Coração Que Chove

Capítulo 15

Tamanha era a minha vontade de ler o livro que foi confiado a mim. As palavras entraram na minha mente com um prazer que eu jamais havia experimentado e tudo que pude fazer foi abrir meu coração.

"Mas, a todos que creram nele e o aceitaram, ele deu o direito de se tornarem filhos de Deus." - João 1:12.

Esse versículo foi seguido por uma seta feita de tinta que apontava para uma frase escrita à mão: "EU SOU FILHO!".

Eu sou filha. Sorri para mim mesma.

Duas horas se passaram até que eu percebesse que devorei o capítulo de João e as anotações do Pastor Jonas nele. Uma parte específica prendeu a minha atenção:

"Jesus respondeu: "Eu lhes digo a verdade: o Filho não pode fazer coisa alguma por sua própria conta. Ele faz apenas o que vê o Pai fazer. Aquilo que o Pai faz, o Filho também faz.

Pois o Pai ama o Filho e lhe mostra tudo que faz. Na verdade, o Pai lhe mostrará obras ainda maiores que estas, para que vocês fiquem admirados.

Pois assim como o Pai dá vida àqueles que ele ressuscita dos mortos, também o Filho dá vida a quem ele quer.

Além disso, o Pai não julga ninguém, mas deu ao Filho autoridade absoluta para julgar, para que todos honrem o Filho como honram o Pai. Quem não honra o Filho certamente não honra o Pai, que o enviou.

Eu lhes digo a verdade: quem ouve minha mensagem e crê naquele que me enviou tem a vida eterna. Jamais será condenado, mas já passou da morte para a vida.

E eu lhes asseguro que está chegando a hora, e de fato já chegou, em que os mortos ouvirão minha voz, a voz do Filho de Deus. E aqueles que a ouvirem viverão.

O Pai tem a vida em si mesmo, e concedeu a seu Filho igual poder de dar vida, e lhe deu autoridade para julgar a todos, porque ele é o Filho do Homem.

Não fiquem tão surpresos! Na verdade, vem o tempo em que todos os mortos ouvirão, em seus túmulos, a voz do Filho de Deus

e ressuscitarão." - João 5:19-29.

Ressurreição.

Como seria possível que alguém morto se levantasse de seu túmulo e retornasse ao mundo dos vivos?

Diferente do que se vê em filmes e livros onde as coisas são rodeadas por magia ou distopia, essa ressurreição citada na Bíblia poderia, incrivelmente, ser real?

Olhando para o teto, me recordo da canção que minha avó cantou para mim no dia em que meu pai foi enterrado:

"...a Terra estremeceu, sepulcro se abriu

E nada vencerá Teu grande amor.

Oh, morte, onde estás? O Rei ressuscitou,

Ele venceu pra sempre..."

Como posso ter me esquecido do quanto isso me confortou? Como posso ter me esquecido de que foi falado a mim que a morte não é o fim?

Essas novas questões funcionam como uma bela dose de epifania que responde às minhas antigas questões. Porém, meu sorriso se desmancha quando outras vêm à minha mente:

Poderei ver meu pai novamente? Poderei receber seu abraço mais uma vez? Em algum lugar desse mundo eu poderei sentir de novo sua mão segurando a minha? Por que ele teve que ir?

Fecho a Bíblia quando percebo que suas páginas começaram a ficar umedecidas.

- Vó? - Pergunto baixinho, já entrando no seu quarto escuro e silencioso. Minha resposta é um ronco alto e estrondoso que não tenho coragem de parar. Saio do quarto e fecho a porta silenciosamente.