógio. Nosso relógio.

Será que um dia essa saudade vai parar de doer?

Papai, sinto sua falta.

A lágrima que cai dos meus olhos faz um pequeno caminho. Ela passa dos olhos para o nariz, se desviando para a bochecha, pescoço e por fim, meu travesseiro. Enxugo para que não venham mais lágrimas inspiradas pela pioneira ousada.

Estico o braço e pego nossa foto. Tiramos em uma das nossas idas à sorveteria, anos atrás. Nesse dia, meu pai me pegou mais cedo da escola e passeou comigo o dia inteiro. Foi maravilhoso.

Adormeço agarrada à foto, assim como tenho me agarrado às nossas lembranças e sonhos jamais concretizados.


Estou em uma praia. Sua água é límpida, sua areia é esbranquiçada e colorida pelas conchas que despontam de sua superfície e seu céu é preenchido pelo mais celestial azul.

Tamanha perfeição faz meu corpo travar e querer admirar a vista sem parar.

Repentinamente, sinto uma vontade imensa de chegar mais perto do mar. Quero sentir a temperatura da água. Quero mergulhar nesse cenário perfeito.

Ando a passos lentos até ele. Finalmente sinto meus pés sendo tomados por sua correnteza gentil, completamente apaixonada e tomada pela admiração. Prossigo até que meus tornozelos sejam cobertos, julgando ser suficiente.

Vá um pouco mais. — Sinto uma mão forte no meu ombro. Não me assusto nem corro, pois reconheço aquele que fala comigo e me guia. Não preciso olhar para o lado, não preciso ver seu rosto. Meu coração já lhe pertence.

Andamos mais um pouco até que a água batesse em meus joelhos. Quanto mais avançávamos, mais eu me deslumbrava e arrepiava com as coisas que meus olhos captavam.

Vá um pouco mais. — A Voz diz novamente. Sua mão no meu ombro não me empurra, ela me acompanha. Não me força para frente nem me machuca.

Com esse ato posso ver que respeita todas as minhas decisões.

Fomos mais adiante, até que a água cobrisse minha cintura. Quanto mais avançávamos, com mais clareza eu podia ver as cores do céu e as incríveis criaturas marinhas abaixo de mim, uma mais linda do que a outra. Em certo momento, uma grande tartaruga verde e preta passou do meu lado. Sua aparência era perfeita.

Vá um pouco mais. — Nesse ponto eu não conseguiria mais atravessar o mar de pé. A água se tornou mais alta do que eu e me cobriu completamente, se prendendo ao meu corpo de uma forma agradável, gentil e amorosa. Me soltei e permiti que ela me levasse, sentindo meus cabelos indo para cima e para baixo, como se a água estivesse brincando com eles.

— Não desejo me separar de você. É meu desejo continuar aqui. Jamais quero partir. Quero estar onde o Senhor está. — Digo, ainda dentro do mar.

— Apenas decida se aprofundar mais e mais. Nunca se estagne ou fique no raso, pois não é lá que eu estou. Preze por estar nos lugares nos quais me encontro e eu te garanto que você sempre crescerá, minha filha. Você pode até sentir medo, mas é se arriscando e indo em frente que você viverá coisas incríveis. Coisas que você não vive estando apenas na areia. — A Voz diz. Percebo que ela não está mais ao meu lado, segurando meu ombro. Ela está na água que me agarra.

Ela é o próprio mar. O próprio céu. A própria areia.

Ela é tudo e está em tudo.

Vou sentindo o volume da água baixando, até que meus pés encostam em um chão seco, porém confortável. Olho para baixo e avisto o chão perolado que já me é familiar.

Nossa Sala Branca.

Acordo de modo repentino e vejo que ainda estou com a foto em mãos. Sorrio e a coloco sob meu travesseiro.

"É se arriscando e seguindo em frente que você viverá coisas incríveis."

Coração Que ChoveOnde histórias criam vida. Descubra agora