Rafaella

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A verdade seja dita: eu já estava morrendo de medo. Fazia seis semanas que eu e Bia havíamos nos conhecido em Bogotá.  Seis semanas!

E agora ela queria me levar para jantar em um lugar realmente especial, com uma recomendação:

- Capriche na produção.

Então - alguém poderia perguntar: -, você estava com medo do quê? -

Da parte que dizia respeito às seis semanas.

Eu jamais havia tido um relacionamento que durasse mais de seis semanas desde que resolvera estudar piano, ainda nos tempos da escola primária.

E as aulas não duraram mais que sete semanas.

Tudo o que é bom dura pouco e com Bia não era apenas bom, era muito, muito bom.

Naturalmente tinha de acabar. E logo.

Era bem possível que aquela fosse a nossa última noite juntas.

Então me vesti como se tivesse algo muito importante a celebrar, ainda que corresse o risco de terminar a noite com um brinde de adeus.

Poderíamos ter ido a pé, mas Bia insistiu que tomássemos um táxi, pois estávamos de salto alto.

Suspeito que a preferência de Bia por táxis de algum modo tinha a ver com a nossa primeira noite em Bogotá.

Rapidamente chegamos ao River Café.

Sugeri que bebêssemos tequila em homenagem aos velhos tempos, mas Bia pediu uma garrafa de champanhe.

- Mais adequado às comemorações - ela disse.

Sorri, piscando as pálpebras para limpar os olhos subitamente marejados.

Bebemos o nosso champanhe, apreciamos a paisagem do rio, mas sobretudo ficamos olhando uma para a outra.

Havíamos pedido algo para comer, mas os pratos ficaram ali, intocados.

Eu estava com fome, mas apenas dela.

Acho que havia música, acho que algumas pessoas dançavam.

No entanto, assim como acontecera em Bogotá, não notávamos nada ao nosso redor, como se estivéssemos no olho de um furacão e o resto do mundo rodopiasse à nossa volta.

Desejei ardentemente encontrar uma maneira de fazer aquela noite durar para sempre, talvez pudéssemos enlaçar a lua, montar em cima dela e viajar através das estrelas pelo resto da eternidade - e assim o sonho jamais acabaria.

Geralmente não dava asas a esse tipo de pensamento, mas esse era o efeito que a Bia produzia em mim.

E então ela levou a mão ao bolso interno do blazer. 

De início achei que procurasse uma caneta ou talvez um cigarro, mas em vez disso tirou do bolso uma caixinha azul-turquesa, cor tradicionalmente associada à joalheria Tiffany's.

Eu não entendia o que estava se passando.

Bia não disse nada, apenas abriu a caixinha e o mundo cintilou ao meu redor quando ela colocou uma aliança na minha mão esquerda.

Bia havia me dado as estrelas - e uma noite que duraria para sempre.

Mrs. & Mrs. Kalimann-AndradeOnde histórias criam vida. Descubra agora