13. "Se cuida viu?"

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Clarisse estava seguindo para um ponto desconhecido da floresta.

O sátiro a sua frente ia desviando das raízes e das plantas rápido demais, o que fazia a garota tentar o acompanhar nesse ritmo e quase cair duas vezes.

-Hedge? -ele continuou andando. -HEDGE!

Ele parou de andar e se virou na direção dela. A filha de Ares estava ofegante, e isso o assustou um pouco, tendo em vista o treinamento pesado que ela fazia sem nem ficar cansada. Indicando que ele realmente tinha exagerado.

-Desculpe docinho, estava com pressa e nem pensei.

Ela se sentou em um tronco caído e tentou controlar a respiração fazendo uma nota mental: nunca mais tentar seguir um sátiro na floresta.

-O que quer falar comigo?

-Vou ter que ir buscar uns semideuses em uma escola, são só dois. -ele disse se sentando ao seu lado.

-Só não morre tá? -ele a abraçou de lado. Gostava da menina como se fosse sua filha, ele mesmo a levou pro acampamento.

Alguma coisa chamou atenção de Hedge no meio dos rasgos da calça da menina.

-O que é isso na sua perna? -disse apontando para sua coxa.

A garota sorriu ao se lembrar do momento em que fez aquilo.

Era uma da manhã quando a garota acordou com um vento gelado em suas pernas, ao procurar a coberta acabou se mexendo demais e acordou o namorado.

-Desculpa ter te acordado, pode voltar a dormir amor. -disse acariciando seu rosto.

-Eu já te disse como eu fico feliz quando você de chama de amor? -falou sorrindo e a abraçando.

A garota sorriu envergonhada e desviou o olhar. Pegou a coberta e cobriu os dois, ao se deitar em seu peito sentiu como sua pele estava fria.

-Você não ta com frio? -disse preocupada.

-Um pouco, mas tá tão gostoso aqui deitado com você.

Riu com a resposta do namorado e se separou dele brevemente para pegar uma blusa em cima do baú na frente da cama, o entregando em seguida.

-Não sou filha de Apolo e não tem nenhum deles no acampamento, não vou cuidar de você doente.

Se sentou e vestiu a blusa, ao observar sua namorada viu várias cicatrizes em sua coxa, como se um animal a tivesse arranhado.

-O que fez isso em você? -disse apontando para suas pernas.

-A-ah, um monstro perto da minha casa. Tinha ido pra casa da minha vó e ele me atacou. -parecia nervosa ao responder. Como se tivesse pensado numa desculpa rapidamente.

O garoto pensou por um tempo, e se levantou indo até a escrivaninha abandonada no canto do chalé e pegando uma caneta preta.

-Qual sua casa de Hogwarts? -disse destampando a caneta e se sentando na sua frente.

-Ahn?

-Nunca viu Harry Potter?

-Sim, mas por que isso agora?

-Quero desenhar em você, me pareceu que você não gosta muito dessas cicatrizes na sua perna então eu vou cobrir. Eu sei que sou a própria encarnação do Picasso mas preciso saber o que desenhar.

Clarisse riu com o comentário do namorado, mas não pôde deixar de sentir seu coração amolecer. Ele tinha percebido que ela não estava bem. Mesmo tentando ao máximo disfarçar.

-Sonserina. E a sua?

-Nunca me decidi, fiz o teste oficial mas não me convenci do resultado.

Ele pegou sua perna delicadamente e a colocou em cima das suas, afastando sua blusa para abrir espaço. Começando a desenhar uma cobra lentamente.

A guerreira corou com o contato, rezando pro garoto não perceber. Suas mãos frias a arrepiavam, e com o tempo foram esquentando devido ao contato com a coxa da garota.

Quando o garoto terminou apertou levemente a região, em seguida se levantando e guardando a caneta.

Sorriu observando o desenho de cobra cobrindo suas cicatrizes, talvez nunca teria coragem de contar pra alguém como as conseguiu, nem o motivo de ter as ganhado.

-Não sabia que desenhava.

-Eu tento, gostou? -se deitou ao seu lado observando ela se deitar em seguida.

-Uhum, obrigada.

Voltando para sua conversa com Hedge, cobriu rapidamente suas pernas com sua blusa.

-Chris fez em mim.

Ouviu o sátiro soltar um grunhido irritado, ele estava com ciúmes dela?

-Vou indo, se cuida viu? -ela assentiu e ele beijou o topo de sua cabeça de forma protetora.

***
C

larisse estava arrumando sua cama, que misteriosamente estava bagunçada. Mesmo tendo dormido no chalé 11.

-Clarisse! Irmãzinha linda do meu coração como você está? -Nick disse entrando e indo na sua direção.

-Foi você que bagunçou minha cama não é? -se virou com a cara fechada.

-Você acha mesmo que eu iria transar com a Aurora na sua cama e deixar ela bagunçada?

-O que você acha? -cruzou os braços.

-Se eu tivesse feito isso, e eu não fiz, eu teria arrumado sua cama. E além do mais, ela tá em Manhattan.

Clarisse não continuou essa discussão, sabia que iria ser culpada por eles não estarem lá.

Foi até o banheiro e ligou a torneira da banheira, tirou sua roupa lentamente enquanto esperava encher. Quando estava só de lingerie se olhou no espelho e viu algumas marcas nos seus quadris.

Chris nunca a observava por muito tempo. E talvez ela soubesse o motivo. O que ele iria querer no seu corpo.

Não era magra, com certeza não era. Tinha cicatrizes até demais. Algumas cicatrizes era muito grandes, tinha uma indo da cintura até acima do joelho.

Para ela, seus seios eram desproporcionais. Mesmo com uma faixa ou um top apertando, eram grandes.

A realidade era que odiava o seu corpo. Não conseguia olhar direito para o seu rosto, principalmente depois de ter seu cabelo todo ferrado no labirinto.

Depois de tirar sua lingerie e entrar na banheira, olhou o desenho de cobra que estava cobrindo suas cicatrizes. Aquele garoto era um anjo.

Tinha errado em muitas coisas na sua vida, principalmente em ter tentado uma relação saudável com a sua mãe. Mas uma coisa ela tinha certeza que tinha feito certo, resgatar Chris e ajudá-lo.

O garoto a ajudava muito, mesmo não sabendo.

Era carinhoso, sabia a hora certa de a fazer rir. Parecia que eles não precisavam conversar mais nada, entendiam o sentimento um do outro sem nenhuma palavra ser dita.

Ela o amava por isso.

Talvez eu tenha descontado algumas coisas escrevendo esse capítulo mas espero que tenham gostado.

"She fell for the traitor..."Onde histórias criam vida. Descubra agora