Capítulo 5- Amuleto

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Boa leitura 💞



Estendo o braço, a espada está firme em minhas mãos. Faço os movimentos calculados que me lembro. Eu era habilidosa com espadas, cheguei até a participar de campeonatos de esgrima, agora só me falta relembrar como se faz.

Os meninos parecem conhecer os comerciantes na redondeza, conseguiram a espada em pouco tempo e por um preço em conta, acredito que eles já tenham experiencia com esse tipo de coisa.

Procuro a habilidade que tive anos atras, eu realmente gostava de me mexer rapidamente enquanto segurava o objeto cortante fortemente entre os dedos, era como se fosse um lado novo meu, um lado poderoso, era como se eu estivesse em câmera lenta. Eu me sentia temida, parece bobo, eu sei, mas a sensação era gloriosa.

Mesmo que eu não vá usar essa espada efetivamente em combate na dimensão feérica, ela vai ser como meu porto seguro, como uma carta na manga caso algo de errado, sabe-se lá o que pode acontecer, é bom ter pelo menos como lutar.

Continuo com os movimentos, quando percebo a presença dos dois garotos boquiabertos.

-Você parece ser realmente boa nisso. -O de cabelos castanho diz.

-Confesso que estou impressionado, achei que você estava apenas se exibindo quando disse que fez esgrima. -Dou um sorriso mínimo. -Agora, senhorita Viviene, eu te desafio a um duelo. -Lorran diz e pega sua espada.

-Ok, eu aceito, pequeno Lorran. -Ele faz uma careta.

Começamos com a saudação e rodamos em círculos, em guarda, na defensiva, eu dou o primeiro passo, marchando e rompendo, afim de ataca-lo com uma manobra de mãos simples, mas ele bloqueia e recua, após, ele ataca do jeito que conheço bem, péssima forma de começar, esses movimentos são muito previsíveis, de forma que eu bloqueio todos os jeitos que ele encontra de encostar a espada em mim. Começo a usar movimentos mais complexos e quando penso que ele esta quase por desistir, ele ataca com mais entusiasmo e com mais força, o mesmo faz o movimento de parada e eu dou a resposta, que passa perto de seu peito, mas não o acerta, ficamos alguns minutos atacando e desviando, até que decido fazer um movimento arriscado e que requer habilidade, um que nem mesmo no meu tempo de esgrimista sabia fazer com perfeição. Me preparo e dou um salto, com o braço bem esticado, aterrisso com o calcanhar da perna frontal, porem minha perna traseira não está esticada e o movimento não dá certo, Lorran me acerta rapidamente enquanto estou vulnerável.

Ainda ofegante sento em um banco.

-Você foi incrível Viviene, se tivesse esticado a perna no momento crucial, teria ganhado. -Ele diz entusiasmado. Sorrio.

-Acha que isso é o suficiente para ir pra dimensão feérica?

-Eu diria que sim. -Rafael é quem diz dessa vez.

-Ótimo, estamos prontos antes do que eu imaginava. -Digo.

-Na verdade, falta uma coisa. -Rafael fala.

-O que seria?

-Você ainda não sabe agir como eles, tente criar uma personalidade pra si, uma mais confiante e enfim, que eles não desconfiem de nós, se não, estamos ferrados. -Ele tem razão, não posso ser quem sou, vou ter que atuar, nunca foi o meu talento, mas pela minha mãe, eu vou dar o meu melhor.

♧Alguns dias depois♧

A partir de amanhã vou ser outra pessoa, então espero curtir essa ultima noite com os meninos, sendo eu mesma pela última vez, até dar tudo certo, claro, não é para sempre. Agora que minhas habilidades com espada foram aguçadas e meu jeito de agir foi mudado, espero partir a dimensão feérica o mais rápido possível e sair de lá na mesma velocidade.

Sei que não será fácil, mas vou acordar a minha parte destemida e agir com confiança, serei uma boa guerreira.

