22. "O que ela quer agora?"...

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-Senhorita La Rue?

Clarisse se recuperava aos poucos do estado paralisado que estava há alguns minutos, desde que viu aquela carta.

Sua mãe havia entrado em contato, após semanas desde a última vez que se viram.

Olhou para o mestre centauro a sua frente, e após um longo suspiro disse:

-O que ela quer agora?

-Querida é melhor se sent...-disse indicando a sala, mas foi interrompido pela garota.

-Eu não quero sentar, o que ela quer? -disse impaciente.

Quíron respirou fundo antes de começar, sabia que não seria fácil ter essa conversa com ela. Conhecia a garota e sabia da relação conturbada das duas.

Lembrava com clareza do dia em que todos os seus irmãos receberam cartas de seus parentes, menos ela. O que a fez ir até a Casa Grande perguntar se tinha alguma coisa para ela. Seu olhar de tristeza ao ver que não tinha nada, o quebrava sempre que se lembrava do ocorrido.

-Sua mãe me mandou uma carta esses dias. -começou devagar. -Disse que viu na televisão que houve uma grande destruição em Manhattan, e perguntou se tinha acontecido alguma coisa.

Clarisse sentiu uma onda de tontura a atingir de repente. E piscou algumas vezes na tentativa de se manter de pé.

-E você respondeu ela?

-Sim, mas apenas disse que houveram alguns ataques que já tinham se resolvido.

Mais uma onda de tontura a atingiu, dessa vez ela quase caiu para trás. O centauro percebeu que algo estava estranho com ela, que ela estava meio pálida e um pouco aérea.

-Querida? Esta tudo bem? -se aproximou com a expressão preocupada.

-Sim, sim. -mentiu. -Pode continuar.

Quíron hesitou por um instante. Não era burro, sabia que a menina não estava bem. O que o fez pensar se deveria continuar com a conversa.

-Tem certeza?

-Uhum. -disse tentando se manter de pé.

Infelizmente ela era uma cópia do pai, uma cópia perfeita até demais. Não assumiria que não estava passando bem.

-Bom, o que eu queria te falar é que... -suspirou.- Eu estive conversando com sua mãe e acho que vai ser bom pra você, passar uns dias com ela.

O choque foi tão grande que ela não aguentou. Sua última lembrança, era a de Quíron correndo para a segurar.

***

Piscou algumas vezes antes de abrir os olhos completamente. Ao olhar em volta, viu que estava na sala da Casa Grande. Se sentou e pôde ver pela janela, que era cedo. Tinha passado a noite lá.

-Bom dia, Clarisse.

Quíron entrou na sala com uma bandeja com café da manhã. A colocou na mesinha a sua frente antes de ir para sua cadeira de rodas.

-O que aconteceu? -disse se arrumando no sofá.

-Ontem quando estávamos conversando, você desmaiou e eu te trouxe pra cá.

Clarisse no mesmo instante lembrou qual era o assunto, o que a fez ficar com dor de cabeça.

-Come um pouco. -o centauro disse apontando para a comida.

-Não estou com fome. -disse se levantando.

-Se você continuar sem se alimentar, vai desmaiar antes que possa chegar no seu chalé. -ela se sentou de novo.

Ela observou a comida. Tinha algumas frutas, ovos e bacon, e um copo de suco de laranja.

Relutantemente, levou suas mãos até o copo o levando até sua boca, tomando um gole do líquido. Após isso, colocou o copo no lugar e tentou comer um pouco dos ovos. Colocou um pedaço no garfo, mas não tinha forças para levá-lo até sua boca.

Seus olhos marejaram. Não tinha forças nem para levantar um simples garfo, e sua garganta se recusava a engolir qualquer coisa sólida.

Colocou o garfo apoiado no prato branco e limpou uma lágrima que havia rolado por seu rosto.

Não conseguia comer, seu estômago se recusava a receber qualquer tipo de alimento desde o acontecido.

Quíron se aproximou um pouco, estendendo sua mão para a garota, numa tentativa de a confortar. Clarisse a segurou enquanto algumas lágrimas rolavam por seu rosto.

-Eu sei que é difícil, mas você precisa tentar. -com a mão livre, pegou o garfo que estava no prato. -Vai devagar.

A garota pegou o talher de sua mão e o levou até a boca, começando a mastigar o alimento. O engolindo logo depois com dificuldade.

O resto da manhã se seguiu assim, o mestre centauro a esperando pacientemente comer toda a comida, enquanto a confortava.

Enquanto comia, Clarisse pensava nas últimas palavras de Quíron antes de desmaiar.

"Eu estive conversando com sua mãe e acho que vai ser bom pra você, passar uns dias com ela. "

Como ele achava que isso seria bom? Ele sabia de tudo que havia acontecido entre elas desde que chegou no acampamento, sabia do seu sofrimento.

Ao ver o centauro ir até a cozinha com a bandeja vazia, se levantou e começou a andar pela sala.

Pensamentos invadiam sua cabeça, com todas as possibilidades para isso tudo dar errado. Como iria aparecer lá e fingir que tudo estava bem?

Qualquer briga que tivessem, não aguentaria. Qualquer coisa a faria desistir de tudo.

Não percebeu que estava andando tanto até ouvir o mestre centauro a chamar.

-Clarisse? -a olhava preocupado, e ao passar a mão no rosto percebeu que havia deixado algumas lágrimas escaparem.

O observou voltar a sua cadeira de rodas calmamente, e indicar o sofá a dua frente para que sentasse.

Andou lentamente até o sofá e se sentou olhando fixamente para a mesa de centro, enquanto tentava organizar seus pensamentos.

-Por que você acha que seria bom pra mim, ir pra casa da minha mãe? -finalmente o encarou.

Quíron hesitou por uns instantes, antes de a responder.

-Eu sei muito bem tudo que aconteceu entre vocês, tudo que ela fez mas... -Clarisse o interrompeu, com um semblante irritado.

-Mas ainda acha que é "bom" pra mim. -disse ironicamente.

-Querida, aqui no acampamento você vai ter muitas lembranças da Silena. Se continuar aqui não vai melhorar, você sabe disso.

-E eu ir ver uma pessoa que me fez mal a minha vida toda vai me ajudar? -limpou mais uma lágrima. -Eu não quero ir.

O deus se aproximou mais com sua cadeira de rodas até parar do seu lado.

-Pelo menos tenta, esse tempo longe do acampamento vai fazer bem pra você. E qualquer coisa, se você achar que não aguenta, me liga que eu vou imediatamente te buscar. -a entregou um papel com um número.

Segurou o papel em seus dedos, o analisando. E se ela fosse? Seria tão ruim? Qualquer coisa ela iria para a casa da avó.

-Promete?

-Juro pelo rio Estige. -sorriu carinhosamente.

Quem é vivo sempre aparece né? Ai gente nessas férias minha criatividade tá no buraco, espero que o capítulo não esteja tão ruim assim.

Amo vocês, obrigada por estarem aqui sempre.

"She fell for the traitor..."Onde histórias criam vida. Descubra agora