✨ELEITA UMA DAS MELHORES HISTÓRIAS DE 2021 pelos embaixadores do Wattpad e finalista no The Wattys 2021✨
Depois de anos de guerra, a paz continua a ser uma linha tênue entre a ordem e a rebelião. Uma doença aparentemente incurável assolou o mundo e...
Uma palavra. Duas sílabas. Cinco letras. E milhões de segundos para morrer.
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Anna
Tique-taque. Tique-taque.
Eu escuto o relógio na cabeceira da cama, como se ele contasse os últimos segundos de vida de meu pai.
Tique-taque. Tique-taque.
O som da vida se esvaindo de seu corpo, dos segundos passando.
Tique-taque. Tique-taque.
Com força, bato no relógio, que range quando as engrenagens se partem no chão. Me agacho, recolhendo os cacos e os aperto até que as peças furem minha pele, como se a dor e o sangue fossem capazes de controlar minha raiva.
Banilimas, a doença que mata meu pai aos poucos, foi criada durante a Grande Guerra. A batalha durou 24 anos e destruiu tudo de um mundo que um dia foi inteiro, mas que agora se encontra como o pequeno relógio: em pedaços. O que mais dói é pensar que a doença foi fabricada em um laboratório para destruir e matar o exército inimigo. No entanto, o vírus não escolheu um lado para lutar, virando-se contra seu próprio criador, ceifando almas sem olhar a quem respondiam. A cura foi perdida — ao menos, é o que dizem — e agora nos resta esperar por um milagre da ciência.
Lave bem os alimentos, eles orientam. Ferva a água antes de beber. Mas nem todos os cuidados foram capazes de salvar papai.
Estremeço, vendo os sinais da enfermidade nítidos em seu rosto. Ele está doente e agora é impossível esconder. Eu sei que os guardas aparecerão hoje. Sei que verão o quão enfermo ele está, que não podemos mais fingir não ver as manchas brancas em sua pele, as bolhas vermelhas em seus dedos e a febre que ameaça consumi-lo. Sei que o levarão para longe para fazer mais pesquisas e sei que eu ficarei sozinha.
A cada mês, há uma batida, em que guardas, vestidos de negro e com armas grandes demais, revistam as casas, medem nossa temperatura e olham para nossa pele. Manchas brancas é o que eles buscam e a febre é o que eles temem. Enfermos é o que procuram para levá-los para o Cuco, onde serão submetidos a testes e mais testes, como se isso milagrosamente nos trouxesse a cura, e não apenas mais mortes.
Banilimas, a enfermidade, chega silenciosamente. Ela começa com uma febre alta demais, e então surgem manchas claras como a neve. Logo, temos as mãos trêmulas e quentes, os olhos perdidos e vazios, levados pelas alucinações. Por último, há as bolhas de sangue, quando o doente se desfaz de dentro para fora. Depois disso, só lhes resta aguardar que Tempo os leve, que seu relógio biológico deixe de marcar as horas.
Engulo em seco quando papai abre os olhos e me vê sentada ao seu lado, guardando seu sono. Ele sorri, como se tentasse mascarar a dor, mas eu ainda consigo vê-la em seus olhos escuros e profundos, uma cópia dos meus. Envolvo seus dedos quando ele sussurra, a voz áspera de quem já viu dias melhores: