Breaking the Wall

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Devon, Inglaterra. 2025.

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           Meus olhos tremem enquanto sinto um flash de luz invadir o meu subconsciente escurecido, meu nariz se enrijece ao reconhecer o frio, e minha reação primária é me revirar de um lado para o outro na cama, como quem puxa o sono pela camisa para que volte.

          Me viro para o lado oposto ao que estava antes, dobrando uma das pernas e abraçando um pedaço do cobertor feito um ursinho de pelúcia. Tento focar em continuar adormecida, mas o canto insuportável dos pássaros de todas as manhãs me faz abrir os olhos, frustrada e mal humorada, levando alguns segundos para voltar à realidade e despertar por completo. Já é dia! Os raios alaranjados de sol invadem o quarto e o espaço vazio ao meu lado indica que não é mais tão cedo assim.

           Me sento na cama. Esfrego o rosto, o cabelo, e paro para reparar algo deixado especialmente para mim no criado-mudo ao lado. Dois comprimidos brancos e um copo de suco com um bilhetinho escrito: Bom dia, margarida! Devo me sentir querida?

           Tomo os dois, virando a bebida em seguida. Suzy sabe o que faz, pois logo após esvaziar o copo, sinto o primeiro latejo na região traseira da minha cabeça surgir, me fazendo até apertar o local com a palma de uma das mãos. O enjôo viria logo após, ou seja, cada comprimido tinha uma função. Um era para dor e o outro para me impedir de vomitar o estômago inteiro. Como eu disse, Suzy sabe o que faz. E pela primeira vez demonstra sua consideração por mim num ato tão simples mas tão cheio de significado... É, acho que devo me sentir querida.

            Após alguns minutos de espera para que minha alma acabe de concluir o download no meu corpo, me ponho de pé, caminhando preguiçosamente até às escadas. Do corredor já posso sentir o cheiro do rango sendo preparado, acompanhado pelo rádio ligado em alguma música aleatória. Desço os degraus, logo tocando o chão da sala e sendo notada pela linda mulher que cozinha de costas para o cômodo, vestindo um dos meus moletons favoritos.

              Ela sorri ao me ver.

                        一Boa tarde! 一me saúda, voltando a atenção para as panelas no fogão em sua frente.

                        一Já é tarde? 一pergunto, puxando uma das cadeiras da mesa e me sentando.

                        一Já passou do meio-dia, portanto, sim.

                        一Acho que não dormi o suficiente 一resmungo.

                        一Tá maluca? Você dormiu umas quatorze horas seguidas, desde a hora em que voltamos da boate.

              Entro em alerta.

                        一Eu não fiz besteira ontem não, né?!

                        一Nada além do esperado 一se vira para se recostar no balcão de frente para mim. 一Foi legal ver que debaixo dessa pose séria, existe uma mulher extrovertida, alto astral e cheia de piadinhas 一sorri de canto.

            Esfrego os olhos em preocupação.

                        一Olha, se eu falei alguma coisa inapropriada, qualquer coisa...

                        一Se declarou pra mim três vezes 一me interrompe.

            Meus olhos se arregalam no mesmo momento e meus lábios se abrem prontos para soltarem algum argumento. Mas nada sai, até ela começar a rir.

Com amor, Emily - O fim é só o começo [2ª Temporada]Onde histórias criam vida. Descubra agora