capítulo 4- Solução

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Boa leitura💞

Abro a porta e dou um passo para fora, afim de identificar as horas pela posição do sol. Mas nunca fui boa com isto. Talvez oito da manhã, quem sabe. Volto ao chalé e vejo os dois meninos me olhando como quem acabou de acordar. A cara de Lorran está amassada pela textura quadriculada do braço do sofá e Rafael não está diferente.

-Finalmente as belas adormecidas acordaram. -Digo em tom irônico e remexo os armários, a procura de algo para o café da manhã. Lorran continua imóvel e Rafael só boceja. Eu, pelo contrário, não preguei os olhos por um segundo esta noite. Talvez eu possa confiar nos meninos a minha frente, afinal eles confiaram em mim ao dormirem a noite toda sem se preocupar com o que eu poderia fazer, certo? Tudo bem que eles são em dois, mas isso não ameniza os riscos que correriam se eu tivesse má índole. Isso me conforta de alguma maneira, eles realmente confiaram em mim.

-Só fale comigo daqui a dez minutos, quando eu estiver em condições de raciocinar. -Lorran diz. Reviro os olhos.

-O que tem aí pra comer? -Rafael fala e remexe seus cabelos castanhos.

-Bom, eu ainda tenho que vasculhar mais os armários, mas quem sabe de para fazer panquecas? -Rafael vai de encontro ao banheiro, provavelmente vai lavar o rosto.

As coisas que encontro nos armários são feitas por humanos e isso me alivia de modo que até suspiro. Se esse chalé fosse de um imortal, eu iria ficar preocupada, mais do que já estou.

Rafael volta e dessa vez Lorran que vai ao banheiro.

-Tem certeza que essas coisas são de pessoas como nós? -Ele pergunta.

-Hum, tenho, você não tem? -Ele dá de ombros. -De qualquer maneira, se está aqui, não vai nos fazer mal.

-Já vi de tudo por aí, inclusive comidas que parecem com a de humanos, mas na verdade contém componentes alucinógenos, você correria o risco? -Ele diz. Dessa vez eu é que dou de ombros. -Você deveria saber disso. -Ele completa. Na verdade, eu já aprendi essa lição, assim que comi aquela maça, ou o que era aquele fruto e o nome dele, gurguguma?

Deixo a comida de lado e pego um pacote com bolachas que achei no mesmo local.

-Esses têm menos chances de nos ferrar. -Deixo o pacote na mão de Rafael, que sorri. Lorran volta e senta no sofá.

-Vivi, aonde estava quando tudo aconteceu? -Lorran pergunta e eu fico rígida. Provavelmente ele está insinuando a quando os feéricos apareceram, quando eu estava quase morta.

-Que pergunta repentina, em? Hum, estava na minha casa, com minha família. -Falo e tento parecer convincente.

-Entendi. -Ele diz. Felizmente, parece que ele não perguntará mais sobre isso.

-Rafael, daqui a pouco temos que ir, você sabe. -O garoto pálido fala e come uma bolacha, antes roubada da mão de Rafael.

- Sim, eu sei.

Continuei conversando com os meninos que tem um senso de humor discutível, descobri que eles são amigos de infância e se consideram irmãos, Rafael tem vinte e dois anos e Lorran dezessete, apesar da diferença de idade, de algum modo começaram a ser próximos a muito tempo, antes do mundo desabar em cima da raça humana.

-Vocês sabem como reverter uma barganha? -Falo como se as palavras estivessem presas em minha garganta a muito tempo. A conversa, antes animada, toma um rumo melancólico.

-Eu não sei Viviene, desculpe. -O menino palido diz. Sinto que eles sabem aonde a maioria das barganhas acabam.

-Na verdade, talvez eu saiba. -Rafael fala, mas não parece tão convicto.

-Como? -A um tom de suplica em minha voz. Ele parece pensar.

-Primeiro nos conte o que escondeu até agora, pode confiar em nós. -Engulo a seco. Talvez esse seja o momento de me abrir e talvez não, como posso confiar em pessoas que conheci em menos de vinte e quatro horas? Mesmo assim, sinto que posso contar a eles. Minha mãe sempre disse para seguir os meus instintos e sinto que eles são verdadeiros comigo, nada mais justo do que ser com eles também. E então, conto o que sei sobre os meus últimos cinco anos e em como estou tão perdida quanto barata sem cabeça.

-Sinto muito. -Rafael diz e o garoto pálido concorda.

-A partir de agora, pode contar com a gente, certo? -Lorran fala.

-Vou pensar em uma forma de tentar resolver seu problema. -O de cabelos castanhos coloca a mão no rosto e faz um gesto simplório. -Sua mãe provavelmente está na dimensão dos feéricos, trabalhando sem parar na casa de algum deles, dos covardes que não sabem se virar por conta própria. Sinto o ódio na fala dele. Lagrimas escorrem pelo meu rosto e percorrem caminhos diferentes, eu não queria chorar, não gosto de me sentir impotente, mas só de imaginar minha mãe nesta situação, me da calafrios.

-Mães fazem coisas de mães, ela te ama muito por ter feito isso por você, e não gostaria de te ver chorar depois de tudo. -Lorran fala e simplesmente acaba me confortando, o que é uma surpresa.

Eles me contam mais sobre como foram os últimos anos e eu escuto atentamente cada detalhe, desde como tudo começou até o presente momento, e parece piorar de tempos em tempos. Soube também que como os feéricos tem desprezo por humanos, apenas os de baixa classe feérica habitam com os humanos, os de classe mais alta ainda vivem em sua dimensão, apenas desfrutando do trabalho da nossa raça e vivendo suas vidas normalmente. Isso me irrita profundamente. Eles não tinham o direito.

-Se quiser, pode vir conosco, vamos a dimensão deles. -Rafael fala sério.

-Como? Isso é possível? -Pergunto. Uma ponta de esperança me enche.

-É possível, vamos até lá para nos esconder, o lugar menos provável que poderíamos estar.

-Isso aí. -Lorran diz. Penso um pouco.

-Eu preciso salvar a minha mãe, se eu não usasse dessa oportunidade não iria me perdoar se não aparecesse outra e tivesse perdido a chance.

-Certo, nada mais justo, vamos nos ajudar, certo? -Lorran fala e eu concordo sorrindo minimamente.

-Se aceitar, no mínimo vai ter que saber manusear uma espada ou algo assim, sabe, por precaução. -Rafael diz e fingi estar com uma espada, o que provoca um riso mutuo.

-Não me subestime, fiz esgrima por três anos. -Sorrio. Pelo menos agora, aquelas aulas servirão de algo.

-Ok, os planos mudaram, vamos ter que ficar mais umas duas noites aqui, Acho que o dono não volta até lá, precisamos arranjar outro amuleto. -Eles concordam entre si.

-Amuleto, pra que um amuleto? -Digo confusa.

-Vamos entrar na dimensão dos feéricos, pra isso você tem que ser um deles. -Rafael diz e levanta uma sobrancelha. Ótimo, agora terei que me parecer com eles, com as criaturas que pegaram minha mãe e a fizeram de escrava, isso é deplorável.

-Além disso, vai ter que agir como eles, confiança, você tem?

-Pela minha mãe, com certeza! - ''Se não pode vence-los, junte-se a eles.''













Espero que tenham gostado 💞

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