Capítulo 9

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Por que dói tanto?

Sentada em cima da tampa do vaso sanitário, tento chorar o mais baixo possível. Não aguentei.

Não consegui.

Assim que coloquei meus pés dentro da escola, senti todos os olhares sobre mim.

A pobre menina que perdeu o pai para o câncer.

Não demorou muito para que a Marina me encontrasse.

- Ei, estou aqui. - Ela disse, segurando minha mão e me tirando do meio do pátio, percebendo minha cara de choro.

Nesses dois meses vi a Marina várias vezes durante as semanas. Quando ela não ia para a minha casa depois da escola ou não passava o fim de semana lá, era eu quem fazia isso na casa dela.

O apoio e a presença dela foram essenciais.

Em nenhum dos nossos encontros ela tocou no assunto. Me deu espaço esperando que eu falasse, imagino, mas não falei nada e agradeci internamente por ela também não perguntar.

Não pude deixar de notar os olhares simpatizados e os acenos de cabeça quando entrei na sala de aula. Perdi a conta de quantos se levantaram até minha mesa e disseram que sentiam muito, ato que apenas agradeci, tentando não ser grosseira. Nem meus professores deixaram passar.

Queria gritar com todos e dizer que isso não resolvia nada, que isso não me ajudava. Um ódio imenso tomou conta de mim.

Apenas respirei fundo e enxuguei as lágrimas antes que caíssem.

A aula de biologia foi o ápice. Assim que a professora começou a falar sobre mutação de células e pronunciou a palavra câncer, absolutamente todos os olhares se voltaram para mim. Assim que a Marina notou, a ouvi sussurrar de forma agressiva:

- Perderam alguma coisa aqui?

Essa fala fez com que alguns se constrangessem e parassem de me encarar, já outros apenas reviraram os olhos e voltaram a prestar atenção na aula.

- Marina, não precisa me defender. - Sussurrei só para que ela escutasse.

E ela fingiu que não escutou.

Aguentei até que a aula terminasse para fugir para o banheiro. Minha cabeça estava doendo de tanto segurar a vontade de chorar. Parecia que ia explodir.

Após me certificar de que eu estava sozinha, me enfiei na cabine e soltei tudo que havia preso em mim. Só consigo pensar que foi um erro ter vindo.

Eu sou fraca e não consigo fazer nada. Nada.

Eu me odeio.

Ouço alguém entrando no banheiro e tento me recompor, fazendo o mínimo de barulho possível e controlando a minha respiração. A última coisa que preciso é que alguém me veja chorando.

Um silêncio se faz presente antes que eu ouça.

"Tá chorando por quê?

Se você tem um Deus,

Que cuida de você

E jamais te esqueceu..."

A voz doce e aveludada toma conta do banheiro. O eco dele a torna ainda mais doce e suave. Quase angelical.

Minha respiração novamente para e sinto meu coração bater mais forte. Diferente das lágrimas desesperadas e doloridas que eu estava despejando há alguns minutos, as de agora são calmas. Assim como o sentimento que se enrolou no meu coração.

Coração Que ChoveOnde histórias criam vida. Descubra agora