Alvo

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Bianca

De volta à cidade, passei pela lanchonete para contar a Mari o que eu havia descoberto.

Eu olhava fixamente para uma xícara de café preto enquanto ela devorava um lauto café da manhã, o mais completo de todo o cardápio. De dia ou de noite, a garota comia feito um leão, era magra de ruim. 

Mas eu estava sem fome. Não conseguia pensar em nada, a não ser na minha missão fracassada e no agente que havia puxado meu tapete.

Passei o dedo na minha orelha lascada. Ninguém havia chegado tão perto assim de cravar uma bala nos meus miolos.

— Dois atiradores na mesma praça. Já ouviu falar de coisa parecida?

— Não que eu me lembre — disse Mari, mastigando uma bocada de ovos e torrada. — Você viu ele direito?

Como se a situação não fosse estranha o bastante, algo na figura do meu inimigo martelava na minha cabeça. Tentava me lembrar do que poderia ser.

Era um pouco mais alto que eu. Metro e setenta, metro e setenta e dois no máximo.

"Não muito mais alto que Rafaella", pensei. Foi então que me dei conta. — Não tenho tanta certeza assim de que era um homem,  pela fisionomia posso jurar que era uma mulher.

Mari deixou o garfo cair no prato e, de olhos arregalados, disse:

— Você apanhou de outra mulher? Rafaella ficaria puta se soubesse que você estava brincando de gato e rato com outra. 

Au! Não gostei nem um pouco do jeito que ela resumiu a situação.

— Se mencionar Rafaella dessa forma novamente, vou fazer questão de deixar você sem seus movimentos por um bom tempo.. mas sim peguei uma surra de outra mulher  — admiti. Girei no banco para olhá-la de frente.

— Mari, a mulher era uma profissional.

Eddie deu de ombros e voltou à comilança. Depois disse:

— Bem, nesse caso não vai ser difícil saber quem é. Não tem muitas gatas nesse ramo, tem?

Ela tinha razão. Isso eliminaria a grande maioria de todos os agentes ainda em atividade.

Mari seguiu uma garçonete com os olhos.

Eu adoraria levar uma surra daquela ali... — O apetite de Mari para as mulheres era quase tão aguçado quanto seu apetite por ovos e bacon. Esperei pacientemente até que ela se desse conta de que eu ainda estava ali. Você tem mais alguma pista? — ela disse, voltando finalmente para nossa conversa.

Eu tinha. O Laptop que encontrara nos escombros. Estava bastante avariado, mas não morto. E eu conhecia uma garota capaz de operar milagres com pedaços retorcidos de metal.

Bebi um último gole de café e me virei para ir embora.

— A gente se vê mais tarde, Mari.

Entrei no quartinho dos fundos de uma oficina de desmanche digital — minha favorita — e procurei por um geniozinho da eletrônica chamada B2.

Ela estava debruçada sobre uma mesa coberta de quinquilharias, uma espécie de cemitério de computadores. Com aquele boné na cabeça e uma camisa da Adidas, lembrava muito mais uma skatista do que o gênio que de fato era.

Disse a ela que tinha um laptop ligeiramente avariado e, ato contínuo, coloquei a máquina sobre o balcão para que ela a examinasse.

B2 examinou o volume amorfo e fumegante em que tinha se transformado o laptop.

Mrs. & Mrs. Kalimann-AndradeOnde histórias criam vida. Descubra agora