Mrs. & Mrs. Kalimann-Andrade

Rabia

Bianca

- Chega! - exclamou Mari, minha melhor amiga e colega de trabalho.

No dia seguinte eu estava treinando com um treinador na academia de luta que frequentava regularmente. Eu vinha contando a Mari sobre a Rafaella, e ela não parecia satisfeita com o que ouvia.

- Você está o quê?

- Apaixonada - eu disse.

Mari olhou para mim como se eu tivesse levado pancadas demais na cabeça.

- Você conhece a garota... umas seis semanas!

Mas como poderia explicar a ela? Mariana Gonzales trocava de mulher/homem como trocava de meias.

- Essa garota... ela é... ela é de outro mundo! É forte, é competitiva? Nem sei muito bem como descrevê-la. Estou me sentindo... -

Meti a cara no saco de pancadas.

Rafaella

- Não acha que está indo um pouquinho rápido demais?

No dia seguinte fui escalar com Maria Manoela, minha melhor amiga e colega de trabalho.

Sempre considerei o alpinismo uma maneira excelente de manter a forma, mas naquele dia eu me sentia especialmente motivada e tinha de me esforçar para não deixar minha amiga para trás.

Mas ela não se referia ao meu ritmo de escalada, referia-se ao meu relacionamento com Bianca.

- Você me conhece - falei, olhando para baixo. - Não sou de me jogar nas coisas, cuidado com essa agarra aí!

Manu se firmou na agarra e depois perguntou:

- Então, ela trabalha com o quê?

- Empresária. Ela tem uma marca de maquiagens internacional. Uma das mais vendidas do mundo.

- Uma Girl Boss, ótimo.

- E isso ainda não é tudo.

Bianca

- Ela é atriz, apresentadora e tem uma marca de roupa internacional - eu disse a Mari. - Ela  é linda, parece um anjo. 

Rafaella

- E na cama? - quis saber Manu.

Bianca

Com uma direita implacável, quase um rolo compressor, derrubei o meu sparring na lona.

Mari respirou fundo e disse: - Tão boa assim, é?

Rafaella

Eu havia chegado ao topo do penhasco, e a vista era magnífica. Sempre tive disposição para os esportes, além disso, meu trabalho exigia que eu andasse sempre em forma, mas jamais havia me sentido assim, tão cheia de energia.

Talvez isso tivesse alguma coisa a ver com a malhação adicional que eu vinha fazendo com a Bia.

Mas Manu ainda estava muito abaixo na encosta, e ainda muito cética.

- Sexo é sexo - ela tentava me convencer. - Por que complicar as coisas com essa história de relacionamento? Você não teme, por exemplo, que seus horários de trabalho acabem se tornando um problema? - ela perguntou.

- Use aquela fenda à esquerda - sugeri. Na verdade, eu já havia pensado no assunto. É claro que haveria algumas... complicações ocasionais. Mas nada que não pudesse ser resolvido. - Ela também viaja muito - expliquei. - Então isso não será um problema.

Ajudei minha amiga a subir ao topo, e ignorei a censura em seus olhos.

Bianca

- ... E você acha o quê, que vou sacrificar minha vida pessoal em nome do trabalho? - perguntei a Mari.

Continuei a me exercitar com o treinador, minha resistência estava melhor do que nunca.

Sorri. Era de se supor que minha história com Rafa estivesse consumindo todas as minhas energias, isso é o que se diz entre os esportistas. No entanto, o efeito era justamente o contrário. Nunca havia me sentido tão disposta quanto agora.

Jab, cruzado, esquiva..., jab, cruzado, esquiva... Achei que pudesse repetir essa rotina por mais dez horas.

Mas Mari não estava convencida. Para ela, sexo não passava de algo para demarcar os limites entre café da manhã, almoço e jantar. Sem ele, tudo se resumiria a uma única refeição.

- Isso vai durar seis meses, no máximo - ela disse. - Impossível durar mais do que isso.

- Pedi a Rafa em casamento - confessei.

- Você o quê?!

- Vou me casar.

Mari ficou tão assustada que acabou se metendo no caminho da luva do meu treinador.

Caiu feito um saco de arroz sobre a lona. Jamais me perdoaria pelo susto.