Diria que a sorte já está ao nosso lado, já que esses dias, o dono do chalé não deu as caras, mesmo que ele aparecesse eu não estaria tão encrencada quanto os meninos, pois não foi uma opção minha vir para cá e sim o próprio dono me trouxe, já Lorran e Rafael...

Os últimos dias foram de muito aprendizado e confesso que consegui me divertir com os garotos, eles se tornaram muito especiais para mim nesse meio tempo que ficamos juntos, admito que não esperava ficar tão próxima deles, mas agora sinto que os conheço a anos, afinal eles estão se arriscando para me ajudar e eu sou muito grata por isso.

-Vivi! -Lorran grita. Corro da cozinha até os meninos que estão aparentemente fazendo um piquenique na porta do chalé. Eles estendem um lençol sob a grama e colocam algumas comidas industrializadas e frutas.

-O que é isso? Um piquenique na calada da noite? - Dou uma pequena risada da situação e eles acompanham.

-Não conseguimos fazer de manhã, mas fala aí, a noite é mais legal, não é? -Lorran diz entusiasmado.

-É diferente, mas parece ser mais legal - Lorran dá de ombros e sorri. -Hum, mas pra que tudo isso? -Pergunto.

-Nosso ultimo dia sendo meros mortais? É claro! -Rafael diz e ri.

-Ok, vamos comemorar! -Pego um morango e sento com os meninos. -Já conseguiram o amuleto, certo? Posso experimentar? - Digo.

-Tem certeza que já quer fazer isso? Acho melhor não. - Rafael diz

-E porque não, senhor Rafael? -Ele dá um sorriso, mas continua com a mesma expressão.

-Não sabemos de qual feérico é seu amuleto, tivemos de pegar um aleatório, tenho medo que desista se for um goblin ou outra criatura horrenda.

-Então é isso? Fala sério, eu pareço me preocupar com aparências? Que patético Rafael, eu não vou lá pra brincar de ser imortal, vou para salvar a minha mãe! - Eu digo e acabo gritando. Realmente me chateou o pensamento do moreno.

-Calma Vivi. -Lorran diz.

-Eu sei que vai por sua mãe!

-Não parece. -Olho nos olhos dele. Ele morde o lábio e pensa.

-Me perdoa, eu deveria saber que você não é assim e que está disposta a tudo. -Ele abaixa a cabeça. Vou até ele e levanto sua cabeça com a palma da mão, ele parece surpreso.

-Tudo bem, me desculpa por me precipitar, não nos conhecemos a tanto tempo, mas saiba que eu não sou o tipo de pessoa que se importaria com a aparência com alguém que amo em jogo. -Sorrio e volto ao meu lugar.

-Eu tive medo, medo de você desistir e não te termos conosco, você se tornou parte da nossa família, sabe disso né? -Ele diz.

-É claro que ela sabe! - Lorran diz. Sorrio, agora tenho mais pessoas para me importar.

♧♧♧

Suspiro, comi demais hoje, agora devem ser por volta de duas da manhã, a noite pareceu longa, conversei muito com os meninos, entre gargalhadas e a tensão das histórias de terror contadas por Lorran, e claro, confissões sobre medos, traumas e objetivos do futuro. Agora todos estamos deitados, Lorran reclama por ter comido demais e Rafael está de ponta cabeça no sofá, enquanto faz caretas que me fazem rir.

-Ok, chegou o momento mais esperado da noite. -Os meninos me olham confusos. Pego a blusa de Rafael e enfio a mão em seu bolso, vendo o amuleto prata com uma correntinha da mesma cor, o objeto tem detalhes curvilíneos, é discreto e muito bonito!

-Uau, parece sofisticado. -Lorran ri.

-Sim, parece. -Antes de me arrepender, coloco o colar sem avisos e sinto algo mudando lentamente.

-Gire! -Rafael diz e eu o faço. Dou um giro lento e vejo os meninos me olhando com uma expressão estranha, diria que a de cachorro pidão.

-Uau. - Lorran diz.


Espero que tenham gostado 💞

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