Capítulo 1: Um para Dois

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Uma semana havia se passado desde o início de toda a nossa história.

É impressionante como uma fuga de Benjamin se tornou algo tão grande, tão especial. O pequeno ruivo de seis anos não só mostrou para sua mãe que cada dia ficava mais independente, como acabou cruzando o caminho de uma mulher que há menos de dois anos perdeu o grande amor da sua vida.

Sua filha.

E desde então, não permitiu que nenhuma outra criança entrasse na sua vida.

Até Benjamin aparecer.

— Você precisa conversar comigo em algum momento. – A latina falou, cansada do silêncio que se instalava entre elas há uma semana.

— Sobre o quê?

— Você está distante desde o encontro com aquele menino ruivo, Toni. Você pode conversar comigo, sabe disso.

Toni suspirou pesado, ela sabia onde Veronica queria chegar e se recusava a continuar aquele assunto. Não iria remexer em seu passado, estava bem assim e continuaria.

— Não foi nada. Só vigiei o garoto enquanto a mãe dele não aparecia.

— Eu não te vejo tão próxima de uma criança desde-

— Não. Não continua, Veronica. – Interrompeu com certa rispidez.

Era automático. A mulher mudava completamente quando o assunto era sua filha, ela não conseguia aceitar o fato da sua menina ter sido tirada de seus braços. Não aceitava o fato de que não podia ver ou tocar na sua filha há quase dois anos.

Se fechou para as crianças no dia em que recebeu a notícia. Não é como se odiasse ou não conseguisse ficar perto de crianças, ela nunca chegaria nesse ponto. Mas não permitia que alguma criança a cativasse. Entrasse tão seriamente em sua vida ou pensamentos. Não permitia que alguma criança pudesse roubar o lugar de sua filha em seu peito.

— Você precisa seguir em frente. Vai fazer dois anos. – Veronica falou seriamente enquanto se aproximava e largava o caderno de contas no balcão.

— Você não sabe, Veronica. Você não sabe.

— Não, Antoinette. Eu não sei. – Rebateu. – Eu não sei como é perder uma filha e se eu pudesse daria a minha própria vida para que você nunca soubesse como é também.

Toni se manteve em silêncio, Veronica negou com a cabeça e riu sem humor. Estava chateada, cansada. Não sabia mais como ser o apoio de uma pessoa que se recusava a aceitar.

— Mas eu sei como é perder uma sobrinha. – A latina continuou. – Sei como é perder um pouco da minha irmã dia após dia. Sei como dói não poder dar a minha única irmã o conforto que ela precisa. Eu não posso sentir a sua dor, mas não diga que também não dói em mim.

Ambas se encaravam. Os olhos de Toni levemente marejados enquanto sua postura continuava firme, seu peito doía mas se recusava a deixar aquela dor sair. Veronica, por sua vez, não escondia sua feição de tristeza. As irmãs não conseguiam conversar sobre aquilo sem terminar em briga, lágrimas ou tensão.

A situação piorava e Veronica não desistia de encontrar uma forma de ajudar, mesmo sem ter ideia de como. Seus pais desistiram de oferecer apoio quando Toni os afastou no terceiro mês do ocorrido e a única que ficou foi Veronica, que também era afastada mas sempre voltava. A latina não conseguia simplesmente desistir, não podia. Ela sabia que Toni precisava dela mesmo não dizendo.

Veronica ergueu os braços em rendição e se virou para pegar o caderno de contas novamente, resolveu respirar um pouco. Guardou o caderno na gaveta e olhou para Toni uma última vez antes de pegar seu casaco e sair da loja. Vestiu a peça e botou as mãos dentro dos bolsos seguindo seu caminho até a praça.

Benjamin | CHONIOnde histórias criam vida. Descubra agora