Keep Fighting

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Condado de Ulster, New York. 2025.

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              31 de dezembro de 2025, último dia do ano.

              Dois meses se passaram e eu continuo no mesmo lugar, atenta a todas as novidades sobre o quadro clínico de Emily, que até agora não mudou muito. O Dr. Wellsbury, responsável por ela, nos explicou por alto o que de fato aconteceu. Achávamos que a cirurgia se trataria apenas da retirada da bala, mas foi bem além disso pelo tempo em que demoraram chegar no hospital 一por culpa do trânsito一 e por Woodstock ficar um pouco longe do hospital mais próximo. Apesar dos socorristas terem tentado estancar, Emily perdeu muito sangue, tanto que acabou sofrendo um choque hipovolêmico, ou seja, perdeu sangue o suficiente pra que o seu coração ficasse fraco demais pra continuar bombeando sangue e o oxigênio de seu cérebro faltasse, a causando um princípio de derrame. Ela teve que ser entubada às pressas e sedada ainda dentro da ambulância para a cirurgia arriscadíssima, que teria que ocorrer mesmo com essas circunstâncias, caso contrário, viria a óbito imediato.

             O doutor com anos de experiência profissional, preferiu tentar a sorte, emitindo uma solicitação formal de sangue do tipo O- para transfusão. Graças a Deus a encomenda chegou rápido, por mais que esse tipo seja considerado um pouco raro. O hospital de uma cidade vizinha fez contato avisando ter algumas bolsas de sangue reserva, e já que se tratava de uma emergência, cederam. Foi graças a essas bolsas que Emily pôde sobreviver a cirurgia e ser posta num CTI antes que o RH conseguisse mais sangue com outros possíveis doadores. Ela teve que esperar um dia inteiro até realizar sua segunda transfusão. Eu não me levantei da cadeira ao lado nem por um segundo.

             Agora, dois meses depois, recebemos atualizações. Atualizações assustadoras. O médico disse que nunca havia visto algo parecido e que era bem estranho a Emily não ter acordado depois de todas as cinco transfusões que fez. Sua pressão arterial e sinais vitais já haviam sido checados inúmeras vezes, mas algo no seu funcionamento cerebral não parecia certo e isso o preocupava. Os estagiários responsáveis ainda estavam tentando ter certeza do diagnóstico, mas já tinham uma ideia construída do que poderia estar acontecendo: a Emily possuía uma certa uma "anomalia" pelo fato de beber demais, só não sabia. O hipocampo 一área do cérebro onde são armazenadas as memórias一 apresentou diversas manchas brancas na ressonância, que representavam uma espécie de "curto-circuito", e com o trágico incidente, as coisas pioraram, ainda mais por causa do derrame. Em outras dolorosas palavras, ela poderia demorar muito mais tempo pra acordar, e quando acordasse, poderia demonstrar uma amnésia severa.

              Essa informação me destruiu. Tessa e Marshall tentaram conversar comigo, me acalmar mas não funcionou. Fugi de todo mundo na esperança de conseguir fugir de mim mesma, mas também não funcionou, então só chorei. Baixei a cabeça, tampei os olhos e chorei. Senti o peso de ter que aguentar os baques da vida cair nas minhas costas e quebrar a minha espinha. Não tive outra reação senão chorar. Precisei de umas boas horas sozinha pra entender que as coisas poderiam ter solução, mas não consegui fazer mais nada além de chorar, por isso, fui amparada até pelas enfermeiras.

              Nessa noite, pra todo lugar que olho, vejo o velho espírito festivo de virada de ano surgindo. Luzes, pessoas felizes e sorridentes, famílias reunidas e todas as coisas que não posso me dar ao luxo de ter nesse momento, pois a única coisa que tenho é esse quarto de hospital, que agora está mais colorido do que nunca com os buquês de flores recebidos. Cartões de visita, mensagens positivas, ursinhos de pelúcia e outras lembrancinhas lotando o espaço. Vários amigos desconhecidos por mim vieram visitá-la, além dos parentes curiosos, mas não demoraram nem quinze minutos. Kennedy reapareceu para vê-la em algumas ocasiões isoladas, mas logo teve que voltar correndo para os seus compromissos. No fim, restou só eu e a Grim. Tessa e Marshall infelizmente não puderam parar suas vidas. Tiveram que engolir a tristeza e a preocupação para prosseguirem e eu acho que conseguiram. Bom, parece que todos conseguem menos eu.

Com amor, Emily - O fim é só o começo [2ª Temporada]Onde histórias criam vida. Descubra agora