Capítulo 8- Faymor

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Boa leitura :) 

Acordo em meio ao caos de minha mente. Me obrigo a levantar.

Após fazer o básico ao acordar, vejo um amontoado de coisas na mesinha redonda e lisa da cozinha, um pequeno papel está grudado no estofado da cadeira. Pego-o e leio atentamente.

''Coma e fique descente, qualquer coisa que perguntarem, diga que sim! -Samuel''

Ele trouxe torradas, geleia de morango e um suco chamado verão doce, pelo menos é o que transmite a embalagem. Como em silencio, aproveitando os minutos costumeiros da refeição. Não sei o que dizer do bilhete, porque eu deveria falar ''sim''? O que isso quer dizer? Acabo ignorando o ''sim'' do bilhete por enquanto, já tenho muitas coisas na cabeça.

Seguindo o conselho de Samuel, começo a ficar descente do ponto de vista feérico ou do meu ponto de vista... Arrumo meus cabelos em uma trança embutida e coloco uma das roupas que trouxe comigo, uma das que Lorran e Rafael me arranjaram. É impressionante como fico parecida como uma Elfa verdadeira, mas tenho que me lembrar que não sou como eles, não sou imortal, sou frágil e posso me quebrar a qualquer momento, porem jamais deixarei isso transparecer lá fora, nunca vão saber que já fui impotente algum dia.

Pego a espada que também trouxe da outra dimensão, penso em como posso chama-la, afinal todos os guerreiros batizam suas armas, certo? Depois de um certo tempo a batizo de chama da lua.

Alguém bate na porta e eu imediatamente atendo. Achei que fosse Samuel, porem a figura alta entra e me cumprimenta. Uma mulher de expressão dura e inerte. Uma fada, com asas e beleza incomum, não é atoa que dizem ser as mais conquistadoras entres os seres. Estou perplexa, ela deveria estar aqui a essa hora? Talvez seja uma inspeção na residência de cada soldado, se eu estiver certa, o que posso fazer? A voz doce da mesma corta os meus pensamentos.

-Você é a Viviene Leclerc, certo? – Ela diz, algo na sua voz me soa frio. A mesma senta no sofá sem delongas. Penso no que Samuel escreveu no bilhete. Sim.

-Sim, sou eu.

-Vamos ser diretas, não tenho tempo para apresentações ou baboseiras. -Ela suspira. É assustadoramente ríspida comparada a sua aparência. -Veio de Trimbor para Faymor em busca de mais reconhecimento como soldado, estou certa? – Ela pergunta.

-Sim, isto mesmo, eu nunca fui valorizada aonde nasci! – Ela me olha dos pés à cabeça. Embarquei na mentira, só não posso exagerar, o preço seria me afogar nela. Acho que entendi a intenção de Samuel, me encaixar no meio dos guerreiros, nada mal.

-Chegou tarde, os soldados já começaram a algum tempo, na verdade só vim até aqui para dispensa-la, mas gostei de você, é direta, parece ser uma boa guerreira, os meus pressentimentos não me enganam, depois faça o seu mapa astral. Enfim, por isso, vou te dar uma dica, vá na festa de Faymor hoje, o mais novo dos generais estará lá, Brandon! Boa sorte.

-Obrigada, mas não preciso de sorte, consigo até com o azar ao meu lado! – Digo. A mulher fica surpresa pela fala, o que me causa um riso natural, mas me forço a ficar séria. O que não faz a força de vontade? Gosto de como serei agora. Gosto de como me sinto.

-Já vou indo, tenho muito o que fazer e inspecionar, seja bem vinda! – Ela pisca um de seus olhos.

♧♧♧

-Eu digo para você não chamar atenção e já quer ir a uma festa? – Samuel diz. Dou de ombros. -A festa de Faymor não é qualquer uma, o povo do reino todo irá.

-Relaxa um pouco! Você nunca se permitiu arriscar? – Digo.

