Therapy

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            Manhattan, New York. 2025.

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       Sala branca como um quarto de hospital. Vasos de porcelana em todos os cantos. Certificados emoldurados e pendurados nas paredes, e uma doutora com traços asiáticos sentada numa poltrona de frente para mim, com uma pequena comanda e caneta em mãos. Doutora Haysun, assim que ela é chamada profissionalmente. E deitada sobre o divã, encaro o teto, com minhas mãos atadas sobre a barriga.

      Ouço um suspiro cortar o silêncio.

                       一Está me dizendo que tem lembranças das quais não consegue explicar porque simplesmente nunca aconteceram? 一a terapeuta pergunta, eu assinto. 一Se não aconteceram, provavelmente não são lembranças. Pode se tratar apenas de uma peça que a sua mente está tentando pregar.

                       一Eu até concordaria, mas para isso, eu teria que ser vidente.
    
                       一Por quê?

        Pauso e bufo, ainda encarando o teto.

                       一Porque antes de eu conhecer uma certa pessoa, eu já tinha tido algumas lembranças ou sonhos estranhos com ela 一levo meu olhar à doutora. 一Como isso pode ser possível?

                       一Bom, 一se ajeita em seu assento. 一existem inúmeras explicações científicas para isso, tudo depende de como você cresceu, viveu e se desenvolveu. Costumava ter amigos quando criança?

                       一Nunca fui muito boa com pessoas.

                       一Costumava brincar sozinha, então?

                       一Mais ou menos... Eu tinha alguns colegas de vizinhança, mas ninguém que eu deixasse realmente entrar, entende? Sempre me senti melhor sozinha.

                       一Então, você se auto caracteriza como uma criança introvertida, certo?

                       一Eu não diria "introvertida", só... Um pouco antissocial.

                       一Até esse antissocialismo pode se dar por meio de traumas e outras situações ruins experienciadas. Consegue localizar alguma em específico aí no fundo da sua mente? Qualquer coisa, qualquer situação ruim da qual tenha passado ou presenciado?

                       一Na verdade, não me recordo de ter tido uma infância conturbada, bem pelo contrário.

                       一Algum ocorrido desagradável na escola? Bullying?

                       一Não que eu me lembre. Como eu disse, sempre fui muito na minha, não teria porquê implicarem comigo. 

       Vejo a mulher dar um longo suspiro, antes de posicionar a comanda e a caneta numa mesinha ao lado.

                       一Senhorita Sullivan, se quer mesmo que esse tratamento dê certo e achemos respostas, precisa ser totalmente clara e honesta.

                       一Eu tô sendo! Eu quero mais do que tudo descobrir o que está acontecendo comigo, por isso te procurei.

                       一Então, me diga; quem é essa pessoa nas suas supostas lembranças?

        Volto o olhar novamente para o teto, me concentrando por um segundo em todo o branco que vejo antes de responder:

                       一Minha nova assistente.

Com amor, Emily - O fim é só o começo [2ª Temporada]Onde histórias criam vida. Descubra agora