Capitulo 26

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Minha vida, nesses dias, se resumia a uma máscara sobre o nariz e a boca. Ainda bem que meu note não foi confiscado e pelo menos escrever eu podia.

   Chegando aos capítulos finais do meu livro, a sensação de dever cumprido estava ficando cada vez mais forte. Logo que o terminasse, mandaria para revisão e publicaria no site de vendas de ebooks.

 Minhas leitoras estavam ficando ansiosas e algumas não entendiam a demora pela postagem dos capítulos. Eu nunca diria pelo o que estava passando, pois queria que gostassem e me acompanhassem por amor à leitura.

   Estava acabando de escrever um capítulo particularmente tenso e estava compenetrado, quando percebi um movimento ao meu lado. Kook estava ali, parado e me observando.

   ―Não escutei você entrar, amor.

   ―Já estou aqui há algum tempo, Pequeno. Você fica lindo assim, escrevendo. Qualquer hora, vou tirar uma foto sua assim, todo envolvido com o teclado e sua história. ― Passou a
a mão pela minha cabeça e me beijou na testa.

   Ah, como eu queria outro tipo de beijo.

 Um daqueles consumidores, apaixonados, que me deixam mole e querendo ele sussurrando em meu ouvido “Pequeno, prepare-se.” Um arrepio me percorreu e ele me olhou com um sorriso naquela boca linda.

   ―Esse olhar e esse estremecimento. Pequeno, controle sua mente. Você sabe que não podemos e é muito arriscado...

   ―Sim, eu sei, mas não posso me ajudar nisso. Você assim tão próximo, sua boca na minha pele, evoca meu lado safado e bem, você sabe. Estava pensando em como eu quero você sussurrando em meu ouvido, com aquela voz rouca... o que eu mais gosto.

   Um estremecimento o percorreu e, numa olhada rápida, percebi que ele ostentava uma bela ereção. Não pude evitar sorrir, mesmo que ele não pudesse ver, por causa da máscara.

   ―Bom saber que sou o culpado por esse sorriso lindo, que chegou aos seus olhos. Meus lindos olhos castanhos, meu Pequeno lindo. ― Ele chegou  perto e por cima da mascara encostou seus lábios nos meus. Senti seu calor e todo o sorriso, se transformou em lágrimas frustradas. Eu estava tão sensível!

   ―Bem, Pequeno, passei aqui para dizer isso, que você quer tanto escutar. Prepare-se. ― Ele sorriu para mim. ―Logo mais será seu transplante. Já colhi a medula e ela está sendo preparada. Chegou a hora.

   ―Como o Tae está?

   ―Ele está se recuperando, surgiram alguns contratempos no centro cirúrgico, mas tudo foi controlado. Hoseok está com ele agora, então ele não poderá vir aqui. Eu disse a ele que te avisaria. Ele não poderá ficar, mas eu vou. O tempo todo. Só vou sair para ver como está o Tae e voltar. Sou responsável por ele. ― Ele estava sério, em seu modo “médico”.

   ― Certo, espero que logo ele possa vir me ver.

   ―Pequeno, ele tem que se recuperar, vai ficar alguns dias internado também.

   ―Está bem. Ah, Kook, essa espera é terrível! Essa coisa toda é demais. Eu estou uma pilha de nervos, com as emoções descontroladas. Uma hora eu choro, em seguida estou rindo, e
logo chorando outra vez. Que merda isso! ― Desabafei, pois aquilo estava me matando.

   ―Olha essa boca... E eu sei que é assim mesmo, mas é uma espera pela cura, tenha paciência. Chegamos até aqui. Falta muito pouco, para tudo acontecer. ― Ele pegou minha mão e roçou a boca sobre meus dedos. ―O mais difícil aconteceu, você achou um doador, a medula está sendo preparada e agora é só colocar em seu corpo. Um pedaço do Tae, em você, um pedaço que pode salvar sua vida, Pequeno. Tenha um pouco mais de paciência. Pense que em alguns dias, a medula vai pegar, se Deus quiser e poderemos viver nossa vida, casar e começar a planejar nossos filhos...

   Ele foi distribuindo beijos pelo meu braço, subindo devagar, até meu pescoço. Ele sabia muito bem, como mudar meu foco, minha atenção agora toda voltada a ele e seus beijos embriagadores. Suspirei quando ele roçou os lábios em minha orelha e gemi de leve quando senti sua respiração em minha pele sensível e me arrepiei todo.

   O celular dele vibrando, fez com que ele se afastasse de mim.

   ―Tenho que ir ver o Tae. Volto
já, já, para te levar para o transplante. ― Deu um beijo rápido em minha testa e se foi.

   Recostei a cabeça no travesseiro, fechando o note. Respirei compassadamente, tentando me acalmar. Eu estava impaciente.

   Minutos mais tarde, Sook entrou no quarto, com uma cadeira de rodas, dizendo que me levariam para a preparação, que o Dr. Jeon me encontraria mais tarde. Fechou o acesso e retirou o soro, me ajudando a sentar na cadeira.

   Logo chegamos a uma sala estéril. Na antessala, ela me auxiliou no banho e me passou uma daquelas camisolas de hospital, trocou minha máscara e eu estava pronto. A porta da sala se abriu e outra enfermeira me auxiliou, me sentando em uma poltrona e achando minha veia, conectou a bolsa de sangue a mim. Pela vidraça que havia na sala, pude ver Kook me observando. Sua presença me acalmou e relaxei.

   Estava feito. A bolsa de sangue chegou ao fim. Agora era esperar que pegasse e que minha medula voltasse a produzir sozinha.

   Os dias passaram lentamente, todos os dias eu recebia uma bolsa de sangue intravenoso, pois eu precisava de hemoglobina, plaquetas, leucócitos... e tudo isso estava baixo demais. Não sei quanto sangue eu recebi, por isso, desde o dia do transplante, comecei uma campanha em minha rede social para a doação de sangue, tentando conscientizar as pessoas.

   No décimo dia, Tae veio me visitar e me contou tudo o que aconteceu com ele.

 Caramba, coitadinho! Quase morreu enquanto tentava me salvar. Foram cinco dias, desacordado e havia tido duas paradas cardíacas! Jungkook só me olhava, e nada dizia. Eles haviam combinado assim e eu fiquei todos esses dias sem saber de nada!

   ― Acalme-se, eu estou bem, não está vendo? Tudo já passou. O importante agora é você ficar bem também. ― Tae me assegurou, com um sorriso.

   Ah, ele era mesmo um anjo! Tinha me dado a vida e estava fazendo meu irmão feliz também. Não podia ter chegado em hora melhor. Realmente, Deus escreve certo, por linhas tortas...

INCONDICIONAL  ( Jikook ) Onde histórias criam vida. Descubra agora