Zarpar

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7/10

Rafaella

Lá estávamos nós — na ante-sala da nossa única chance de sobrevivência. A hora da verdade. Depois que a operação entrasse em andamento, não haveria mais volta. Ao vencedor, as batatas.

Bianca e eu trocamos um último olhar. E nesse olhar tentei mostrar a ela tudo o que sentia naquele momento: esperança, remorso, perdão, confiança. E amor. Acima de tudo, amor.

A julgar pelo sorriso em seus lábios, Bianca recebeu minha mensagem claramente. E parecia retribuir os mesmos sentimentos. Depois piscou os olhos como se dissesse: "Vamos lá"

Eu estava com medo, não vou negar. Mas nunca tinha me sentido tão viva.

Podia sentir os assassinos disfarçados infiltrando-se na loja. Não podia vê- los, mas sabia que estavam ali, saindo dos cantos e das frestas como um bando de baratas.

Bianca apertou meu cotovelo, sinalizando: "Agora!" Assim que as luzes se apagaram, saltamos da rede. E bem a tempo. Atrás de nós, pude ouvir: Tund Tund.

Em poucos segundos o tumulto se formou na loja. Corremos para dentro da casa, à procura de uma saída pelos fundos. Quando passamos por um cercadinho de bebê recheado até a borda com ursinhos de pelúcia, "Homey", o urso-mascote da loja, de tamanho natural, surgiu do meio da pilha, usando um chapéu em forma de casa, um bigode e... uma escopeta de cano serrado.

Sem titubear, Bianca e eu atiramos no cabeção do urso, que caiu para trás, disparando a escopeta em plena queda e acertando o teto da casa com um grande km!

O que antes se resumia a uma pequena batalha às escuras agora havia se transformado num alvoroço de grandes proporções.

Clientes berravam e atropelavam-se mutuamente à procura das saídas.

De repente, em ambos os lados do prédio, portas explodiram para dentro e novas equipes de assassinos tomaram a loja de assalto.

Crash! Clarabóias estilhaçaram no alto, e uma meia dúzia de facínoras rapelou até o chão.

Caramba! O exército inteiro estava atrás de nós!

Na casa cenográfica, Bianca e eu demos meia-volta e rapidamente saímos pela porta da frente.

Quando passamos pelo canteiro de petúnias, recolhemos as granadas de fumaça que ali havíamos escondido como se fossem ovos de Páscoa. Puxamos os pinos e mandamos as granadas rolando pelo chão. A fumaça colorida nos forneceu uma excelente cobertura.

Andando de cabeça baixa e usando o pânico generalizado a nosso favor, desviamos para a seção de acessórios de banheiro.

Levantei uma tábua de vaso e retirei o rifle de atirador de elite que eu havia deixado ali. Enquanto eu montava o cano, Bianca disse:

— Precisamos abrir fogo, mas longe dos suburbanos. Por cima ou por baixo?

— Deixa que eu vou — respondi.

Corri até a seção de artigos de escritório, alcancei as prateleiras de um corredor sem saída e, sem a menor dificuldade, como se estivesse brincando de alpinismo, escalei os 15 metros que me separavam das vigas do teto.

Pendurada no alto, peguei um par de binóculos de visão noturna e olhei ao meu redor.

Dali eu podia ver o pavimento quase por inteiro. As baratas estavam se multiplicando; calculei que deviam somar algumas dezenas.

Tive a impressão de que todos os agentes, de ambos os lados, haviam comparecido ao evento — uma verdadeira reunião de família.

Também pude ver Bianca abrir caminho ao longo de uma fileira de refrigeradores na seção de eletrodomésticos.

Mrs. & Mrs. Kalimann-AndradeOnde histórias criam vida. Descubra agora