Capitulo 24

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Passei a noite meio grogue, por causa do antialérgico que me deram antes da quimio. Até que não foi a pior noite da minha vida, pois Jungkook tinha o arsenal preparado, não queria que eu me esgotasse, precisava estar bem para o transplante, daqui há alguns dias.

   Levantando da cama, devagar para que ele não acordasse, fui até o banheiro do Hoseok. Ele ainda não tinha levado suas coisas para a casa do Tae e rapidinho encontrei a máquina de cortar cabelo, que ele utilizava para aparar os pelos do peito. Peguei e levei para o meu banheiro, juntamente com uma tesoura.

   Já que eu ficaria sem cabelos, não iria passar pela angustia de vêlos cair.

   Fechei a porta e pegando a tesoura, fiquei em frente ao espelho, me encarando e peguei uma mecha entre os dedos. Respirei fundo e levei a tesoura até ela. Meus olhos ficaram marejados, um peso no peito me impediu de respirar, o pânico me tomando.

   Caramba, como eu era covarde.

   Deixei tudo ali em cima e voltei para a cama. Me aconcheguei a ele, que suspirou e me abraçou, moldando seu corpo ao meu.

   Despertei com ele me beijando de leve.

   ―Bom dia. ― Resmunguei, sonolento.

   ―Pequeno, você pode me explicar o que são essas coisas? ― Ele perguntou, mostrando a máquina de cortar cabelo e a tesoura.

   ―Eu fiquei pensando que, já que eu iria ficar careca, era melhor cortar logo de uma vez, ao invés de vê-los cair. ― Dei de ombros, mas já sentindo o nó se formando em minha garganta. ―Mas não tive coragem. ― Senti meus olhos arderem e sabia que ia começar a chorar se continuasse falando naquilo.

   ―Quer que eu faça pra você?

   Arregalei os olhos e o encarei.

   ―Você faria isso por mim?

   Vi quando ele engoliu em seco e confirmou com a cabeça.

   ―Sim, Pequeno. Sei como é frustrante para meus pacientes verem os cabelos caindo. Não vai ser fácil, pra nenhum de nós. Mas se você quer, eu faço.

   Me joguei em seus braços, chorando como um bebê.

   ―O que seria de mim sem você? ― Falei, quando consegui controlar o choro. ― Você é meu anjo de uma só asa. Deus te enviou para cuidar de mim e assim, quando nos abraçamos, eu com minha asa e você com a sua nos equilibramos e nos completamos, para juntos voarmos para onde quisermos. Amo você, com todo o meu ser, Kook. Agradeço a Deus por ter te colocado em meu caminho. ― Beijei aquela boca linda, demonstrando todo meu amor. A máquina e a tesoura foram parar no chão e ele me abraçou, acariciando meu corpo...

   Horas mais tarde, tínhamos acabado de almoçar, quando Kook puxou o assunto novamente. Na manhã seguinte eu me internaria e aí sim, o bicho ia pegar.

   ― Pequeno, vamos lá? Está preparado?
   Aquela palavra, independente da frase onde ele a usava, me causava arrepios pelo corpo todo.

   ― Preparado para? ― O olhei com a minha melhor cara de sem vergonha.

   ― Não se empolgue. Pode tirar esse sorriso safado do rosto. ― Pegou em meu queixo, erguendo meu rosto para um beijo rápido. ― Vamos cortar seu cabelo.

   Aquilo causou um outro tipo de arrepio em mim e olhei em seus olhos.

   ― Kookie, vou ficar parecendo uma bola de boliche...

   ― Pequeno, eu já disse que o melhor de você é o que está aqui dentro. Seus cabelos são lindos, mas são apenas um adereço, te amo de qualquer jeito. Vamos lá. ― Ele me virou e deu uma palmadinha em minha bunda, me impulsionando. Fui andando devagar. Parecia que estavam me mandando para a forca. Era idiotice minha, vaidade pura, mas no fundo eu tinha medo da reação dele. Chegamos ao quarto e ele pegou um pacote de dentro da sua mala de mão.

― Olha o que comprei pra você. ― Estendeu o pacote para mim e peguei, apertando para ver o que poderia ser.
   ― Ei, e se é de comer e você está apertando assim? ― Ele riu de mim. ― Abra.

   Rasguei o pacote e dentro tinha um boné lindo, em uma estampa escura.

