Torta de Limão

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Rafaella

Eu havia escolhido como base de operações o casebre de uma mineradora, velho e empoeirado, plantado no topo de uma colina rochosa em algum lugar do deserto.

Onde exatamente? Só Deus sabia — em algum lugar ao norte da fronteira entre o México e os Estados Unidos; isso era o máximo que eu podia dizer.

Vasculhei a área com um par de binóculos, mas não vi nada além de quilômetros e quilômetros de areia escaldante.

Mas aquela beleza árida de alguma forma me deixou comovida. O vazio, a solidão...

Ei, mas o que era aquilo?

Uma nuvem de poeira chamou minha atenção para um comboio de utilitários que reluzia sob o sol do meio-dia enquanto avançava por uma estrada coberta de areia, quase invisível, serpenteando através do deserto.

—Alvo chegando — informei aos outros membros da minha equipe, que ouviam pelo rádio.

— Entendido — respondeu Manu. Sorri. Era hora de entrar em ação.

Este era o plano: eu havia conectado um timer box relativamente simples a cabos de mineração que se estendiam até o chão do deserto.

Aquela área havia sido definida em meu laptop por meio de uma imagem tridimensional onde se viam vinte pontinhos brancos: uma ampla armadilha que logo seria atravessada pela caravana.

Uma espécie de ratoeira.

O comboio entraria nela e — "bum!" — jamais sairia de lá.

Esperei que minha presa se aproximasse mais e depois coloquei o plano em ação.

— Carga pronta — informei. — Detonação ao primeiro contato.

As imagens sobre a tela trouxeram a boa notícia: o comboio seguia direto para a armadilha. Chegaria em um minuto. Perfeito.

— Bem na hora — murmurei, sorrindo.

Planejamento minucioso, posicionamento perfeito, trabalho de equipe impecável...

Achei que resolveríamos nosso assunto e cairíamos fora dali muito antes que nossos desodorantes vencessem sob o calor do deserto.

Uma sopa.

Foi então que uma mosca pousou em nossa sopa. "Caramba!" pensei, "o que é aquilo?"

Ajustei os binóculos. Nada além de areia. E depois — lá estava ele de novo!

Agora eu podia ver: uma espécie de carrinho esporte, talvez um Baja Buggy. Ele voou sobre o topo de uma duna de areia, sumiu no horizonte e reapareceu na duna seguinte.

E depois sumiu outra vez. E reapareceu. E sumiu.

— Que diabos é isso? — perguntou Manu em meu fone de ouvido.

Uma ameaça? Uma redundância?

Balancei a cabeça, irritada.

Talvez seja apenas um maluco fazendo cross na areia. O deserto está cheio deles.

Quando o veículo se aproximou o suficiente, pude enxergar a figura da motorista. Ela usava um capacete e óculos de proteção, bem como um cachecol ridículo, tremulando ao vento. Parecia que nunca tinha se divertido tanto.

Filha-da-mãe.

Com tantos tanquinhos de areia no mundo ela tinha de vir brincar justamente no meu!

Olhei para o laptop, preocupada. O buggy aparecia na tela como um pontinho intermitente, movendo-se da esquerda para a direita.

Seguia direto para a minha armadilha.

Mrs. & Mrs. Kalimann-AndradeOnde histórias criam vida. Descubra agora