V for Vendetta

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Manhattan, New York. 2025.

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            Os literários mais ousados que já existiram, concordaram que a vida é uma grande piada regida por forças maiores e desconhecidas. Nos meus seminários, fui obrigada a estudar sobre todos eles, e cheguei à conclusão de que seus pontos de vista faziam muito sentido. Cada ação gera uma reação. Cada escolha nos leva a uma consequência correspondente. Como os mais velhos costumam pregar, não é possível plantar batata e colher alface, afinal, cada consequência é correspondente a sua escolha, e cada escolha tem um motivo em especial.

            Alguns filósofos dizem que quando a gente nasce, temos todo o nosso destino traçado, por mais que ele não seja do nosso conhecimento. E apesar do intelecto inicial limitado e de todas as barreiras que precisamos quebrar para alcançarmos a maturidade, o nosso gênio, a nossa índole, nosso caráter e personalidade são planejados assim que damos o primeiro suspiro de vida nesse mundo podre, e a partir desse padrão, somos designados a construir a nossa própria história com base em escolhas. Mas acho que devo ir contra essa hipótese, considerando que não escolhi estar onde estou agora. Não escolhi me apaixonar por uma mulher e acabar me tornando alvo fácil de um terrorista psicopata. Não escolhi ter todos os meus sentimentos e pensamentos mais profundos bagunçados da noite para o dia. Não escolhi perder a minha razão e consequentemente, toda a carreira que lutei para conquistar.

            Mas, sabe o que me aconteceu? Eu reencarnei de uma poetisa famosíssima que ainda me enlouquece ao buscar saber sobre. Vivi uma vida inteira me achando uma pessoa completamente normal, quando na verdade, não sou normal coisa nenhuma e já tenho todo um passado escrito. Quem que escolhe viver assim? Repetindo quase a mesma rota, as mesmas aventuras e a mesma gana de liberdade que depois de tantos anos não chega? Quem que escolhe ser um prisioneiro? Porque eu não escolhi, e mesmo assim tenho que viver numa retranca constante. A pergunta é; por que justo eu? O que me difere dos outros? Não existe filosofia que dê sentido a essa palhaçada.

             Depois de duas noites em claro, três botijas cheias de whisky, vários copos, taças e vasos quebrados, me deparo com a cena deprimente de mim mesma jogada no tapete da sala, remoendo coisas que sequer consigo compreender. Estou anestesiada, chocada demais para sentir algo. Não dou sinal de vida a ninguém e deve ser por isso que o meu celular não para de vibrar, mas também, a quem eu poderia dar satisfações? Se todos que me eram importantes, foram levados? Não tenho mais com que me importar. Não tenho mais a quem recorrer. Só ao profundo vácuo da minha mente. Fúnebre, não é? Eu sei. Nem sempre as nossas consequências são provenientes das nossas escolhas. Às vezes, as pessoas ao nosso redor têm bem mais poder sobre a nossa vida do que nós mesmos, e as decisões delas acabam por respingar nas nossas consequências. Acho que essa constatação é a que mais me abala nesse momento.

            Se eu pudesse evitar... Se eu pudesse evitar, será que eu teria evitado? Se eu pudesse pular o dia em que a conheci, se eu pudesse negá-la no New York Times, será que eu teria feito isso?

            Não se engane, Emily Sullivan. Você sabe que não.

Flashback:

                        一Suzy Adams, é um prazer!

           Retiro os meus óculos para apertar sua mão.

                        一Emily Sullivan. Sente-se, por favor.

             É exatamente o que a moça faz, colocando sua bolsa de lado e cruzando as pernas na cadeira a frente da minha mesa.

Com amor, Emily - O fim é só o começo [2ª Temporada]Onde histórias criam vida. Descubra agora