   ― Achei que, uma hora, você ia precisar. E você gosta de boné. Então juntei o útil ao agradável. ― Me abraçou, beijando de leve em minha boca.

   Fiquei sem fala, olhando para o boné. Que gesto mais lindo!

   Entramos no banheiro e ele olhou em volta.

     ―Espere só um pouco, vou buscar o banco que eu mandei para o Hoseok, deve estar no banheiro dele.

   Kook havia mandado um banco para que Hoseok pudesse tomar banho, enquanto estava engessado, Yoongi havia trazido e realmente havia sido de grande valia.

   ―Pronto. Sente-se aqui. Vou cortar bem rente e então podemos doar para as crianças que fazem quimio. Você quem sabe. Pronto?

   Eu estava mudo. Um nó em minha garganta me impedia de dizer uma palavra que fosse. Caramba, eu nunca fui um homem covarde, mas agora... Só assenti com a cabeça e ele pegou a tesoura e uma mecha de meus cabelos. Me olhou no espelho a minha frente e assenti novamente.

   Então ele fechou a tesoura, ficando com a mecha na mão. Estendeua para mim e eu peguei. Não queria chorar, mas meus olhos ardiam, dentro do meu nariz queimava... Meu pulmão parecia não querer funcionar direito. Pisquei algumas vezes, espantando as lágrimas que teimavam em se juntar ali.

   E então outra mecha se juntou a primeira ... e mais uma... e outra. Não contive as lágrimas e chorei silenciosamente. Uma dor, uma tristeza sem igual tomou conta de mim, a cada mecha que se juntava as outras em meu colo. Em pouco tempo todo meu cabelo estava em minhas mãos. Só então eu levantei os olhos e me encarei no espelho. Eu ainda tinha um pouco de cabelo, curto, mas eu tinha. Então Jungkook colocou uma toalha no chão e outra sobre meus ombros e ligou a máquina. Quando ele encostou o metal frio em minha nuca, um soluço escapou de minha garganta e deixei aquela dor toda escapar de mim e transbordar pelos meus olhos.

   Olhei para ele, através do espelho e vi que ele também chorava, as lágrimas escorrendo pelo seu rosto lindo, mas em nenhum momento sua mão fraquejou.

   E então eu estava careca. Ele me deu um beijo em cima da cabeça, que estava lisinha e apoiou o queixo nela.

   ―Não disse que você é lindo
de qualquer jeito? ― Sorriu para mim.

   Bem, estava feito. E o resultado não era de todo ruim e ainda tinha o boné que ele havia me dado.

   ―Pense, Pequeno, agora não precisa se preocupar com shampoo, condicionador,  nem secador. ― Ele fez gracinha, para me fazer rir. Ah, como eu o amava! ―Vamos tomar um banho para tirar esses cabelinhos de você.

   Ele tirou minha roupa e, como eu sabia que ele gostava, deixei que me lavasse.

 Quando se deu por satisfeito, se lavou rapidamente, me secou e me levou para a cama. Aquilo não tinha sido fácil para nenhum de nós, como ele havia previsto, mas era uma coisa a menos.

   Eu ainda não havia dito uma palavra. Passava a mão pela minha cabeça, agora lisinha, incrédulo, tentando aceitar aquilo. Eu sabia que esse dia chegaria. Enfim suspirei e olhei para ele.

   ―Obrigado, amor. ― O abracei, realmente grato por tê-lo comigo.

   ―Bem, vamos ao boné. ― Kook pegou o boné.

   E colocou sobre a própria cabeça.

   Levei a mão à boca, para que ele não visse meu sorriso, que acabou se tornando uma risada gostosa.

   ―Estou bonito?―Ele perguntou e eu acenei com a cabeça em um sim.

   ―Obrigado, nunca vou agradecer o bastante.

   ―Agora, a sua vez. ― Ele tirou o boné e me entregou. Eu o coloquei o mesmo em minha cabeça agora careca.

   ―E então?

―Lindo! Você fica mais bonito do que eu. ― Brincou, pegando minhas mãos, dando um beijinho em meus dedos. Ele precisava me tocar, estar perto e eu também precisava mais dele do que o ar que eu respirava.


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Galera, me desculpa se tiver erros tá bom 🥺🥺

INCONDICIONAL  ( Jikook ) Onde histórias criam vida. Descubra agora