-É claro que sim, eu não estaria aqui se fosse ao contrário, só sou contra riscos desnecessários. -Ele cruza os braços.

-Todos os riscos são necessários agora, no momento farei tudo que for preciso para atingir o meu objetivo.

-Não é certo que vá encontrar algo na festa ou até mesmo se vai conseguir entrar para o grupo de soldados, ficou maluca? Nem mesmo eu algum dia ousei falar com Brandon.

-O dia de subir de nível chegou, não vou perder a oportunidade. – Ele suspira se dando por vencido.

-Vou junto, se você for sozinha, vai acabar mal.

Ignoro o comentário dito pelo mesmo e vou em busca de me arrumar, espero estar impecável, que general diria não a uma guerreira descente e decidida?

Faço o ultimo ajuste em minha trança embutida de mais cedo, agora tem pequenas pedrinhas cintilantes pelos fios. Olho o meu vestido no espelho, ele é elegante e sério, do jeito que agora sou. Sua cor é um preto azulado magnifico. Samuel também está muito bonito, sua roupa combina perfeitamente com seu rosto, é harmônico.

-Me prometa que não fará besteira. -Ele diz enquanto arruma sua gravada borboleta.

-Eu prometo, satisfeito? -Ele afirma com a cabeça.

♧♧♧

-Vamos de carruagem? -Pergunto. É incrível como a cada segundo me impressiono com algo. Os feéricos são mais tecnológicos na teoria, porque usariam transportes desse tipo ainda? Acaricio o pelo de um dos cavalos antes de entrar com Samuel em nosso mais novo transporte, cavalos me trazem muitas lembranças, mas não quero ter que lembra-las neste momento.

-É claro que vamos de carruagem, é o transporte perfeito, não faz mal algum ao meio ambiente. -Ele diz. Concordo em silencio. Após alguns minutos vejo a mansão se aproximar. Salto da carruagem e aprecio a decoração do lado de fora, é realmente impressionante, tudo é em tons dourados com preto. As luzes brilham como as estrelas no céu e ouço as mais diversas vozes misturadas com música, Samuel esta certo, todos vieram comemorar os cinco anos desde que o rei assumiu sua posição e o seu pai reivindicou a favor do filho. É uma situação inusitada, pelo que ouvi, o antigo rei ainda teria muitos anos para governar, na verdade ninguém realmente sabe o porquê desta decisão, e não serei eu a questionar.

Entro ao lado de Samuel, recebo olhares avulsos, alguns cochicham, porém não são discretos e nem imagino se querem ser. Logo o garoto me deixa e vai de encontro a conhecidos, não sei como ele pode não ter nenhum remorso por essas criaturas, elas literalmente estão acabando com a raça humana, mas ele conversa animadamente com seus colegas como se fosse um deles, talvez até pense já ser, mas sei que um dia se lembrará da pior maneira, quando estiver em seu leito de morte e seus amigos em perfeita conservação. Não sou cruel a ponto de lembra-lo disto.

Pego uma bebida azulada e fico de canto, apenas observando cada ser, quando souber um pouco sobre como cada um age, quem sabe eu não faça alguns colegas também?

Existe o grupo das cortes, Elfos esnobes, idiotas ao meu ponto de vista. Existem também dois príncipes que não foram escolhidos para reinar, eles aparentam ter a minha idade, estão bem vestidos, um deles é moreno e tem um sorriso curvo nos lábios, traiçoeiro, eu imagino. O outro parece ser simpático com os seus fios vermelhos, o sorriso deste parece ser sincero, mas não posso deixar que só a aparência me engane. Claro que os soldados também estão reunidos em um grupo próprio. Não muito longe, uma das princesas conversa com alguém, ela tem um vestido longo e florido, ela aparenta ternura. A mesma olha em minha direção e sorri, o seu acompanhante se vira, é Samuel! 

Espero que tenham gostado :)

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