Por que dói tanto?
Sentada em cima da tampa do vaso sanitário, tento chorar o mais baixo possível. Não aguentei.
Não consegui.
Assim que coloquei meus pés dentro da escola, senti todos os olhares sobre mim.
A pobre menina que perdeu o pai para o câncer.
Não demorou muito para que a Marina me encontrasse.
- Ei, estou aqui. - Ela disse, segurando minha mão e me tirando do meio do pátio, percebendo minha cara de choro.
Nesses dois meses vi a Marina várias vezes durante as semanas. Quando ela não ia para a minha casa depois da escola ou não passava o fim de semana lá, era eu quem fazia isso na casa dela.
O apoio e a presença dela foram essenciais.
Em nenhum dos nossos encontros ela tocou no assunto. Me deu espaço esperando que eu falasse, imagino, mas não falei nada e agradeci internamente por ela também não perguntar.
Não pude deixar de notar os olhares simpatizados e os acenos de cabeça quando entrei na sala de aula. Perdi a conta de quantos se levantaram até minha mesa e disseram que sentiam muito, ato que apenas agradeci, tentando não ser grosseira. Nem meus professores deixaram passar.
Queria gritar com todos e dizer que isso não resolvia nada, que isso não me ajudava. Um ódio imenso tomou conta de mim.
Apenas respirei fundo e enxuguei as lágrimas antes que caíssem.
A aula de biologia foi o ápice. Assim que a professora começou a falar sobre mutação de células e pronunciou a palavra câncer, absolutamente todos os olhares se voltaram para mim. Assim que a Marina notou, a ouvi sussurrar de forma agressiva:
- Perderam alguma coisa aqui?
Essa fala fez com que alguns se constrangessem e parassem de me encarar, já outros apenas reviraram os olhos e voltaram a prestar atenção na aula.
- Marina, não precisa me defender. - Sussurrei só para que ela escutasse.
E ela fingiu que não escutou.
Aguentei até que a aula terminasse para fugir para o banheiro. Minha cabeça estava doendo de tanto segurar a vontade de chorar. Parecia que ia explodir.
Após me certificar de que eu estava sozinha, me enfiei na cabine e soltei tudo que havia preso em mim. Só consigo pensar que foi um erro ter vindo.
Eu sou fraca e não consigo fazer nada. Nada.
Eu me odeio.
Ouço alguém entrando no banheiro e tento me recompor, fazendo o mínimo de barulho possível e controlando a minha respiração. A última coisa que preciso é que alguém me veja chorando.
Um silêncio se faz presente antes que eu ouça.
"Tá chorando por quê?
Se você tem um Deus,
Que cuida de você
E jamais te esqueceu..."
A voz doce e aveludada toma conta do banheiro. O eco dele a torna ainda mais doce e suave. Quase angelical.
Minha respiração novamente para e sinto meu coração bater mais forte. Diferente das lágrimas desesperadas e doloridas que eu estava despejando há alguns minutos, as de agora são calmas. Assim como o sentimento que se enrolou no meu coração.
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Coração Que Chove
SpiritualMaria Júlia jamais imaginou que, com apenas 15 anos de idade, perderia uma das coisas mais preciosas de sua vida: seu pai. Além de enfrentar o luto, a jovem se vê dentro de sonhos enigmáticos que começaram logo após a partida dele. Nesses sonhos, um...