Capítulo 10- Talento

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Boa leitura.

Minha mente trava por alguns segundos, mas logo recobro os sentidos, preciso da confiança de minutos atrás.

-Poderíamos conversar a sós por um minuto? Não vou ocupar tanto do seu tempo. - Ele olha para os soldados e volta a me olhar, logo, faz um sinal positivo com um aceno de cabeça. Ando até a varanda, antes descoberta, ele apenas me segue.

- E, então? Espero que tenha um bom motivo para me entreter, saiba que só aceitei vir até aqui porque é estranho ser abordado por alguém que nunca vi em Faymor dessa forma. - Ele diz e joga os fios rebeldes do cabelo para trás com avidez.

-Vou ser direta. -Sorrio ironicamente. Decido pesar as duas ideias ao meu favor, conquista, e comoção por minha linda história de vida como soldado. -Sou de um território distante, a questão é que de onde venho os soldados não são prestigiados como são em Faymor, e muito menos tem um bom preparo como aqui, por isso vim em busca de reconhecimento e um lugar digno do meu talento. -Ele me fita, talvez esteja refletindo minha fala. Eu posso ter exagerado no que diz respeito ao tamanho talento, mas quem liga? O importante é a primeira impressão.

-Me mostre então. -Ele cruza os braços.

-Espera, mostrar o que exatamente? -Pergunto. Ele revira os olhos.

-O talento que diz ter. - Mordo os lábios e concordo. Ele nem ao menos perguntou o nome do lugar que ''venho'', e talvez tenha sido melhor assim, menos mentiras e mais demonstração. Se tem um momento que vai me marcar, é esse, um passo em falso e vai tudo por água abaixo. Pego chama da noite com rapidez e fico em posição de ataque.

-Como quer que eu mostre meu talento fazendo uma ceninha solo? - Pergunto e levanto uma das sobrancelhas indicando a espada em torno de seu uniforme alinhado. Ele olha para o lado com um risinho bobo e pega sua espada em um movimento preciso. De repente, o espaço que a varanda garante é sufocante demais para uma luta descente, ainda sim, darei o meu melhor neste cubículo de três metros. Repasso os oitos ângulos de ataque na mente e tento prever qualquer fraqueza que Brandon possa ter, o que é complicado de analisar até estarmos lutando efetivamente. Ficamos os dois na posição de início, começo devagar, com ataques básicos, ele desvia de todos com esmero. Ele tenta me golpear, mas uso o contra corte, dou um passo para trás, desviando, e o ataco rapidamente no braço. Ele morde os lábios, provavelmente pela dor que causei.

-Se é assim que luta, vou me adequar ao seu modo. -Ele diz e executa um golpe horizontal, que por pouco não me atinge. Sorrio.

A luta vira um ciclo vicioso de ataques, cada vez mais complexos. Não deixo de pensar que ele é melhor que eu, muito melhor, talvez até esteja pegando leve, minha chance, é de me destacar de algum modo, surpreender.

Começo a avançar quando ele ataca, deveria me afastar, mas não é meu intuito. Olho em seus olhos, como se fosse adivinhar cada ataque seu, ler sua mente, sinto que isso o desconserta. Dou um sorriso mais largo e isso o alarma. Brandon dá uma serie de golpes que passam raspando, mas não tenho tanta sorte com o ultimo, a espada faz um corte em meu punho, mas não ligo, aperto os olhos e continuo. Ele está vencendo, eu sei disso, e o único modo de ter uma chance, é usar a balestra, o golpe que tentei em Lorran, mas não deu certo, desta vez tem que funcionar, ele não esperaria um golpe de esgrima a essas alturas. Me afasto para pegar impulso, ele fica confuso e levanta uma sobrancelha, espero que não tenha adivinhado. Dou um salto no ar, com o braço esticado, caio em posição de fundo, minhas pernas estão certas dessa vez, vou deferir o golpe, mas ouço alguém gritar desesperadamente, isso me desconcentra, ele já desviou e eu apenas golpeio o ar.

-Brandon, rápido, terceiro andar, nos fundos! -Um dos soldados diz e Brandon me olha.

-Sinto que a verei novamente, foi uma boa luta, adoraria termina-la e vê-la comendo poeira, mas agora não posso. -Ele dá um sorriso perverso e sai depressa com o soldado. Provavelmente foi executar seu trabalho, confusões devem ser recorrentes em festas como esta. Insatisfeita, estou insatisfeita, nunca saberei se teria chance de ganhar e nem se Brandon desviou porque adivinhou o golpe ou só porque se alarmou com os gritos.

Vou para o centro do salão, ouço múrmuros por todo canto, no lado direito se forma uma multidão. Samuel corre em minha direção, sua expressão me preocupa.

-O que foi? O que está acontecendo, Samuel? - Ele me puxa pelo braço, passamos com dificuldade pelo alvoroço.

Acordo com a mesma confusão que me persegue, suando frio, o que já virou comum, os pesadelos já viraram comuns. Vou ao banheiro e me arrumo, tomo o Café deixado por Samuel e recobro as lembranças de ontem. Samuel não me explicou o que aconteceu, não disse uma mínima palavra. Pensando no mesmo, ele chega e me dá um aceno simplório.

-Agora pode me dizer o que aconteceu? Ou vai esperar que eu pergunte para qualquer pessoa que me vier a frente. - Digo. Ele senta no sofá.

-Um feérico deu depoimento, disse que viu um humano em suas terras naquela noite. -Não escondo meu desespero, eles vão redobrar os cuidados, podem descobrir o portal por onde passamos, pode estar tudo arruinado.

-Estamos ferrados, você sabe. -Digo.

-Não fale assim, nossa identidade é segura, só vamos tomar mais cuidado, quando você já estiver inserida aqui, ninguém desconfiara. - Balanço a cabeça em concordância. Repasso os meus passos, ser soldado, ganhar a confiança de quem estiver ao meu redor, achar algo sobre os humanos escravos em Faymor, salvar a minha mãe. Já cheguei longe com o meu plano, não vai ser por algo assim que vou simplesmente fugir. E novamente ''se não pode vencer, junte-se a eles.''









Espero que tenham gostado!

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